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Se há dia talhado para grandes mudanças, é o primeiro de janeiro. Uma simbólica oportunidade para novos começos, mas não leve a mal, caro leitor, se a sua decisão de começar a fazer mais exercício não receber a devida atenção. Pode vir a ser ofuscada por um certo jogador de futebol e o seu novo clube.
Ainda não é oficial - para já é apenas uma proposta que, segundo a imprensa espanhola, já foi aceite -, mas parece que Cristiano Ronaldo tem bem delineado o caminho para a sua primeira experiência fora da Europa, para jogar nos sauditas do Al Nassr.
Chegando, será a 35 dias do seu 38º aniversário. Uma idade avançada que explica a necessidade de iniciar uma nova aventura num panorama futebolístico menos exigente, mas que não condiz com um estatuto que o português poderá passar a ter: o de atleta mais bem pago do planeta, com 200 milhões de euros por temporada.
Para muitos, um valor indecente. Servirá para atrair ao Médio Oriente uma das figuras mais relevantes do planeta, com objetivos que vão além de voltar a colocar o emblema de Riade no topo do futebol saudita...
Para escrever a história do futebol na Arábia Saudita, é eficaz começar por roubar umas quantas páginas ao Catar, onde está a decorrer o Campeonato do Mundo. As mais relevantes são aquelas em que se fala de «sportswashing», um termo que sumariza a utilização do desporto como uma ferramenta para limpar (ou distrair de) políticas de reputação obscura. Leia-se: direitos humanos.
Para alimentar a relevância deste paralelo pérsico: sabia que a Arábia Saudita tem em cima da mesa da FIFA uma das candidaturas à organização do Mundial de 2030? Já tem garantida a Taça Asiática de 2027 (o Catar é responsável pela de 2023), mas está na luta com a candidatura ibérica e a sul-americana, entre outras, para receber um dos próximos grandes eventos do desporto internacional.
A Saudi Pro League já leva largos anos a tentar colecionar craques do futebol internacional, maioritariamente em fase final de carreira, mas Cristiano Ronaldo seria o santo graal dessa categoria. Ter o português na liga local seria mais um passo na direção da aceitação do ocidente, que veria um dos seus ídolos a representar diariamente o mundo árabe através do futebol.
Caso duvide das megalómanas intenções sauditas, basta recordar as recentes declarações do Ministro do Desporto desse país, acerca de Ronaldo e da eventual aquisição de mais clubes ingleses.
Com a naturalização e convocatória para a seleção saudita fora de questão, abençoadas leis FIFA, restam soluções mais normais. Atualmente segundo classificado na Liga, o Al Nassr, que é também o segundo nome na lista dos clubes mais titulados do país, apenas atrás do poderoso Al Hilal, é a casa apontada a CR7.
O último campeonato foi em 2018/19, então sob o comando técnico de Rui Vitória, mas a equipa hoje comandada por Rudi García quer ter outro português associado aos sucessos. Haverá mais português que Ronaldo? Dificilmente...No plantel já há estrelas, nas devidas proporções. O guarda-redes David Ospina e internacional brasileiro Luiz Gustavo chamam à atenção, numa equipa cujas referências ofensivas já têm ligação a Portugal: o ex-Benfica Anderson Talisca e o ex-FC Porto Vincent Aboubakar. Também há o ex-Vitória SC Konan e o argentino Pity Martínez, muito associado ao Sporting em temporadas antigas.
Pode ser visto como um final de carreira anticlimático para um dos maiores nomes na história do desporto, mas quantas superestrelas é que assinam o seu contrato mais lucrativo já à beira dos 40?
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