Carregar um nome de peso nas costas parece tradição no futebol. Cruyff, Blind, Kluivert - nomes de família com peso na história do Ajax. Francisco Conceição retoma a conversa sobre o assunto em Amesterdão.
Chegou aos Países Baixos com 19 anos. Corria julho do ano passado, a um mês do final do mercado de transferências, quando o Ajax oficializou a contratação do avançado do FC Porto, e o filho voou para lá da asa do pai, Sérgio.
Estreou-se no Estádio do Dragão em pleno dérbi da cidade do Porto. O resultado pode não ter sido favorável para os dragões, mas a imagem que marcou foi o abraço de orgulho entre pai e filho (na celebração de um golo de Evanilson que, posteriormente, viria a ser anulado).
A pressão sempre esteve lá, principalmente por ser filho do treinador - a pressão de mostrar que merecia um lugar pelo talento e não pelo nome. Da estreia, em diante, contam-se 50 jogos com o emblema dos dragões e três golos. O primeiro? Certamente o terá, para sempre, na memória. Grande penalidade e um dos abraços mais sentidos que o Estádio do Dragão viu.
«Vou sair, mas o Porto não sai de mim», foi esta uma das últimas frases da mensagem de despedida de Francisco Conceição antes de rumar a Amesterdão... e começar a brilhar. Começou a jogar pelo Ajax ainda na pré-época e deu nas vistas frente ao Shakhtar Donetsk.
Sem grande tempo de jogo, chegou à nona jornada, entrou aos 73 minutos e assistiu Davy Klaassen no último golo do encontro. Entretanto chegou o golo... e na Liga dos Campeões! Francisco, menino dos grandes palcos. Em Ibrox, «o menino» marcou o terceiro golo do Ajax frente ao Rangers e fez história - a família Conceição juntou-se a uma restrita lista de pais e filhos a marcar na Champions (o Sérgio não fazia por menos, na altura).
Pausa para o Mundial, pausa nos campeonatos. Mas, no regresso, Francisco começou «a brincar no parque». Frente ao NEC, foi titular, e frente ao Den Bosch levou o prémio de «King of the Match».
Jeroen Kapteijns, jornalista neerlandês do Telegraaf, conversou com o zerozero e não poupou nos elogios ao «rápido baixinho português».
«Não o conhecia muito bem [quando chegou]. Claro, o nome era famoso pelo Sérgio Conceição, mas eu não o conhecia bem. É um rápido baixinho português com maestria e relembra-me Overmars. Muito rápido, muito perigoso, com facilidade para ultrapassar os adversários. Os adeptos gostam muito dele, transmite uma positive vibe e toda a gente quer que ele continue no onze inicial porque tem estado mesmo muito bem.»
Sobre as escassas oportunidades no onze inicial do Ajax, Jeroen admite a dificuldade, mas acredita que o jovem tem qualidade suficiente para singrar. «Eu não vi todos os jogos, mas o que posso dizer é que estão todos à espera que ele tenha mais minutos. Não os teve até agora porque há muitas opções - Dusan Tadic, Steven Bergwijn, Steven Berghuis… - há muita concorrência, por isso não é fácil, mas acredito que ele tem qualidade, principalmente contra adversários que jogam muito à defesa, muito atrás. Ele é muito importante para encontrar espaços e criar oportunidades.»
«O Ajax quer ser dominante e a equipa a seguir, onde a qualidade é importante. De resto, só depende dos outros jogadores e isso é que pode trazer problemas ao Francisco, mas, para ser honesto, o Bergwjin não fez um grande Campeonato do Mundo», fundamentou.
Overmars, um dos velhos conhecidos do Ajax, comparado a Francisco Conceição não deixa de ser um elogio. Para além disso, a notoriedade que o «menino» tem ganho nos últimos tempos tem levado a um carinho dos adeptos que Jeroen Kapteijns mencionou por vezes intermináveis. Os adeptos gostam dele e e querem que tenha minutos. Só basta que o nível das últimas exibições se mantenha... ou melhore.
«Ele é muito popular no seio dos adeptos. Cantam o nome dele a toda a hora porque gostam da maneira como ele está a jogar. Perguntaram ao Alfred Schreuder se o Francisco poderia ser titular e ele disse que a continuar assim, seria, sem dúvida, uma opção.»