placardpt
    Peter Jehle em exclusivo a partir de Vaduz

    Do Boavista a 'boss' do Liechtenstein: «O 2-2 contra Portugal foi o meu melhor jogo»

    A pequena ponte divide a Suíça do pequeno paraíso alpino. Por baixo corre o Reno, manso nas suas águas escuras, uma fronteira natural que percorre o Liechtenstein de cima a baixo, 22 quilómetros de norte a sul.

    De um lado o rio, do outro a majestosidade dos Alpes. À volta, num pacífico cerco, a Áustria e a Alemanha, além do vizinho helvético. A Itália, mais a sul, é outra influência evidente.

    qDois terços dos futebolistas convocados para o jogo contra Portugal não são profissionais. Têm as suas profissões e ao final da tarde treinam
    Peter Jehle, diretor geral do Liechtenstein
    O primeiro adversário de Portugal na qualificação para o Euro2024, jogo de estreia do selecionador Roberto Martinez, mora num principado de 30 mil almas. Gente serena, a irradiar simpatia, culta e civilizada.

    Na sede da federação, situada no município de Schaan, Peter Jehle atende o zerozero. Abre o monitor para nos mostrar o gabinete, as camisolas envergadas nos tempos de futebolista, o sorriso habitual para quem já o conhece há muito tempo.

    «O problema de trabalhar no futebol é que me esqueço que isto é um emprego e faço horas a mais», brinca o antigo guarda-redes do Boavista, futebolista axadrezado de 2006 a 2008, ainda e sempre apaixonado pela vida e os costumes da Invicta.

    «Já tenho saudades, a pandemia mexeu com as nossas vida e prendeu-nos aqui», lamenta Jehle, o boss do futebol na federação do Liechtenstein. «O meu filho já é louco por futebol e pelo Cristiano Ronaldo», brinca o agora dirigente, a projetar o jogo de quinta-feira no estádio do Sporting.

    Jehle num jogo contra a poderosa Espanha @Getty /
    Dividido em oito municípios, o micro-estado ombreia com o San Marino pelo estatuto de seleção mais pequena do Velho Continente. Ou, de forma mais rigorosa, de seleção com menos futebolistas selecionáveis.

    Jehle sorri. «No relvado somos sempre 11, se não houver expulsões», responde, enquanto saboreia um expresso numa chávena branca. «Não é tão bom como aí, mas penso sempre em Portugal a beber um destes.»

    O Portugal-Liechtenstein joga-se em Alvalade, quinta-feira, a partir das 19h45. Jehle estará no camarote presidencial. 

    zerozero – O Peter já saiu de Portugal há 15 anos. O que faz atualmente no futebol do Liechtenstein?

    Peter Jehle – Tenho a sorte e o privilégio de trabalhar todos os dias em prol do futebol. Deixei de jogar em 2018, no FC Vaduz, e assumi um cargo na federação. Sou o diretor geral e faço também parte de um comité da UEFA, o que me obriga a fazer algumas viagens ao longo do ano.

    zz – Qual o retrato atual da seleção do Liechtenstein, um estado com apenas 30 mil habitantes?

    PJ – Estamos numa fase de transição, depois de um período em que os resultados estiveram abaixo do esperado. Principalmente na Liga das Nações. O nosso campo de recrutamento é pequeno, como sabem, e por isso temos uma política de gestão inclusiva. No Liechtenstein, todos os que querem ser futebolistas são bem acolhidos nos clubes porque há lugar para eles. Temos sete clubes de futebol dentro do nosso pequeno território. 

    Peter Jehle é o futebolista mais vezes internacional pelo Liechtenstein @Getty /
    zz – Podemos falar em profissionalismo absoluto ou ainda não?

