Foco, perseverança e sacrifício.
Já ouviu falar de Braudílio Pina Rodrigues? Os norte-americanos estão doidos com ele! O jovem luso-guineense, de 23 anos, está a escrever a sua própria história nos campeonatos universitários dos Estados Unidos e o salto para o profissional nunca esteve tão perto. O New York City, da Major League Soccer (MLS), escolheu-o na segunda ronda do SuperDraft da última quinta-feira, isto tudo por conta do incrível desempenho do jogador com passado na formação de Benfica na segunda divisão do NCAA, e o sonho... o sonho está bem vivo!
🚨 #SuperDraft Selection: With the 55th overall pick #NYCFC selects forward Braudilio Rodrigues from @FPUMSoccer 🗽 pic.twitter.com/p1zz3s6u9r
— New York City Football Club (@NYCFC) December 22, 2022
«Estão a ser dias bastante agitados, mas muito felizes. Era algo que ambicionava, fruto de um trabalho que começou há dois anos, e tenho aproveitado o momento, até porque algo desta dimensão só acontece uma vez na vida. Agora é manter-me calmo e preparar-me mentalmente para o que aí vem», contou Braudílio, em conversa com o zerozero.
«Sinto borboletas na barriga, claro. Estou feliz, pois é um momento bonito. Hoje [ontem] acordei e pensei no que vou fazer a seguir. A pré-época vai começar no dia 10 e eu vou no dia 4 para os Estados Unidos para preparar-me fisicamente, tecnicamente e mentalmente», admitiu.
«Se estou preparado para a mudança? É difícil responder a isso, porque será a primeira vez neste contexto. Sei que muito vai mudar... As redes sociais são uma distração e vou ter de passar menos tempo no telefone. Os comentários que tenho recebido são bons, mas não me posso deslumbrar com isso e tenho de continuar o meu caminho. Tenho de manter a mesma disciplina e fome! Quero muito mais. Não vai ser fácil, mas não posso ter mentalidade de vítima. Todos têm a sua história, umas mais tristes do que outras, outros com mais ou menos dificuldades...Tenho de adaptar-me para depois me estabelecer como o Brau que sempre fui», completou.
Antes de percebermos como é que surgiu a possibilidade de Braudílio atravessar o Atlântico, importa conhecer um pouco a história e a ligação do jovem ao futebol. Uma jornada marcada pela perseverança. De quem viu várias portas serem fechadas, algumas delas de forma intempestiva, mas sem nunca, nunca desistir. E ninguém melhor do que o próprio para nos levar nesta viagem.
«Comecei a jogar no Odivelas quando cheguei da Guiné-Bissau, depois passei por Benfica, Oeiras e Belenenses, antes de ir para a Alemanha prestar provas em alguns clubes. Estava para assinar pelo Schalke, mas tive problemas familiares e o meu pai não assinou a autorização...», revela ao nosso site.
Quem é o João? João Carvalho é o fundador da sports4me, uma empresa portuguesa que «proporciona a alternativa ideal para todos os jovens que desejem através de bolsas de continuar a perseguir o seu sonho desportivo sem sacrificar a sua educação no sistema de educação americano», que abriu a porta dos States a Braudílio. Os dois conheceram-se através de um amigo comum, embora o jovem atacante já estivesse (muito bem) referenciado por Roberto Rocha, parceiro de João.
«Penso que nunca disse isto ao Braudílio, mas já o conhecia através do Roberto Rocha que trabalha comigo. O Roberto chegou a dizer-me que o Braudílio tinha sido o único atleta que tinha referenciado para o nosso programa com potencial para jogar na primeira divisão em Portugal», confidencia João, em conversa com o zerozero.
«Muitos destes rapazes não conseguem atingir o profissional em Portugal e nós fazemos com que eles percebam que há uma realidade muito boa nos Estados Unidos, onde conseguem conciliar a educação com uma carreira desportiva, em que podem atingir o nível profissional. Não acontece com todos, como é óbvio, mas acabam por ficar com muitas ferramentas para o futuro», ressalva.
Outubro de 2021. O início de uma nova vida. Braudílio muda-se para os Estados Unidos, passa a dividir o seu tempo entre a licenciatura em Gestão de Negócios na Franklin Pierce University e a representar o college nas competições universitárias. Um sucesso. Após uma primeira época «bastante positiva», este segundo ano foi absolutamente estrondoso:
«Estou surpreendido que as coisas não tenham acontecido em Portugal para o Brau. É um jogador com muito, muito talento. Tivemos muita sorte por ele não ter tido essa sorte em Portugal». Quem o defende é Ruben Resendes treinador dos Ravens, em conversa com o zerozero.
Natural de Fall River, Ruben tem raízes... portuguesas. Nunca viveu em Portugal, mas visita muitas vezes a família em São Miguel, nos Açores. E é num português com sotaque açoriano que comunica connosco. É ele que nos faz um retrato de Braudílio.
«Não estamos surpreendidos com esta conquista do Brau. O ano passado já tinha sido um dos melhores a nível nacional, entre 100 equipas, e este ano foi mesmo o melhor. Tem todas as universidades da primeira divisão e todas as equipas da segunda divisão profissional atrás dele, neste caso com bons contratos de 2-3 anos. Nem sequer posso pegar no telefone, com tantas chamadas por causa dele. Não é normal um jogador da segunda divisão universitária ser escolhido por uma equipa da MLS. Foi o único jogador nos últimos 10 anos. Não vamos ter jogadores como o Brau todos os anos. O talento é óbvio», destaca.
«Ele tem uma decisão muito importante para tomar. Ou ser profissional agora ou continuar o mestrado e seguir no campeonato universitário. Ele já está preparado para ser um profissional. Vai encontrar muitas dificuldades, mas está preparado. Tem de continuar a ser o mesmo miúdo humilde e calmo que é, nos bons e maus momentos», remata.
Aos 23 anos, Braudílio Pina Rodrigues está «pronto» para a oportunidade de uma vida. Sem mágoas. Sem ressentimentos. O avançado está bem resolvido com o passado e não sente a necessidade de provar o que quer que seja a alguém.
«Todos tentam fazer o seu melhor, mas há sempre certos talentos que vão fugir do radar. Ninguém é perfeito no seu trabalho e situações como a minha vão continuar a acontecer. Não tenho de provar nada a ninguém de que estavam errados. Só tenho é de provar a mim mesmo que mereço esta oportunidade», explica.«Não há ressentimento, não há nada... Não há desculpas e se houver temos de encontrar soluções», termina.
Antes da despedida, Brau pede para deixar uma última mensagem: «Há mais dois portugueses que podem estar na minha posição para o ano - Bernardo Prego e Rodrigo Ferreira. Eles estão para vir e o mundo deve estar de olho neles!»