Algures em 2002, em Vila Nova de Paiva, no distrito de Viseu, um pai leva o filho a jogar futsal com os amigos. As segundas-feiras de Cláudio Ramos eram assim. Tinha 11 anos e era convocado pelo pai para um encontro semanal com os companheiros. Foi assim que nasceu um guarda-redes.
Neste grupo de lazer, um dos jogadores era treinador na formação do Paivense e viu qualidades naquele guarda-redes de apenas 11 anos. Convidou-o para experimentar o futebol no clube da terra e por lá ficou. A qualidade foi demonstrada, rapidamente, e o clube da terra ficou pequeno para ele: primeiro Académico de Viseu, depois Os Repesenses e com 15 anos muda-se para Guimarães.
Quando vai para a Cidade Berço é obrigado a viver longe da família, mas tudo foi apenas uma questão de quilómetros, pois nas folgas a mãe ia resgatar o filho para que ele respirasse o ar das beiras e de casa.
Pica, um dos jogadores que mais vezes partilhou terreno de jogo com o agora guarda-redes do FC Porto, na altura no Tondela (foram 88 jogos), sublinha, ao zerozero, esse lado terreno: «É muito dedicado à família e aos amigos, nós passamos muito tempo juntos, durante as férias. É daquelas pessoas que sabe bem estar, porque mantém a mesma postura, não é de exibicionismos. Acredito que se ele pudesse estava todos os dias na terra dele e com a família, porque gosta disso.»
O cartão de cidadão pessoal está apresentado. A reboque dos números impactantes que teve na Taça da Liga - sofreu apenas golos num jogo e leva 11 com a camisola portista e desses dez conseguiu fechar a baliza -, o zerozero quis perceber quem é a pessoa que está por detrás do habitual suplente de Diogo Costa, e que foi titular sem tremer.
O registo que está a demonstrar de dragão ao peito não surpreende o antigo defesa central de Tondela e Académico de Viseu: «Ele preparou-se para isto, esteve à espera da oportunidade dele. Fomos sempre falando, somos amigos, e ele manteve sempre o foco, mesmo não jogando para o Campeonato e esperou sempre a oportunidade dele.»
Taborda trabalhou com Cláudio Ramos uma temporada no Tondela, em 2019/2020 e recorda uma conversa que fez mudar o chip do guarda-redes: «A primeira conversa que tive com ele, lembro-me perfeitamente, foi se ele queria continuar no Tondela mais oito ou nove anos ou se queria trabalhar para sair do Tondela e perspetivar uma equipa melhor. Quando ele me disse que queria trabalhar para atingir outros patamares, eu disse que ele tinha de abdicar de algumas coisas.»
O treinador de guarda-redes explica que mudanças aconteceram para que o crescimento acontecesse: «Tinha de jogar mais fora da baliza, jogar na antecipação e trabalhar as bolas na profundidade. Ajustámos um bocado, ele a mim e eu a ele e conseguimos fazer com que o Cláudio parecesse outro Cláudio, isto dito por outras pessoas. No final conseguimos o objetivo da manutenção e na época seguinte ele conseguiu estar num patamar mais acima e num clube que pudesse lutar por títulos.»
Pica, por sua vez, salienta a resiliência de trabalho, característica que anota ser uma grande valia: «Não é fácil estar numa equipa e não jogar durante muito tempo, mas estas exibições também demonstram que ele esteve sempre preparado, trabalhou sempre para quando tivesse aquela oportunidade demonstrar que está lá e não é por acaso.»
Diogo Costa partilhou, após a conquista da Taça da Liga, o nível de companheirismo do guarda-redes natural de Vila Nova de Paiva e Pica não tem dúvidas de uma coisa: Diogo Costa tem o nível que tem, também, por ter Cláudio Ramos a trabalhar com ele. «Eu sei que o Cláudio não facilita, é um excelente profissional, para além de ser um excelente colega e amigo, e está preparado para quando for chamado dar o melhor si pelos clubes que representa, neste caso o FC Porto.»
![]() | Cláudio Ramos 6 títulos oficiais |
Taborda enaltece, ainda, o nível de dedicação do guarda-redes de 31 anos: «É um guarda-redes que se entrega à metodologia de treino e é normal o Diogo Costa elogiar, pois o Cláudio não sabe estar de outra maneira. O ano em que trabalhei com ele demonstrou isso. É um gentleman, uma pessoa que sabe estar no futebol, dedicada à profissão que tem e no clube que está só podia ser assim. O Diogo elogiar só demonstra que há uma camaradagem saudável e que os dois são dignos do FC Porto.»
Entre as muitas características pessoas elogiadas, quer por Pica, quer por Taborda, ambos partilharam a rapidez de movimentos, no lado mais técnico de guarda-redes.
«Lembro-me que quando fazíamos os testes físicos de início de época ele era dos jogadores mais rápidos nos testes de velocidade», confidencia Pica, acrescentando a agilidade do guardião portista: «É muito ágil, é rápido nos reflexos, nas saídas da baliza é muito forte, consegue facilmente fechar os ângulos.»
Taborda destaca ainda a segurança e a forma como Cláudio Ramos se adapta ao jogo: «Dez jogos sem sofrer demonstra a qualidade que esteve sempre lá. É muito forte dentro dos postes, muito ágil e sabendo das suas capacidades, em que se consegue adaptar à estratégia diferente que as equipas apresentam quando jogam contra o FC Porto, que é muito sólido na zona de baliza.»
A cumprir a terceira temporada de dragão ao peito, Cláudio Ramos não jogou pela equipa principal na primeira época, no ano passado fez dois jogos (Rio Ave, para a Taça da Liga e Estoril no fecho do campeonato) e depois da saída de Marchesín passou a ser o segundo na hierarquia portista. Sérgio Conceição tem-lhe confiado a baliza nas taças e o guarda-redes beirão tem respondido à altura. São dez clean sheets, num total de 11 jogos.
Recorde-se também que Cláudio Ramos é internacional português, tendo sido chamado por Fernando Santos para o particular frente à Escócia, mas mais atrás destacam-se as presenças no Campeonato da Europa de Sub-19, em 2010 e também no Torneio de Toulon, em 2011.
Em abril de 2020, em plena paragem por força da pandemia, o guarda-redes, na altura a atuar no Tondela, foi convidado do programa O Futebol é Incrível do zerozero. Pode rever o programa aqui.
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