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    Zé Beto desapareceu com apenas 29 anos

    Tragédia na A1, a morte de uma glória do FC Porto: «Ainda dói», desabafa o filho

    Estrada negra, fria. O Golf cabriolet avança furioso, uma mancha branca no cenário escuro. 4 de fevereiro de 1990, o relógio aproxima-se das fatais 23h25.

    Horas antes, num jantar em Ílhavo e depois de um fim-de-semana no Alentejo, a alegria dedilha os acordes dos comensais. Zé Beto anda feliz, entusiasmado por estar prestes a voltar ao plantel do FC Porto. A esposa Lurdes e o filho, Ricardo Ferreirinha, compõem o quadro perfeito.

    A viagem passa a correr. Talvez algum excesso de velocidade, talvez alguma pressa para chegar a casa, talvez o irresistível convite dos muitos cavalos no motor do bólide desportivo.

    qO rail separador entrou no carro e decapitou o meu pai. Eu e a minha mãe não tivemos praticamente nada, não fomos atingidos. Lembro-me de ter só dores num gémeo, numa perna.
    Ricardo Ferreirinha, filho de Zé Beto
    À passagem por Santa Maria da Feira, Zé Beto perde o controlo do volante. O despiste é violento, a viatura bate em cheio no separador da A1, a tragédia é imediata.

    Há exatos 33 anos, o futebol português perde um dos melhores guarda-redes do campeonato. Zé Beto é declarado morto no local; a mulher e o pequeno Ricardo, então com nove anos, salvam-se miraculosamente com ferimentos ligeiros. 

    «Eu ia a dormir no banco de trás. O meu pai, para poupar alguns tostões e evitar portagens, saía em Santa Maria da Feira e fazia o resto do trajeto até ao Porto pela estrada nacional. Nessa noite correu mal», conta Ricardo, filho de Zé Beto e hoje com 41 anos, ao zerozero. O testemunho é impressionante. Pela lucidez, pela coragem, pelo detalhe.

     «A minha mãe, que também ia a dormitar, diz-me que só se lembra de sentir o carro a fugir. E lembro-me do barulho. Caí do banco e fiquei na zona dos pés. Acordei aí. O rail separador entrou no carro e decapitou o meu pai. Eu e a minha mãe não tivemos praticamente nada, não fomos atingidos. Lembro-me de ter só dores num gémeo, numa perna.»

    A reportagem da RTP é explícita. As imagens mostram o Golf cabriolet, a tal mancha branca, transformado literalmente em sucata. Algum descuido, algum azar, uma vida perdida aos 29 anos, com tanto para dar à família e ao seu FC Porto. Ricardo Ferreirinha abre o coração, expia as más memórias. 

    Zé Beto
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    «Fui para uma ambulância, com a minha mãe. Nós em casa tratávamo-nos todos pelo nome próprio: Ricardo, Zé e Mona [Lurdes], eu não tratava os meus pais por pai e mãe. A minha mãe na ambulância disse-me que o Zé tinha morrido. Eu, creio que por estar em choque, assumi que o Zé fosse um tio meu, irmão do meu pai, que tinha o mesmo nome. Não assimilei a informação. Mas nunca chorei pelo meu pai, só o fiz muitos anos mais tarde. Ainda dói.»

    O óbito é formalmente assinado a 5 de fevereiro. O funeral, em Matosinhos, realiza-se a 6 de fevereiro. Ricardo revisita esses dias de luto. «Vi a massa encefálica do meu pai, ninguém esquece isso. E há recordações soltas. Tínhamos umas mantas compradas na Serra da Estrela, na mala, e alguém me embrulhou com elas. Havia um livro ao meu lado, oferecido pela minha tia. E recordo-me de haver muita gente a ajudar-nos, carros que pararam ao verem o acidente.»

    No dia em que se cumpre mais um ano do falecimento de Zé Beto, o zerozero recupera esta personagem maior do que a vida.

    Um dos grandes keepers dos anos 80 em Portugal.

    Mlynarczyk: «Confiante, o Zé era fantástico na baliza»

    Nascido no seio de uma família da classe piscatória de Matosinhos, Zé Beto convive com a dificuldade desde cedo. Não lhe falta a comida à mesa, mas os mimos são frugais. São cinco irmãos na modesta casa da rua do Godinho, artéria importante na cidade nortenha. Cresce a brincar na rua e na areia da praia, sempre com uma bola por perto.

    qFui logo titular na Luz e sei que não foi fácil para ele ver-me tantas vezes a titular. Mas o Zé tinha uma coisa boa: dizia o que tinha a dizer, o que tinha no coração saía-lhe pela boca
    Mlynarczyk, ex-guarda-redes do FC Porto
    Aos seis anos, os pais mudam-se para Leça da Palmeira. Na margem norte do rio que batiza a freguesia, aparecem os primeiros grandes amigos, os primeiros amores, as primeiras experiências de tudo. Já adolescente, acompanha a família na mudança para o Porto. Mau aluno - chega a chumbar por faltas -, lá consegue completar o ciclo preparatório. 

