Mais do que ser selecionador, Fernando Santos é também coordenador de todo um projeto da Federação Portuguesa de Futebol que visa reformular os quadros competitivos das camadas jovens e avaliar o desempenho das equipas B com o propósito de encontrar a melhor maneira da seleção portuguesa ser alimentada.
Em entrevista à TSF, o selecionador nacional falou sobre esse trabalho e prometeu novidades para o final deste mês.
«Há da parte da Federação Portuguesa de Futebol uma vontade de alterar os quadros competitivos ao nível da formação. Além disso, este ano acaba o ciclo de três anos das equipas B e as equipas dirão se querem continuar com elas ou não. Esse é um assunto muito importante para a federação. Os estudos apontam para que a taxa de utilização de jogadores selecionáveis nas equipas B ainda não estão ao nível do que queremos, mas já se está a aproximar dos níveis de Espanha e da Alemanha. Esta questão é importante porque nestes anos em que apareceram as equipas B há jogadores que se perdem. É um campo onde vamos tentar e vamos apresentar as nossas propostas em tempo útil, que será este mês, no sentido de dar um jeito às equipas B, eventualmente alargando a hipótese de haver mais, de modo a podermos dar-lhes condições de utilizar jogadores mais jovens para nós podermos aproveitar isso», afirmou Fernando Santos, garantindo que os atletas que estão no estrangeiro também não estão esquecidos.
«Temos um quadro muito claro de como as coisas têm acontecido: o tempo de utilização dos jogadores, onde eles estão e como se pode melhorar. Desde o último jogo até ao final de janeiro estamos focados neste aspeto. Eu e os meus adjuntos estivemos a ver algumas equipas B e formações da Segunda Liga, assim como a vasta comunidade que está no estrangeiro. A partir de fevereiro vamos voltar um pouco à matéria de ver quem vai estar na equipa nacional em março. No fundo, estamos a tentar conseguir encontrar um padrão para que nos próximos oito anos haja jogadores preparados para jogar na seleção nacional», acrescentou na entrevista à TSF.
No seguimento das medidas que deverão ser propostas e de como elas podem beneficiar a seleção principal, Fernando Santos fez um balanço da transição de alguns atletas provenientes dos sub-21 e revelou o entendimento que tem com Rui Jorge na hora de convocar algum futebolista que seja habitualmente opção na equipa de esperanças.
«Não me podem pedir mais aproveitamento em relação aos jogadores dos sub-21. Na equipa principal já estão cinco ou seis. Por um lado dizem que desfalco os sub-21 e depois pedem aproveitamento (risos). O Rui [Jorge] sabe que o foco dele é alimentar a seleção principal. Quando eu tiver a convicção de que um jogador dos sub-21 tem 50 por cento de hipótese de jogar, então vou chamá-lo e o Rui que me perdoe. Se assim não for, então não o convoco porque também é importante continuar nos sub-21», disse, anunciando que espera uma boa prestação de Portugal no Campeonato da Europa deste ano.
«Espero tudo dos sub-21 porque fizeram uma campanha fantástica, mas não podemos criar à equipa nenhuma obrigatoriedade. Eles estão convencidos que podem chegar ao êxito e o êxito são os títulos. Acredito que eles podem ganhar e que também vão conseguir garantir o apuramento para os Jogos Olímpicos. Vão lutar por isso certamente».
O potencial de André André, a ausência de André Almeida e a opção por Bosingwa
André André tem estado em destaque esta temporada ao serviço do Vitória de Guimarães, mas ainda não lhe foi dada uma oportunidade na seleção portuguesa. Fernando Santos garante que está atento e reconhece-lhe potencial, porém lembra as opções que tem para o meio campo.
«Tenho uma lista de quatro jogadores para cada lugar e depois tenho uma segunda lista com três jogadores também para cada posição. O André André e o Bruno Fernandes estão lá. Vamos lá ver uma coisa, não podemos acompanhar 500 jogadores. É impossível. Estamos sempre atentos, mas numa primeira análise o que fizemos quando chegámos foi criar um núcleo de jogadores selecionáveis. Depois há os casos dos jogadores que observamos e que podem entrar diretamente, como foi o que aconteceu com o Raphael Guerreiro», introduziu o selecionador, passando a especificar o caso de André André.
«Acredito muito no André André. Acho que tem muito potencial, muito potencial...Mas o Tiago também tem, o João Moutinho também...e a questão é essa. Quando se faz uma análise isolada é sempre mais fácil. Eu percebo muito bem porque já estive de fora e também fiz esse tipo de análise. Mas quando pomos nomes em cima da mesa vemos que temos o André Gomes, o Moutinho, o Tiago, o William, o João Mário...Estão neste lote oito, nove, dez jogadores e depois vamos escolher em função daquilo que podem trazer ao jogo. Há também os casos do Manuel Fernandes e do Raul Meireles que ainda não vieram. Mas temos que procurar jogadores diferentes. Se tivermos três médios com as mesmas características em grande forma, não podemos trazer os três», explicou, falando também do facto de André Almeida ainda não ter estado entre as opções.
