Arsenal confunde-se com Arsène Wenger e vice-versa. Foram 22 anos assim, com a mesma rotina. A constante evolução da humanidade foi trazendo novas tecnologias, novos meios de transporte, novos descobrimentos científicos e futebolísticos. Desde 1996 até 2018, o Mundo avançou, recuou, testemunhou tragédias, acontecimentos históricos e outros tantos simbólicos. Mas, a norte de Londres, pouco mudou durante esse período de tempo à exceção da mudança de casa, de Highbury para Holloway. Talvez seja por isso que ninguém, ou muito poucos, se recordem dos antecessores, sobretudo os mais novos ou aqueles que nasceram perto do virar do século.
Stewart Houston e Bruce Rioch. Dois escoceses que passaram – tirando, provavelmente, o segundo – sem grande alarido pelo comando técnico antes do francês. Muito, muito antes, entre os anos 20 e 30, um gentleman de seu nome Herbert Chapman guiou os destinos do clube. O inventor do «WM», a tática que revolucionou o futebol e que abriu horizontes para o estudo aprofundado do maior desporto do universo. Esse, sim. O que conquistou Huddersfield e cometeu a mesma proeza em Londres.
Saiu para o Manchester United, terminou a carreira, deu início a uma nova etapa e, em maio de 1986, regressou na pele de treinador. O resto… Bem, não faz muito sentido completar esta famosa expressão, pelo menos para já. Mas a verdade é que Graham transformou por completo o Arsenal Football Club.
Stroller, como era conhecido nos tempos de futebolista pela forma relaxada como dominava o meio-campo, deixou de o ser no momento em que passou a estar do outro lado da barricada. Graham o jogador, Graham o treinador. Duas personalidades distintas que levaram o Arsenal ao topo. Lançou uma talentosa geração de futebolistas às feras, como David Rocastle, Michael Thomas, contratou Lee Dixon, Nigel Winterburn e Steve Bould e tornou capitão uma das maiores lendas do clube: o icónico Tony Adams.
Graham revitalizou um Arsenal sedento de títulos. Taticamente evoluído, montou uma linha defensiva implacável e tocou o céu tanto a nível interno como a nível externo: dois campeonatos, uma Taça de Inglaterra, duas Taças da Liga, uma Supertaça e uma velhinha Taça das Taças.
Foram nove anos. Nove anos de sucesso em Highbury até um despedimento insólito e, no mínimo, polémico. A 21 de fevereiro de 1995, dez meses após o incrível sucesso europeu – vitória diante do Parma por 1x0 com um golaço de Alan Smith –, Graham acabou despedido. Não devido à fase menos fulgurante do Arsenal, mas sim… por suborno.
The unsolicited gifts
Os rumores começaram a surgir, a imprensa alimentou-os e a Football Association, entidade reguladora do futebol inglês, deu início a uma investigação. Rebentou um escândalo de tamanhas proporções que a reputação de George Graham nunca mais foi a mesma. Nem a sua carreira como treinador. O caso remonta ao ano de 1992 e à contratação de dois futebolistas nórdicos, John Jensen e Pal Lydersen. Graham aceitou um pagamento ilegal no valor de 400 mil libras [hoje equivalente a cerca de 460 mil euros] por parte de Rune Hauge, empresário dos dois, para dar o seu aval ao negócio.
«Presentes não solicitados». Foi a justificação dada pelo escocês, único culpado do processo, durante a acusação. A palavra «suborno» nunca saiu da sua boca, mas a punição da FA foi clara: afastamento de qualquer atividade relacionada com o futebol durante um ano.
Esta é a história de George Graham, o ilustre antecessor de Arsène Wenger. A partir de 1996/97... Ora, certamente que sabe o que aconteceu.