Chegamos ao Bonfim, casa emprestada do Casa Pia para estes quartos de final da Taça de Portugal, e encontramos Duarte Gomes e os amigos e colegas apoiantes do Nacional num pequeno café colado ao Estádio do Vitória FC. Podia ser só mais um caso normal de adeptos a ver a sua equipa, mas este pequeno grupo de madeirenses acompanha todos os jogos dos insulares em Portugal Continental e quisemos conhecê-los.
De sorriso na cara e vestidos a rigor, a Armada começa logo a brincar para não os questionarmos sobre o Marítimo, antes de nos começarem a contar a sua história. Tudo começou em 2014, fruto do amor de dois jovens por um clube histórico português.
«Tudo começa por mim e por um amigo meu, o Zeza. Achámos que o Nacional era um clube muito grande para não ter adeptos nos jogos fora. Na altura, havia muitos antigos atletas da formação a estudar em Portugal Continental e achámos que era boa ideia reunirmo-nos e começarmos a apoiar. Curiosamente, a primeira deslocação foi aqui a Setúbal. Atingimos o nosso auge quando, em 2018/19, levámos quase 200 pessoas a Arouca», começa por dizer Duarte, ao zerozero.
Hoje têm um grupo com cerca de 100 pessoas onde organizam todos os exteriores da equipa que não são na Madeira, sendo o Nacional quem lhes disponibiliza os bilhetes. Já foram a Arouca, Viseu, Chaves, Faro ou Açores, apenas para nomear as deslocações mais longínquas e também apoiam a equipa de futsal e os juniores, que estão no campeonato nacional, além do futebol praia, no verão. Admitem alguns custos com o transporte, mas «não importa», com o amor pelo clube.
Com a descida de divisão, a Armada já viveu claramente dias melhores no que a números de adeptos diz respeito, mas o grupo considera até que consegue ter um «apoio mais forte nos jogos fora de casa do que em casa», uma vez que grande parte dos jovens adeptos do Nacional que termina o secundário acaba por mudar-se para o Porto ou Lisboa para estudar e/ou trabalhar. Duarte refere que se nota a importância dos resultados para esse apoio, uma vez que «quando a equipa está a descer de forma as pessoas se afastam», mas destaca que há sempre «malta resistente, fiel, que aparece sempre.»
De resto, o grupo de jovens destaca que se sente valorizado pela equipa do Nacional: «Normalmente o nosso apoio é valorizado pela equipa. No início sentíamos que era um bocadinho a custo, mas agora, os jogadores, normalmente, vêm ter com os adeptos, cumprimentam-nos, dão-nos camisolas. Muitas vezes até esperamos pelos jogadores à porta do autocarro, trocamos uns dedos de conversa.»
A conversa vai-se desenrolando. O grupo começa a relembrar os tempos áureos e aqueles jogos e jogadores que lhes ficaram na retina enquanto adeptos ao longo dos jogos. Há uma clara saudades nas suas vozes quando relembra as lutas europeias e os grandes jogadores que passaram pela Choupana e uma certa tristeza quando comparam com os dias que correm, onde admitem que esperavam mais da equipa e da própria direção.
«É um bocado triste a forma dos últimos anos. Nós crescemos a ver o Nacional em competições europeias. Quando comecei a ver, tínhamos eliminado o Zenit numa pré-eliminatória da Liga Europa, vi um Ozil na Choupana, ao serviço do Werder Bremen, numa fase de grupos. Vi grandes jogadores na Choupana. Conseguimos grandes resultados contra o Athletic Bilbao. Vimos uma época áurea. Estivemos em duas meias finais da Taça de Portugal. Conseguimos um 4º lugar no campeonato e o melhor marcador da prova, o Nenê, que ainda joga. Nós crescemos a ver o Nacional nestes patamares e a partir de 2013/14 foi sempre a descer. Sempre tivemos bons jogadores, como o Candeias, o Mateus, o Salvador Agra, o Marçal, Felipe Lopes. Fazíamos grandes vendas, vendíamos grandes vendas para o estrangeiro. Foi uma altura muito feliz. Não estamos habituados a estar nos lugares que estamos, a lutar pela manutenção na Segunda Liga», diz-nos Duarte.
Seu eterno rival, o Marítimo, não só pelas picardias saudáveis, como pela proximidade geográfica, acaba a surgir com naturalidade na conversa e acaba mesmo a merecer elogios pela forma como tem atuado para promover o apoio dos seus adeptos: «O Marítimo está a fazer uma coisa bem, que é oferecer bilhetes para encher o estádio. O estádio deles é muito mais bem localizado que o nosso. Os barreiros ficam no Funchal mesmo. A Choupana fica no topo. Facilmente um clube em último lugar enche aquilo. Apesar deles estarem mal classificados, eles sentem que podem fazer a diferença. Nós já estamos, infelizmente, habituados.»
Para contrariar essa falta de apoio e de investimento, a Armada até já começa a pensar em formas de melhorar e mudar a situação e lembra-se logo de Cristiano Ronaldo, referindo que uma simples foto do avançado português, durante a pandemia, na Choupana, tornou o Nacional um dos clubes portugueses com mais seguidores no Instagram. E fomos confirmar. É mesmo. Com 412 mil seguidores, os madeirenses são o 4º clube português com mais seguidores nessa rede social, superando nomes como o SC Braga, Vitória SC ou Boavista e sendo apenas ultrapassados pelos três grandes.
«Temos um fator que podia ser decisivo para atrair mais investimento, que é o Cristiano Ronaldo. Somos, a nível de redes sociais, o 4º ou 5º clube mais seguido em Portugal. O Ronaldo esteve na Madeira em 2020, durante a pandemia, partilhou uma foto no Estádio da Madeira e a partir daí nós passámos dos 30 mil seguidores para 200 e tal mil. Foi igual ao Al Nassr. Era uma das formas que podíamos aproveitar para crescer ao nível de patrocínios», apontam os jovens adeptos.
Contrariando o favoritismo inicial, antes do pontapé de saída, o Nacional acabou mesmo por bater o Casa Pia, num jogo de loucos, que foi a prolongamento e contou com duas expulsões e duas grandes penalidades, por 2-5, qualificando-se para as meias finais da Taça de Portugal, a 4ª vez na sua história e a primeira desde 2014/15, quando caíram apenas aos pés do Sporting (2-2 e 1-0), que venceria essa edição.
São, por isso, a única equipa da Liga Portugal SABSEG em prova, juntando-se a FC Porto, SC Braga e Famalicão. Questionada sobre as suas hipóteses e o sonho de estar na final, no Jamor, a Armada mostra alguma esperança, mas crítica este formato a duas mãos apenas nesta fase da prova, que deixará de existir na próxima época.
«Se o jogo fosse a uma mão só, em campo neutro ou na Choupana, acreditava que tínhamos hipóteses. A duas mãos…É sempre difícil passar no Estádio da Luz ou em Braga. Temos sempre aquela esperança, mas duas mãos vêm dificultar ainda mais as equipas pequenas na Taça. Porque é que só as meias finais é a duas mãos? Isto tira toda a magia da Taça», conclui Duarte, o porta-voz do grupo.
2-5 a.p. | ||
Diogo Pinto 53' Rafael Martins 80' | Luís Esteves 44' 46' Vladan Danilovic 95' (g.p.) Bruno Gomes 105' (g.p.) Gustavo Silva 108' |