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Lopes Tavares FC foi obrigado a uma transformação

Athletic Newham, a equipa lusa de Inglaterra que se inspira no... Atlético de Madrid

2024/12/11 15:09
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A Inglaterra acolhe muitos emblemas com histórias ricas e magnânimas no desporto-rei. Manchester United, Arsenal e Liverpool são alguns dos exemplos associados a um poderio acrescido, a um palmarés recheado, que tende certamente a aumentar com o andar da carruagem. Inúmeras equipas ambicionam o respetivo pedestal, já outras sonham, numa primeira instância, com o rótulo de 'equipa profissional'.

Fundado em 2015, o Athletic Newham foi formado sob o dedo de um português. Apesar do pouco tempo de existência, a equipa britânica tem vindo a escalar divisões a uma velocidade alucinante. Entre múltiplas transformações ao longo dos anos, houve algo que não se alterou: a identidade própria da instituição. O conjunto continua a ser um abrigo para atletas com os origens lusas. Uma autêntica plataforma de lançamento para jogadores que querem chegar longe no competitivo paradigma.

Lopes Tavares FC: um propósito, uma conceção

Ulisses Lopes Tavares. Um simples homem que, tal como tantos outros, decidiu fazer as malas e rumar a outro lugar. No aeroporto, Lisboa marcava o local da partida. Já Inglaterra, Londres mais concretamente, era o destino patente no quadro de voos. Quando estabilizou em terras britânicas, o nosso protagonista tinha já uma ideia estruturada em mente: criar um clube de futebol.

«Quando cá cheguei vindo de Portugal, eu, como trabalho como agente, tive a necessidade de formar este emblema para conceder uma montra para os meus jogadores se mostrarem. Ao mesmo tempo, queria que ele começassem a ganhar pedalada no futebol inglês. Como tal, eu inseri o meu sobrenome, o meu traço pessoal, no nome da instituição», referiu, numa primeira instância, Ulisses.

A equipa do Lopes Tavares FC recebe indicações @Athletic Newham/Instagram

«Em termos burocráticos, criar um clube na Inglaterra é muito mais fácil do que em Portugal. O processo foi bastante rápido. O problema é conseguir arranjar um espaço próprio para jogar e formar o corpo social da instituição. No entanto, foi algo que eu consegui, fruto da ajuda de vários portugueses que vivem em Londres. Eu acabei por ser o presidente, o meu irmão foi o secretário, depois arranjamos um tesoureiro, e por aí fora, até preenchermos uma série de requisitos que nos foram propostos», acrescentou.

Esta clara vontade em dar palco aos seus agenciados levou à criação do Lopes Tavares FC, em 2015. Sem dúvida, um nome que pauta pela estranheza, mas que rapidamente gera curiosidade sobre a história e as origens da organização. A verdade é o paradigma inglês é bastante preenchido, formado por múltiplas divisões que antecedem a realidade do futebol profissional.

As atuações em campeonatos de nível inferior @Andy Wilkins Photography

Como tal, o respetivo conjunto começou a dar os primeiros passos em Campeonatos Distritais, com os jogos a serem realizados num parquezinho, todos os sábados. Contudo, a equipa mais portuguesa de Inglaterra foi escalando divisões com uma certa regularidade, através de um excelente modelo de gestão. No entanto, Anderson Baró, a principal referência da turma londrina ao longo dos anos, destacou outro condimento para o sucesso coletivo.

«Quando cheguei ao clube, não estávamos no nível mais alto. As pessoas não acreditavam em nós. Contudo, o que nos distinguia das outras equipas era o nosso espírito de união. Nós sempre fomos uma autêntica família. Sempre nos preocupamos muito com o bem-estar de todos os elementos. Esta forma de estar, dentro e fora do campo, tem sido o segredo por detrás dos bons resultados», referiu o atleta de 25 anos, que tem um percurso futebolístico deveras peculiar.

«Eles ensinaram-me a voltar a apaixonar pelo futebol, sou muito grato»

Baró, depois de uma curta passagem no Atlético Povoense, foi atrás do sonho nas camadas jovens do Sporting. O avançado teve a oportunidade de crescer ao lado de vários nomes célebres do futebol português, como Thierry Correia, Daniel Bragança. Rúben Vinagre ou Elves Baldé. Contudo, o colega que mais se destacava neste núcleo não causa estranheza.

«O Rafael Leão estava num patamar mais avançado comparativamente com todos os outros. Já estava à espera que chegasse bastante longe. Na altura, já era dono de uma grande velocidade e tinha muitos argumentos técnicos. Era sempre muito difícil para as outras equipas travá-lo», garantiu.