    PJ – Infelizmente, dois terços dos futebolistas convocados para o jogo contra Portugal não são profissionais. Têm as suas profissões e ao final da tarde treinam nos respetivos clubes. Os passos dados têm sido positivos, esta época tivemos o FC Vaduz a chegar à fase de grupos da Conference League pela primeira vez e isso permite aos nossos futebolistas um contacto mais permanente com a alta competição. Curiosamente, o clube está agora a lutar pela permanência na segunda divisão da Suíça, se calhar está a pagar o esforço investido no percurso europeu.

    zz – Há um jogador em Espanha, um em Itália, alguns na Áustria…

    PJ – Procuramos colocar esses futebolistas fora da zona de conforto que é a pirâmide do futebol helvético. O Dennis Salanovic está no Talavera e o Marcel Buchel joga no Ascoli, da Serie B italiana. São dois bons exemplos de atletas em quem acreditamos e que nos podem ajudar a subir de nível. Outro problema que enfrentamos é o preconceito de alguns clubes e por isso nem sempre podemos contar com quem queremos. Libertar um futebolista para a seleção do Liechtenstein não é o mesmo que libertá-lo para Portugal.

    zz – Há um Peter Jehle ou um Mario Frick, os mais bem-sucedidos de sempre, a aparecer no Liechtenstein?

    PJ – Diria que temos três ou quatro rapazes já com um nível muito interessante para o futebol europeu. Esta é uma fase nova, importante, mudámos de selecionador [saiu Martin Stocklasa e voltou Rene Pauritsch] e queremos evoluir e aproveitar o contacto com os melhores futebolistas do mundo, como acontecerá agora em Alvalade. É determinante permitir a saída dos nossos melhores atletas numa idade ainda muito jovem, como me aconteceu a mim e ao Mario. Os clubes do Liechtenstein já têm condições muito razoáveis e há gente a trabalhar muito bem, mas o nível competitivo não é o ideal por tudo o que já referi.

    O diretor geral do Liechtenstein passou dois anos em Portugal @Getty /
    zz – O Liechtenstein é um pequeno paraíso encravado entre os Alpes e o Reno. Quem não conhece o vosso território, o que pode esperar ver se for a Vaduz acompanhar Portugal em novembro?

    PJ – Não temos o vosso mar e as vossas praias (risos), apenas alguns lagos muito bonitos, montanhas e espaços verdes maravilhosos. Se gostam de fazer hiking, de esquiar, de experimentar boa comida e conhecer pessoas simpáticas, o Liechtenstein está à vossa espera. Aqui ninguém se perde (risos). Quem gostar de caminhar nas montanhas pode estar, no mesmo dia, na Alemanha, na Áustria e na Suíça. É encantador.

    zz – O Peter está a falar connosco no seu escritório na federação e estamos a ver aí uma camisola do Gigi Buffon. Tem alguma boa história envolvida?

    PJ – Claro, claro. Jogámos contra Itália há uns anos e o Buffon sempre foi a minha referência. Antes do jogo perguntei-lhe se podíamos trocar a camisola no fim e confirmei o cavalheiro que é. Acabou o jogo e lá estava ele à minha espera. Pedi-lhe para me dar algumas dicas, naturalmente (risos).

    zz – Esta camisola aqui ao nosso lado [Boavista] também lhe trará algumas boas recordações.

    PJ – Fui muito, muito feliz na cidade do Porto e a jogar no Boavista. Os meus planos passavam por ficar vários anos, mas infelizmente apanhei o clube numa profunda crise financeira e no verão de 2008 foi mesmo despromovido. Tive de sair para França, de onde recebi uma oferta do FC Tours. Antes da pandemia visitava o Porto todos os anos e espero retomar esse hábito agora. Quero que o meu filho de cinco anos conheça bem a cidade.

    zz – Estreou-se no campeonato num dérbi da Invicta e foi expulso.

    PJ – Continuo a dizer que esse vermelho foi muito mal mostrado (risos). O árbitro considerou que fiz falta sobre o Lisandro López e recebi um segundo amarelo. Estávamos a ganhar 2-0 nessa altura e defendemos bem o 2-1 até ao fim. Sempre que entrava no Bessa lembrava-me que toda a população do Liechtenstein cabia naqueles 30 mil lugares. Adorava o barulho do estádio nos dias dos grandes jogos. Sempre fui muito bem tratado por toda a gente e por isso é que continuo a seguir o Boavista. Fico feliz por ter estabilizado na I Liga e o Petit é o homem certo no lugar certo. Quero voltar a ver o Boavista nas competições europeias e parece-me que estão no caminho certo.

