Portugal já estava nos oitavos, Paulo Bento acompanhou no fim. Em dias de liberdade, recordamos a famosa canção de Zeca Afonso para aludir a um jogo em que Fernando Santos tomou a liberdade de mexer várias peças, sem que muitos aproveitassem para se exibir a um bom nível. Ricardo Horta, que marcou, e Vitinha foram exceções, num jogo que terminou bem para lá do apito final. A vitória, conseguida nos descontos, apuraria a Coreia caso o Uruguai não marcasse mais que os 2-0 com que estava a bater o Gana. Portanto, foi com recurso aos telemóveis que os jogadores puderam explodir finalmente de alegria, no fim, já sem os portugueses em campo - mesmo com a derrota, o primeiro lugar estava assegurado. Porém, Paulo Bento, outrora amigo da seleção portuguesa, foi o grande felizardo da tarde!
20 anos depois, o reencontro com o derradeiro carrasco de Portugal no Mundial asiático. Os tempos são outros e o contexto também: Portugal já estava apurado e, mesmo perdendo, podia ficar em primeiro lugar, se o Gana não batesse o Uruguai. Portanto, tudo favorável, o que permitiu a Fernando Santos rodar bastante. Estranho apenas ter mantido Rúben Neves, um dos jogadores em risco pelo amarelo que tem. No resto, deu para passar Cancelo para a esquerda, o que fez com que se percebesse que a alternativa (pelo menos) a Guerreiro seria o jogador do City, depois da lesão de Nuno Mendes, e que fez com que fosse para o campo um dos jogadores em melhor forma na seleção.
Assim, o jogo ficou... pior para Portugal. A iniciativa foi dada aos coreanos, só que os erros na construção foram mínimos, pelo que Portugal não conseguiu recuperar muitas bolas propícias a contra-ataques. Dava apenas para, de vez em quando, construir sem grande rasgo. João Mário esteve demasiado encostado à linha e Cristiano Ronaldo andou muitas vezes fora do (e de) jogo.
O golo sofrido, numa bola parada, trouxe justiça e uma esperança para a equipa de Paulo Bento, que ficou a um golo de passar de grupo.
Cristiano Ronaldo foi um dos que saiu, nada agradado com a opção, e pôde entrar André Silva, o único jogador de campo que, por essa altura, ainda não tinha minutos. Ficam a faltar os guarda-redes.
Melhorias? Nem por isso. O jogo continuava aborrecido, pachorrento, pese embora a muita vontade e qualidade de Vitinha, num meio-campo que melhorou com a passagem de João Mário para o lado do médio do PSG. Ainda assim, sem objetividade, que Leão e André Silva não conseguiram dar mais do que os que substituíram.
Morrer na praia é uma das piores sensações do futebol. Para Portugal, que se instalou no meio-campo contrário nos últimos minutos, com William Carvalho e Bernardo Silva a darem mais qualidade com bola, soube a fel sofrer num contra-ataque letal, após um pontapé de canto luso.
Impressionante como os coreanos, com uma possibilidade tão reduzida de apuramento - sobretudo no decorrer do jogo - nunca entraram em desespero, nunca foram precipitados e nunca se descoordenaram, mesmo sem o seu mais capacitado defesa (Kim), que falhou o jogo por lesão. Notável sobriedade.
Dalot, Vitinha e Horta mostraram boa capacidade, mas a sensação global foi de que Portugal não esteve ao nível que se esperava, mesmo num jogo em que a pressão e a necessidade eram menores. No global, um mau ensaio, mas que pode trazer coisas boas: um sinal de alerta e também o descanso dos mais utilizados.