    Inscreve-se no curso de eletromecânica, mais tarde de serralharia civil, mas nada quer com os livros e aceita trabalhar na construção civil. 

    O judo e a natação, pela proximidade fraterna do mar, são outras das paixões. Zé Beto começa a ter aulas no Clube Fluvial Portuense e, desafiado por amigos, experimenta os treinos no campo pelado do Pasteleira, um clube vizinho da famosa piscina.   

    «O Zé tinha muita qualidade. Talvez não se lembrem, mas no ano da final europeia [Viena, 1987] eu fui suplente dele muitas vezes. Quando estava confiante, o Zé era um guarda-redes fantástico; se estava emocionalmente mal, tudo podia acontecer.»

    Os elogios não são feitos por um qualquer anónimo. É Jozef Mlynarczyk, campeão europeu pelo FC Porto, o autor das palavras. A partir da Polónia, Mly divide-se entre a empresa familiar de transportes e a equipa técnica da seleção de sub21.   

    «Quando cheguei ao FC Porto, o Zé Beto era o titular, mas estava lesionado. Aliás, acho que é por isso que me foram contratar [ao Bastia, janeiro de 1986]. Fui logo titular na Luz [empate a zero bolas] e sei que não foi fácil para ele ver-me tantas vezes a titular. Mas o Zé tinha uma coisa boa: dizia o que tinha a dizer, o que tinha no coração saía-lhe pela boca.»

    Zé Beto na final de Viena, maio de 87 �Getty /
    Do popular Pasteleira, Zé Beto passa rapidamente para o FC Porto e por lá ficará até ao fim dos seus dias. Exceção feita à época passada no Beira-Mar, por empréstimo em 1979/80, Zé Beto convive com todos os guarda-redes azuis e brancos dos anos 80.

    De 1980 a 1982, é o terceiro na hierarquia, atrás dos respeitados Fonseca e Tibi. Não faz um único jogo, mas aprende o que é o balneário portista e soma minutos nos jogos das reservas.

    A terceira temporada arranca sem alterações e com mais um candidato a número um: Jorge Amaral. Tibi passa por problemas físicos, Fonseca acusa o peso dos 35 anos, Amaral não convence nos 18 jogos feitos e despede-se da baliza numa derrota em Setúbal por 3-1.

    A 13 de março de 1983, o mestre Pedroto aposta finalmente no menino Zé Beto e logo num dérbi: 5-1 ao Salgueiros nas Antas, golos de Walsh (2), Gomes, Jacques e Sousa.

    Daí até à final de Basileia, em maio de 1984 e contra a poderosa Juventus, Zé Beto é dono e senhor do lugar.

    Ricardo, o filho: «O meu pai ia a cavalo tomar café» 

    Zé Beto guarda-redes: ágil, corajoso, músculos e loucura. E em casa? Ricardo Ferreirinha fala do pai «com orgulho», apesar da «tristeza» por não ter «ainda mais memórias» para partilhar. 

    «Lembro-me bem dos jantares no nosso apartamento na Pasteleira e depois no Avis. Também de acompanhá-lo aos treinos, do maravilhoso cheiro da relva, de estar a jogar à bola com os filhos dos outros jogadores. Os corredores dos camarotes das Antas eram muito escuros, havia ali algum secretismo que eu adorava», conta Ricardo, sem qualquer ligação ao futebol - «a minha mãe, inconscientemente, afastou-me desse mundo». 

    Ricardo recorda «os treinos na patinagem do FC Porto», levado pelo pai, e das «maluqueiras com graça», imagens de marca de Zé Beto, um bom malandro. 

    Zé Beto num dos últimos jogos pelo FC Porto �Arquivo Familiar
    «O meu pai teve um problema numa perna e o médico deu-lhe uma bota com pesos, para ele fazer exercícios em casa. Deitava-se no sofá, colocava a perna esticada e depois usava-me como contrapeso, como se eu andasse a cavalo. Era um tipo incrível, emocional e divertido.»

    Por falar em cavalo, Ricardo parte para outra história. Um relato inacreditável, inverosímil, qual realismo mágico de um génio das letras latino-americanas. 