    Jehle nos (bons) tempos do Boavista @Getty /
    zz – Não foi esse o seu melhor jogo pelo Boavista.

    PJ – Não, não, acho que foi um 0-0 contra o Benfica. Aliás, nessa temporada fui eleito melhor futebolista no mês de dezembro, mas a exibição mais mediática e perfeita foi essa no Bessa. Parei tudo o que podia parar, o Moisés [defesa do Boavista] também tirou uma bola de cima da linha e somámos um ponto importante. Acho que os portugueses me ficaram a conhecer um pouco melhor nessa noite espetacular. Como referi, por mim teria ficado bastante mais tempo no Porto e em Portugal, a minha família e amigos continuam a visitar a cidade influenciados por mim. Acho que sou um bom embaixador (risos).

    zz – O Peter Jehle ainda é o recordista de internacionalizações pelo Liechtenstein: 132 jogos. Não deve ser fácil escolher o melhor.

    PJ – O 2-2 contra Portugal em 2004, quando ainda era muito novo, foi o meu melhor jogo pela seleção. Pelo resultado, pela atmosfera, por eu ainda estar a começar. Mostrou-nos que os impossíveis não existem no futebol, foi uma tarde espetacular. Antes disso, lembro-me também de um 2-0 em Wembley, contra a Inglaterra. Perdemos, mas a exibição foi organizada, competente e eu tive também uma tarde boa. Além desses dois jogos, claro que me lembro de todas as nossas vitórias, não só por serem poucas (risos). Acho que foram seis [correto] e devidamente celebradas.

    zz - É impossível pensar no Liechtenstein numa grande prova de seleções? 

    PJ -
    Se formos nós a organizar... (risos) Não, a sério, acredito que estamos a iniciar uma fase boa. E fico muito feliz por o primeiro passo ser em Portugal. 

    Veja as incidências da partida no acompanhamento feito pelo zerozero.pt.
    Sondagem
    RESULTADO SONDAGEM
    PORTUGAL
    EMPATE
    LIECHTENSTEIN

    Fotografias

    Apuramento Euro 2024 - Portugal x Liechtenstein
    Apuramento Euro 2024 - Portugal x Liechtenstein

    Comentários

    Gostaria de comentar? Basta registar-se!
    motivo:
    MI
    Paraíso
    2023-03-22 12h15m por miguelreis1976
    O Liechenstein não é um paraíso. . . é uma ditadura controlada por um monarca absoluto. . .
    Jehle
    2023-03-22 04h22m por moumu
    Que boa impressão deixou no BFC, tudo de bom para ele.
    jogos históricos
    U Quinta, 23 Março 2023 - 19:45
    Estádio José Alvalade
    Espen Eskas
    4-0
    João Cancelo 8'
    Bernardo Silva 47'
    Cristiano Ronaldo 50' (g.p.) 63'
    Tópicos Relacionados

    OUTRAS NOTÍCIAS

    Liga BETCLIC
    com video
    Após empate diante do Rio Ave
    O FC Arouca saiu de Vila do Conde com um empate e o técnico dos arouquenses falou do sentimento que se vive dentro da equipa, após o resultado menos conseguido.

    ÚLTIMOS COMENTÁRIOS

    kurionsesh 20-04-2024, 00:46
    AS
    asa_scouting 20-04-2024, 00:41
    Shunsuke__Nakamura 20-04-2024, 00:34
    AS
    asa_scouting 19-04-2024, 23:21
    John23 19-04-2024, 23:16
    AR
    Aroucafan 19-04-2024, 23:05
    MA
    MattGroening 19-04-2024, 22:45
    Blueonblue 19-04-2024, 22:34
    TomPen 19-04-2024, 22:30
    luishenriques729 19-04-2024, 22:16
    andrefrederico873 19-04-2024, 22:07
    A_Drifter 19-04-2024, 21:33
    JS
    jsilva77 19-04-2024, 21:22
    Blueonblue 19-04-2024, 21:12
    mundial200 19-04-2024, 21:08
    TomPen 19-04-2024, 20:53