«Não é prejudicial ser polivalente, mas nem sempre é benéfico. Até à última convocatória da seleção nacional, o André Almeida não jogava no Benfica. O André Almeida começa a jogar com regularidade já depois da última convocatória e para mim a primeira premissa é que um jogador deve ter regularidade competitiva. Pode haver exceções. Se um dia o Cristiano Ronaldo não estiver a jogar constantemente, é claro que o vou chamar na mesma. Há sempre alguma exceção que confirma as regras. A segunda premissa é ser um jogador de raiz da posição e a terceira é a adaptação, que é a última. A questão é essa porque gosto muito do André Almeida. Se amanhã o Maxi Pereira for embora e ele passar a jogar como lateral-direito do Benfica de forma regular é claro que pode ser chamado. Ele nesta altura pode ser chamado, está a jogar a lateral-esquerdo, mas perante as opções que tenho...», disse, explicando ainda o porquê de nos últimos jogos ter optado pela titularidade de Bosingwa em detrimento de Cédric Soares.
«Entendia que a seleção nacional precisava de algum equilíbrio nas laterais e coloquei o Bosingwa porque durante os treinos ele mostrou dar alguma acalmia. Durante a semana estive indeciso em relação a quem iria jogar, mas não foi por estar insatisfeito que o Cédric não jogou, antes pelo contrário».
«Modelo que quero é o que exige mais treino»
Quando sucedeu no cargo de selecionador a Paulo Bento, antecessor com quem diz ter uma grande relação de amizade há muitos anos, Fernando Santos apostou numa mudança no figurino tático e consequentemente na forma de jogar da equipa.
O selecionador nacional está consciente das dificuldades que existem para conseguir implementar o modelo que pretende, mas acredita ser o melhor para potenciar as características que atualmente tem à disposição na seleção nacional.
«Este modelo é o que exige mais treino e isso é o que mais me falta. Por isso procurei jogadores que estão mais habituados às posições em que os coloquei. É um modelo que precisa de muito trabalho, mas as características do jogador português e concretamente daqueles que tenho disponíveis apontam para uma solução deste tipo. As outras ideias de jogo são mais fáceis. São rotineiras, simples, em que cada um joga na sua posição», explicou o responsável pela turma das quinas, garantindo que é legítimo Portugal pensar na conquista do título no Euro 2016.
«Estes jogadores, uns mais do que outros, estão num momento em que estão ansiosos por poder ter um título ao nível da seleção nacional e por isso acredito que é sempre possível. Não é uma tarefa fácil, mas não é impossível. Os Campeonatos da Europa são mais difíceis do que os Campeonatos do Mundo porque a fase final é mais curta, mas esta seleção tem qualidade e muita vontade. Depois é preciso alguma sorte, mas se fizermos bem as coisas pode ser possível», analisou.
«Se o castigo se mantiver teremos que pensar»
Na próxima sexta-feira o Tribunal Arbitral do Desporto dá uma resposta ao recurso apresentado por Fernando Santos em relação ao castigo de oito jogos imposto pela FIFA após ter sido expulso no Campeonato do Mundo ainda ao serviço da Grécia. O selecionador acredita que a pena será reduzida, mas se não for admite que é preciso haver reflexão.
«Se as coisas correrem mal não é muito agradável. Se a suspensão acontecer teremos que pensar. Acredito que isso não vai acontecer, que vai haver uma redução do castigo, mas tomaremos sempre a melhor opção para a equipa nacional. Não coloca em causa a continuidade, penso que para o presidente também não, mas perante um cenário de castigo de oito jogos deveríamos ter um momento para pensar», disse, garantindo que não há qualquer cláusula no seu contrato em relação à possibilidade do castigo manter-se.
«Cristiano Ronaldo é um génio»
A Bola de Ouro também foi um assunto abordado por Fernando Santos. No entender do selecionador nacional, não há dúvidas de que terá que ser Cristiano Ronaldo a conquistar o prémio de melhor jogador do mundo.
«Atualmente o Cristiano Ronaldo é o melhor jogador do mundo e espero que na próxima segunda-feira a Bola de Ouro lhe seja entregue», afirmou, dizendo ainda que é impossível comparar figuras lendários do futebol.
«Os génios são incomparáveis e o Cristiano é um génio. Não me venham dizer que há um melhor que ele porque para mim não há. Da mesma forma que para mim não há nenhum melhor que o Eusébio ou que o Pelé».