Anderson Baró recebeu o troféu de melhor jogador do clube em 2021/22 @Athletic Newham

Todavia, depois de não conseguir afirmar-se na turma leonina, seguiu para o Sacavenense, a sua última paragem em solo luso. Com 17 anos, o jovem Anderson partiu, juntamente com a sua família, para o Reino Unido, à procura de uma vida melhor. Era necessário encontrar um novo refúgio numa zona desconhecida e, tal como se previa, a tarefa acabou por não ser fácil: «Tinha o desejo de jogar por mais tempo, mas não sabia para onde ir. Numa primeira fase, fui treinar nos sub-23 do Charlton Athletic. Depois, tentei a minha sorte na academia do West Ham. Eram contextos muito fechados para eu conseguir entrar. Comecei a desistir da ideia de jogar futebol.»

No entanto, quando menos esperava, uma pessoa estendeu-lhe a mão: «Um amigo meu convidou-me para ir ao Lopes Tavares FC fazer um treino. Ele era agenciado pelo próprio Ulisses. Eu não o conhecia de lado nenhum, nunca tinha falado com ele. Contudo, depois da sessão, ele disse 'gosto de ti, da tua forma de estar'. A partir daí, a nossa relação cresceu e eu acompanhei-o nesta aventura.»

«Ele deu-me um cantinho para eu demonstrar a minha qualidade. É mesmo uma pessoa que eu admiro muito. Aliás, eu não consigo expressar a minha gratidão por tudo aquilo que os donos do clube fizeram por mim. Eles ensinaram-me a voltar a apaixonar pelo futebol. Mesmo em termos financeiros, eles sempre mostraram preocupação, sobretudo no início quando tive várias dificuldades para me sustentar. Auxiliaram-me na procura por uma casa, que aqui é muito difícil de encontrar a um preço razoável», referiu ainda.

Richard Koné, do pátio para a League One

Não é só através de obras do acaso que os jogadores garantem o seu espaço na equipa amadora, especialmente com a evolução drástica do plantel ao longo dos anos. A larga base de dados do zerozero acaba por ter mesmo um papel importante na política de contratações. Segundo Ulisses Tavares, os futebolistas que estiverem interessados em entrar no empolgante barco têm que enviar o link dos seu perfis presentes no site, de forma a que o dirigentes e treinadores consigam analisar as respetivas trajetórias individuais.

«Como nós conhecemos bem a realidade do futebol português, temos a perfeita noção do que significa jogar nos diferentes contextos, as dificuldades de atuar no Campeonato de Portugal ou no Campeonato de Elite do Porto. Se ficarmos agradados com o percurso do jogador X ou Y, inserimo-lo no projeto. Ensinamos várias estratégias aos atletas que vêm de fora para que se adaptem rapidamente a este contexto», salientou.

Contudo, há uma solução alternativa: «Se acharmos que os futebolistas ainda não têm o porte físico desejado, nós tentamos colocá-los noutros países para crescerem. A Turquia, por exemplo, é um dos destinos mais interessantes. Estes locais são pensados ao pormenor para cada jogador, conforme as suas habilidades e mais-valias.»

Nos casos contrários, onde os jogadores demonstram as condições adequadas para se fixarem noutros patamares mais elevados, os responsáveis pelo emblema londrino entram diretamente em contacto com as formações profissionais, de forma a garantirem uma oportunidade aos seus pupilos de mostrarem o seu valor em ambientes mais exigentes. Segundo o fundador, outras vezes são os próprios diretores desportivos dos clubes que procuram falar com os dirigentes por chamada telefónica, após certos olheiros terem ficado agradados com alguma peça em específico. 

Richard Koné, atualmente ao serviço do Wycombe Wanderers, é um dos principais casos de sucesso do modelo implementado pelo clube luso: «É, aos dias de hoje, um dos melhores avançados da EFL League One, depois de ter estado quase quatro épocas e meia connosco. Encontrámos o menino no pátio e ele cresceu ao nosso lado. Ele deve assinar já em janeiro por um emblema da Premier League, porque está a fazer muitos golos». 12 tentos em 26 jogos disputados, à data deste artigo. Números promissores para um ponta de lança com apenas 21 anos. 

Lopes Tavares FC: uma renovação sustentável

A ascensão meteórica do Lopes Tavares FC trouxe bastante contentamento aos envolvidos, mas também muitas preocupações consequentes. As subidas de divisão foram acompanhadas, simultaneamente, por um aumento de requisitos impostos pelo organismo que rege o futebol em Inglaterra. Em 2021, com a sustentabilidade do projeto em risco fruto de exigências infraestruturais, eis que surgiu uma solução milagrosa.

