zz: Pegando nesse duelo diante da Geórgia, que causou muita desilusão aos portugueses, gostávamos de abordar o facto do Diogo Costa e do Ronaldo terem sido os únicos a continuar no onze inicial. Em relação à baliza, a escolha foi fácil numa posição tão solitária? O Ronaldo, por sua vez, porque é que jogou?
RM: O principal objetivo não era ganhar, mas sim preparar todos os jogadores para os encontros seguintes. Foi uma oportunidade falhada para alguns atletas estarem no próximo onze. Mas, em geral, é importante demonstrar que queremos vencer. Passei por esta experiência em dois torneios distintos, onde conseguimos o apuramento após o segundo jogo.
Penso que não existe um aspeto positivo a preparar o futuro ao mudar o guarda-redes titular. O Diogo Costa teve dois remates enquadrados em dois jogos e precisávamos de continuidade nesse sentido. Também adotei esse pensamento na questão do ponta de lança, uma vez que é importante termos presença na área. Nós sabemos o que o Cristiano representa para o adversário. Estive como selecionador contrário e existe uma mensagem nesse aspeto. A ideia passou por continuar a preparação física do Cristiano porque teve uma época muito boa e, numa fase posterior, ver as ligações com jogadores (ofensivos) que podemos utilizar.
zz: Ter um nome como Cristiano Ronaldo é um privilégio, mas, nesta altura, ele possui condições físicas para atuar durante 90 minutos consecutivos, uma vez que conta com 39 anos?
RM: Trata-se de uma pergunta que faz sentido. A idade, em torneios, não é importante. Acho que a idade até ajuda. Vimos isso no Pepe, que jogou a um nível superlativo. O importante passa pelo trabalho da equipa médica. Nós acompanhamos o seu desempenho através das estatísticas, que demonstram que o Cristiano foi bem gerido, bem utilizado. Tenho informação confidencial que comprova esta narrativa.
É importante termos este tipo de metodologia porque assume um papel importante durante a competição. Não tivemos nenhum problema físico. O Pepe, ao contrário do que se falava anteriormente, conseguiu estar muito bem. Preparámos todos os jogadores nesse sentido. O Diogo Jota, por sua vez, teve um período de preparação incrível, depois de uma lesão no Liverpool. Chegou num grande nível.
zz: Ficou satisfeito com o rendimento desportivo de Cristiano Ronaldo?RM: Quando falamos do Cristiano, falamos de um ponta de lança que marca golos. O nosso ponta de lança é muito mais do que isso. Fiquei satisfeito com a disciplina. Quando não jogamos com bola longa, mas sim bola dividida - ou seja, chegar ao último terço com quatro/cinco jogadores - precisamos de um ponta de lança com muita disciplina ao nível da posição.
O Cristiano fez isso bem, abriu espaços, reagiu bem à perda da bola, mas acho que a falta de golo do Cristiano acabou por ser geral. Foi a falta de golo de jogadores na área, do Rafael Leão, do Bruno Fernandes ou do Bernardo Silva, por exemplo. O que o Ronaldo fez enquanto ponta de lança foi o que nós esperamos dele. Em geral, trabalhou muito bem.
zz: Para quem estava de fora - e isto pode ser um pouco injusto - parecia-nos que o Cristiano queria muito. Acha que existiu algum excesso de ansiedade pelo golo que não apareceu?
RM: Pode ser, claro, mas não penso que seja algo que seja aplicável ao Cristiano. Acho que enquanto equipa, chegámos à Alemanha e sentimos muito o carinho dos adeptos portugueses. Foi incrível. Todos queríamos marcar golos, ganhar o torneio, ganhar jogos. Pode criar pressão? Pode, mas é um aspeto humano. Eu vi que, depois de marcarmos o primeiro golo, tínhamos mais controlo e estávamos mais tranquilos. Depois começámos a ter alguma falta de precisão, uma tensão diferente, mas por uma boa razão porque queríamos mais.
zz: O Pepe, infelizmente, ficou por aqui. Para quem gosta de futebol, é uma pena que se retire, depois de um Euro 2024 em destaque, pese embora os 41 anos. Vamos começar uma nova caminhada que irá coincidir com a participação na Liga das Nações e no Mundial. O Cristiano vai permanecer na sua convocatória?
RM: O Cristiano continua a jogar no respetivo clube, está a trabalhar muito. Nós, enquanto equipa técnica, temos um trabalho de responsabilidade, honestidade, de acompanhar todos os jogadores. Vocês sabem a minha forma de trabalhar: apanho informação e, numa fase posterior, tomo decisões. Da lista do Europeu, o Pepe reformou-se, mas deixou um legado incrível. Um modelo para os mais jovens.
O Gonçalo Ramos também está de fora, infelizmente. Penso que não precisamos de uma revolução drástica, mas sim de continuar a melhorar. Vamos participar numa Liga das Nações com um formato específico. Portugal foi o primeiro vencedor da prova, portanto, temos aqui alguma responsabilidade acrescida.
zz: O Cristiano, além de ser um capitão, é uma marca do nosso país, um embaixador. Enquanto selecionador de Portugal, acredito que não seja fácil gerir uma figura deste nível. Foi um desafio extra ou revelou ser mais simples por ser quem é?
RM: Foi simples pelo compromisso que o Ronaldo tem. É muito difícil ser o Cristiano. É um facto. Gosto muito da disciplina, do trabalho. Do ponto de vista físico, está a um nível impecável. Depois, prende-se com o dia a dia dele. É o capitão, gosta de ajudar os jogadores novos e a atitude é bastante positiva. O Cristiano, no meu entender, foi um exemplo no balneário durante o Euro 2024. O Cristiano, como capitão, representa a equipa. Trabalharam 42 dias juntos para tentar ganhar o torneio. Foi um prazer.