    «A história mais contada na família é fabulosa. O meu pai tinha um cavalo no Centro Hípico do Porto, em Leça da Palmeira, e às vezes lembrava-se de ir a galope pela cidade. Ia tomar café à Petúlia ou à Duvália de cavalo. Imaginem o que as pessoas diziam ao ver o guarda-redes do FC Porto a chegar de cavalo a um café.»

    Ricardo ri, o riso que é herança paterna. Muito forte. «Outra imagem que tenho é dele a fazer flexões no chão da sala. A minha mãe fazia o jantar e o meu pai, quando estava mais stressado, fazia isso para se acalmar.»

    O filho de Zé Beto recupera de um problema de saúde e trabalha na área da restauração. Vive na Areosa e mantém «alguma proximidade» com antigos camaradas do pai. 

    «Mantive contacto com o Fernando Gomes. Tive muita pena do falecimento dele e da filha, a Filipa, que também conheci. Com o Jaime Pacheco ainda falo regularmente, volta e meia dá-me umas chuteiras novas. E também com o Frasco, uma pessoa simpática e humilde.» 

    Agressão ao ‘bandeirinha’ e adeus ao Euro84

    «Mal o jogo terminou, quando o trio de arbitragem se dirigia para o local da entrega da Taça, Zé Beto entrou de pé em riste sobre o fiscal de linha, que se intrometeu entre o jogador português e o árbitro. Agarrado de imediato pelos colegas, libertou-se e aplicou um pequeno pontapé no mesmo fiscal de linha. Novamente afastado pelos colegas, investiu uma terceira vez sobre o fiscal de linha e este enfiou o pau da bandeirola na barriga do guardião português, o qual, furioso, arrancou-lha da mão e lançou-a para longe.»

    A descrição é narrada pelo jornalista António Jorge Almeida, enviado-especial do Record à polémica final da Taça das Taças. Zé Beto clama inocência, mas a mão da UEFA é pesada e afasta-o de todas provas internacionais durante um ano.

    A versão de Zé Beto é ligeiramente diferente. «Quando ia falar com o árbitro, o fiscal de linha virou-se e ficámos peito contra peito. Depois quis falar com ele e espetou-me a bandeirola no estômago. Se fosse uma faca tinha-me furado a barriga!»

    Lá se vai o Europeu de 1984, em França, e a possibilidade de reivindicar um lugar na Seleção Nacional. Manuel Bento e Vítor Damas poucas hipóteses dão e a verdade é que Zé Beto acaba por somar apenas três internacionalizações na seleção A: todas no pós-Saltillo, entre outubro de 1986 e janeiro de 1987.

    Por essa altura, Mlynarczyk começa a não dar hipóteses no FC Porto. Zé Beto torna-se o fiel escudeiro do polaco, uma sombra protetora.

    «Antes da final de Viena falámos muito. ‘Jozef, as tuas defesas vão ser as minhas defesas’. Era um bom companheiro, tinha uma força incrível. Nos balneários via-o a agarrar em armários enormes como se nada fosse. Eu era o caladinho, mas o Zé não se cansava de falar e tinha aptidões perfeitas para a baliza», conta o inesquecível polaco, a sete meses de completar 70 anos.

    «O Zé era muito engraçado, fazia coisas que para um polaco eram impensáveis. Agarrava-se à barra e fazia flexões, às vezes aparecia de bicicleta no estádio – dizia que era para estar quentinho no treino. Era assim o Zé.»

    Assim, extrovertido e atrevido, dotado de um humor extravagante e de uma irreprimível tentação de dizer o que nem sempre deve ser dito.

    Os problemas com o treinador Artur Jorge começam assim.

    A «má conduta» e a entrevista polémica

    A primeira vez de Vítor Baía é uma encruzilhada de coincidências. Jozef Mlynarczyk lesiona-se a dois dias da visita a Guimarães, 11 de setembro de 1988. Zé Beto, opção natural para o plano B, está em parte incerta e incontactável.

    Castigado por «má conduta», o argumento formal, o guarda-redes é afastado do grupo liderado pelo treinador Quinito – sucessor de Artur Jorge e Tomislav Ivic.

    Numa era sem telemóveis, o telefone da casa de Zé Beto toca, toca, toca e ninguém atende. Baía, a terceira opção, assume a titularidade e Luís Correia vai para o banco de suplentes.

    Uma conversa com o treinador e um pedido de desculpas público recolocam o rapaz de Matosinhos na baliza, de setembro de 1988 até fevereiro de 1989.

    Um nome histórico no FC Porto
    Zé Beto fez 179 jogos oficiais e é o quinto guarda-redes mais utilizado de sempre nos dragões. Foi quatro vezes campeão nacional e também campeão europeu e mundial
    O manual rígido de Artur Jorge volta, então, às Antas. O treinador inicia uma «limpeza de balneário» - dez campeões da Europa e do Mundo não escapam – e Zé Beto é um dos nomes riscados, muito antes ainda da luxuosa lista de dispensas ser conhecida.