«A Câmara de East London concedeu-nos um espaço para jogar em Newham, uma pequena região de Londres. Um recinto com ginásio, parque de estacionamento, campos sintéticos... instalações de topo para a nossa realidade. Existiu então a necessidade de trocar o nome do clube», referiu Ulisses. Contudo, o processo para a escolha da denominação exigiu uma criatividade superlativa, aliada a um lado mais afetivo.

Equipamentos do Athletic Newham inspiraram-se no Atlético de Madrid @Athletic Newham

«'Athletic', porque há uma união entre o campo e a pista de atletismo. Para além disso, já existia o Newham FC. Era para ser Newham Athletic, mas depois invertemos a ordem para ter algumas semelhanças com o nome do Atlético de Madrid, já que uma boa parte da família é adepta do clube. O meu irmão [Ricardo Tavares, o atual presidente do clube] jogou lá, na formação. Por causa disso, fizemos um símbolo e camisolas parecidas com a dos colchoneros», acrescentou.

O Athletic Newham disputa agora a Essex Senior League, o nono degrau da pirâmide inglesa. Todavia, apesar do clube ainda ter um longo caminho a percorrer até ao topo, a concretização de um sonho pode estar mesmo ao virar da equina, pelas portas da Taça de Inglaterra (FA Cup). A temporada atual correspondeu à primeira participação dos kings na prestigiante prova.

Na fase de qualificação, os underdogs eliminaram o Chipstead e o Lancing, mas acabaram por cair perante o Amersham Town, na primeira pré-eliminatória. Anderson Baró acredita que futuramente a equipa vai ter mais argumentos para queimar etapas, com os olhos vidrados no desafio de enfrentar um colosso, ao melhor estilo 'David contra Golias'.

«Seria uma conquista enorme para toda a gente. Merecemos um milagre destes. Quem sabe para o ano, se continuarmos nesta curva ascendente. A verdade é que aqui as equipas mais pequenas estão sempre a criar constrangimentos às maiores, os chamados upsets. A nossa prestação mostrou que também podemos fazê-lo, se estivermos num dia mais inspirado», enalteceu.

«Vamos sempre abraçar a nossa cultura, sou um apreciador do futebol português»

Todavia, para além do campeonato, há ainda um torneio importante em disputa: «Na London Senior Cup, calhou-nos uma equipa da sexta divisão na primeira fase, o Enfield Town. Um conjunto que já é semi-profissional. Têm melhores jogadores e mais de 3.000 adeptos. Contudo, conseguimos surpreender. O próximo jogo é em casa, contra o Brentford B, onde todos os jogadores são profissionais. Se tivermos a felicidade de passar, vamos jogar contra o Leyton Orient, uma equipa da Ligue One, com um estádio grande e que está sempre cheio», explicou o antigo líder, visivelmente entusiasmado.

De acordo com Ulisses, os contos de fadas são possíveis, mas secundários. O grande objetivo da instituição é chegar à National League - o quinto escalão - nos anos que se avizinham. Como tal, já foi delineada uma estratégia a longo prazo para o Athletic Newham. Porém, Ulisses Tavares destacou um novo percalço na abordagem planeada.

Plantel reunido na despedida de Christopher Nguidjol, antigo capitão @Athletic Newham

«O Brexit dificultou muito a nossa situação, uma vez que os jogadores precisam agora de ter uma autorização de trabalho para atuar num contexto semiprofissional. Se os atletas não forem residentes no país, nós não conseguimos validar o documento. Nós gostávamos de trazer mais jogadores lusos, principalmente do Campeonato de Portugal. Reúnem os requisitos ideais para dar frutos nesta realidade. Ou a Inglaterra regressa à UE, de forma a que os europeus possam chegar cá e desempenhar logo as suas funções, ou estamos com um grande problema em mãos», ressalvou.

Com Diogo Nobre ao leme, um treinador proveniente de Corroios, e outros integrantes oriundos da Terra de Camões, Ulisses deixou uma sagrada promessa: «Os princípios do clube nunca irão cair por terra, vamos sempre abraçar a nossa cultura. Eu sou um grande apreciador do futebol português e sei que este clube nunca irá deixar de apostar nos jovens nacionais. Iremos sempre abrir as portas a atletas de outras nacionalidade, desde que tenham vontade em chegar longe. Eu estou ansioso pelo futuro



Portugal
Anderson Baró
Nascimento/Idade1999-06-26(25 anos)
PosiçãoAvançado (Extremo Esquerdo) / Avançado (Extremo Direito)

Fotografias(1)

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motivo:
Clube
2024-12-11 16h20m por lmperial
Não sabia que o Akinfenwa tinha mudado de clube
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