Bélgica e Portugal. Dois países apaixonados por futebol e que, ao longo dos anos, têm «trocado» jogadores. Muitos foram os portugueses que se destacaram na Jupiter Pro League. Muitos foram os belgas que se destacaram na Liga Portugal Betclic. O primeiro nome desta lista 'lusitana'? Michel Preud'homme, pois claro, guarda-redes que terminou a carreira no Benfica, em 1998/1999. Elegante, experiente e carismático.
Steven Defour
12 títulos oficiais
Steven Defour. Exatamente. O antigo médio, atualmente com 36 anos, esteve em destaque nas últimas semanas aquando do encontro entre Anderlecht e FC Porto. A razão? Jogou nos dois clubes. Mas existem diversos pontos de interesse relativamente a um médio que deixou a sua marca nos relvados do futebol europeu, antes de se retirar em 2020/2021, após 19 jogos com a camisola do KV Mechelen.
Sabe por onde é que anda o ex-internacional belga em 51 ocasiões? Se não esteve atento durante os últimos anos, é normal que não saiba, mas a aventura no futebol passou para fora das quatro linhas, mais concretamente para a posição de... treinador no KV Mechelen! Quem diria? Por lá ficou durante duas épocas (2022/2023 e 2023/2024), sendo que, neste momento, está livre no mercado de transferências.
Aproveitando a visita do Sporting à Bélgica, o zerozero conversou com Steven Defour, a partir de Bruges. Um homem simpático, sorridente e que admite que o trabalho enquanto técnico é maior comparativamente a quando era jogador. Dos rasgados elogios a João Moutinho à qualidade de Vítor Pereira, eis os pensamentos de Defour.
Saudades, adeptos portistas?
ZEROZERO (ZZ): Depois de abandonar a carreira como jogador profissional em 2020/2021, decidiu ser treinador em 2022/2023. Começou como adjunto de Danny Buijs, antes de assumir o comando técnico da equipa, precisamente nessa temporada. Que balanço faz dessa pequena experiência?
STEVEN DEFOUR (SD): Acima de tudo, penso que foi uma boa aventura. Positiva. Aprendi muito, sobretudo quando substituí o Danny. Na primeira época estivemos num bom nível, uma vez que conseguimos chegar até à final da Croky Cup, perdendo apenas para o Royal Antwerp no jogo decisivo. A nossa prestação no campeonato, por sua vez, foi 'ok', terminámos no 13º lugar. No segundo ano tivemos um pouco mais de dificuldades e acabei por abandonar o barco a meio, depois de apenas três vitórias. Ainda assim, globalmente, acho que correu bem.
SD: Foi bastante complicada, sim. Quando és treinador tens de trabalhar mais comparativamente aos atletas. A tua vida acaba por estar sempre ocupada com análises aos adversários, preparação dos treinos, dos exercícios... Quando és jogador, só tens de aparecer no clube para treinar [risos]. E depois, claro, algumas partidas são bastante complicadas de assistir [risos]. Mas tudo se fazia com dedicação, paciência e trabalho árduo.
ZZ: Contou com uma carreira com bastantes experiências. Assinou pelo FC Porto em 2011/2012, após vários anos de sucesso com a camisola do Standard Liège. Do que é que se recorda dessa altura?
SD: Quando cheguei a Portugal, apercebi-me que tínhamos uma equipa mesmo muito boa. Vários craques: João Moutinho, Hulk, James Rodríguez, Fernando... Foi a primeira vez que saí da zona de conforto. Não foi assustador por seguir para o estrangeiro, mas sim por ter de procurar uma nova casa e estar inserido em outra cultura. Naquela altura não existiam muitas pessoas que sabiam falar inglês ou francês, portanto, tive de aprender espanhol ou português para me poder expressar no quotidiano. Foi bom porque agora posso falar mais línguas.
ZZ: Ainda se lembra de algumas palavras portuguesas?
SD: Eu consigo comunicar em português, tranquilo [risos]. No entanto, não posso detalhar muito o que digo. Algumas palavras ainda são complicadas para mim, mas consigo falar e ter uma conversa 100 por cento em português. Recordo-me de algumas asneiras, porém, acho que não as posso dizer nesta entrevista [risos].
ZZ: Que balanço faz dos anos em Portugal, ou seja, entre 2011 e 2014?
ZZ: Chegou de uma realidade completamente distinta. Que jogadores é que não conhecia e o impressionaram no FC Porto?
SD: Acho que a primeira surpresa foi com o João Moutinho, pois jogávamos numa posição similar. Olhei para ele no primeiro treino e fiquei impressionado. Tinha uma visão e um passe acima da média. A maneira como via o jogo... Espantoso. Achava que ele ia ter uma carreira ainda melhor. Foi para o Monaco e, depois, para o Wolverhampton, em Inglaterra. São boas equipas, no entanto, pensava que ia atingir outro tipo de patamares. Penso que ele tinha lugar em conjuntos maiores.
ZZ: Conviveu com grandes nomes no plantel portista. Lembra-se de alguma história engraçada com algum deles?
SD: Deixa-me pensar [pausa]. No campeonato belga, onde eu estive, o pré-jogo é marcado por nervos e, acima de tudo, concentração. No FC Porto não era assim. Os jogadores metiam a música alto. Música sul-americana, sobretudo. O dj acho que era o Otamendi. Toda a gente estava focada, mas relaxada. No túnel começávamos a cantar essas músicas. Era bom de se ver. Sabes o ambiente das equipas brasileiras e argentinas? Era igual. Fazíamos grande festa depois de uma vitória.
SD: É um técnico com bastante qualidade. Foi difícil assumir o cargo depois do André-Villas Boas, mas ele esteve muito bem, à altura do desafio. As expectativas estavam altas porque tinham conquistado a Liga Europa na temporada transata. Ou seja, muita pressão nos seus ombros. Ele queria muito ganhar porque pretendia deixar uma boa imagem aos adeptos.