    Por culpa de uma afamada entrevista ao Diário Popular, o guarda-redes volta a ser excluído do plantel.    

    «Enquanto esta equipa técnica cá estiver, o Zé Beto não será ninguém.»

    Artur Jorge não gosta nem um bocadinho das críticas em espaço público. Motivo? A perda da baliza definitiva para Vítor Baía e um suposto «tratamento injusto» a um filho da casa, quatro vezes campeão nacional, campeão da Europa, campeão do mundo, vencedor da Supertaça Europeia, de duas taças de Portugal e de quatro supertaças portuguesas.

    O último jogo na baliza do FC Porto é feito, pois, a 4 de fevereiro de 19891-1 em Portimão.

    O destino, ufano e cruel, dita as regras e aplica a sentença. Um ano depois, sem tirar nem pôr, Zé Beto está morto.

    4 de fevereiro de 1990.    

    Penteado: «Levei o pai a identificar o corpo no hospital»

    O último dia de Zé Beto.

    Domingo, dia de passeio com a família. O destino é Aveiro, cidade de que tanto gosta, e o acaso coloca-o no caminho de um dos melhores amigos.

    Manuel Penteado, colega de equipa de 81 a 83 no FC Porto, e visita frequente de casa, está nessa altura a representar o Beira-Mar. O histórico avançado cruza-se com o antigo camarada. É uma das últimas pessoas a vê-lo com vida.   

    «Estive com ele na manhã do dia em que teve o acidente e morreu», recorda ao zerozero. «Cruzámo-nos em Aveiro, sim. O Zé era um grande amigo. Eu morava na zona da barra e nesse dia não fui convocado. Fomos jogar à Madeira [União] para a taça», continua Penteado.

    Penteado (em baixo, à esquerda) e o amigo Zé Beto (segundo da direita, em cima) �FC Porto
    «Estava a sair do almoço e vi o Zé numa esplanada. Sentei-me com ele e com a família, pusemos a conversa em dia, perguntei-lhe como estava a vida dele no FC Porto e vi-o todo entusiasmado. Tinha recebido o ok para voltar aos treinos com o plantel, depois de ter sido encostado.»

    Um abraço, a promessa de um almoço em breve e o brutal adeus. Inesperado, chocante.

    «À noite cheguei à minha casa, em Matosinhos, e ouvi gritaria no prédio. Eu morava no segundo andar e os pais do Zé Beto moravam no quinto. Subi as escadas a correr e deram-me a notícia», conta Penteado, mais do que emocionado.

    «Fui eu que levei o pai do Zé Beto ao hospital para identificar o corpo. Foi uma tragédia, ninguém queria acreditar. Falo disto e ainda sinto um arrepio por mim acima. Aquela família ficou destroçada.»

    Penteado sustém a respiração. Olha o vazio, evidentemente fixado no olhar traquina de Zé Beto, no bigode cuidado, no sorriso malandreco.  

    «O Zé despistou-se no Golf em que andei dezenas de vezes com ele. Foram dezenas de viagens. Ele era um grande guarda-redes, um portento físico. Ainda me lembro de o estar a ouvir, em Aveiro, e de ele me dizer que teve uma conversa séria com o Artur Jorge e que se tinham entendido. Já não foi a tempo de vestir a camisola do clube que amava.»

    José Alberto Teixeira Ferreirinha, o eterno Zé Beto.

    179 jogos oficiais pelo FC Porto, ainda o quinto mais utilizado de sempre na baliza dos dragões, só atrás de Vítor Baía, Helton, Barrigana e Américo. 

    Portugal
    Zé Beto
    NomeJosé Alberto Teixeira Ferreirinha
    Nascimento1960-02-21
    Nacionalidade
    Portugal
    Portugal
    PosiçãoGuarda Redes

    Fotografias(4)

    Comentários

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    motivo:
    SK
    Parabéns
    2023-02-08 10h40m por skane
    ZZ pelo excelente artigo. Foi bom ficar a saber um pouco mais sobre esta personagem tão única do futebol português
    Zé Beto
    2023-02-06 21h16m por TugaKinas
    Vim ler este excelente texto porque, das 3 internacionalizações por Portugal, uma delas foi no municipal de Portalegre frente à Grécia num particular, final de 1986, Novembro por ai?Estádio praticamente cheio e o Zé Beto titular, eu tinha 6 anos e fui pela mão do meu pai, óbvio q as lembranças são poucas desse jogo devido à minha tenra idade, mas lembro me perfeitamente de Zé Beto nas redes portuguesas, paz à sua alma
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