Esta é uma crónica de carros e autocarros, de trânsito e de congestionamento, de travagens e de mudanças de faixa. Porque assim se pode claramente descrever um jogo no qual o FC Porto viu ser-lhe montado um labirinto, do qual conseguiu sair com sucesso e fruto da afinação do óleo de Marega.
Nota prévia: Ao falarmos de autocarros nesta crónica, não pretendemos fazê-lo em tom depreciativo. O futebol permite uma multiplicidade enorme de variantes táticas e de dinâmicas, sejam ofensivas, sejam defensivas. O Marítimo entendeu optar por um fechado 5x4x1 para fazer face a um FC Porto com tendência para o ataque e com isso foi capaz de condicionar bastante a equipa de Sérgio Conceição.
Três centrais, dois laterais, dois médios defensivos, dois meias que abriam a atacar e fechavam a defender e um Everton a uns valentes metros de distância, com a hercúlea missão de receber bolas longas e segurá-las enquanto alguém subia. Era assim que o Marítimo aparecia no Dragão, com linhas bastante recuadas, mas com espaços reduzidos, no meio e também nas faixas.
Parecia que o problema estava resolvido quando, numa bola parada, Reyes cabeceou à vontade para o golo. Só que, mesmo não sendo hora de ponta (jogos às 21 horas continuam a ser um espelho do domínio da televisão), a questão do trânsito afinal estava para ficar mais um pouco.
Uma jogada, dois remates e um golo puseram o Marítimo novamente a bloquear o trânsito portista no relvado. As tabelas saíam com dificuldade, os avançados do FC Porto tentavam sair da teia de três centrais adversários sem sucesso.
Uma via que se abriu
Eram quase 10 da noite e o trânsito não aliviava, mas eis que se abriu uma via, por intermédio de Mota. O árbitro puniu, e bem, João Gamboa por duas vezes em que o médio abusou do travão e o autocarro maritimista ficou mais débil, a precisar de ir às boxes.
Porém, mesmo sem tanta capacidade para uma condução eficiente, Daniel Ramos não deixou de manter uma condução que, tentando primar pela segurança, desse ainda para fazer escorregar a locomotiva portista.
Mesmo sem alguma vez ter espaço de sobra, a equipa portista quis resolver o assunto para pensar na próxima viagem, igualmente pelo Dragão, embora perante um Rio Ave que se prevê radicalmente distinto deste Marítimo. Só que o golo da tranquilidade demorava eternidades e dava azo à dúvida da plateia.
Inconformado com isso e já sem o seu companheiro de ataque em campo, Marega voltou a mudar de faixa, foi pela esquerda e atirou para a garantia de que o Natal é passado lá em cima, no topo da árvore, onde o dragão assume o papel de grande estrela. Justíssimo!