Vitória incontestável, sem espinhas, sem escrúpulos. Só não foi uma exibição tão brilhante da Espanha porque o adversário foi inteiramente inofensivo, mas revelou-se muito boa para golear a Costa Rica por uns esclarecedores 7-0 e iniciar, da melhor forma possível, o Catar 2022. Num jogo sem grande história, os próprios espanhóis escreveram-na e foram guionistas, realizadores e atores do próprio filme. Um resultado folgado que permite à turma de Luis Enrique assegurar o primeiro lugar em igualdade pontual com o Japão, autor da grande surpresa do grupo E.
Os arranques da Espanha em Mundiais não são, por norma, muito famosos. Nem mesmo na célebre conquista de 2010, onde o primeiro ensaio terminou em derrota contra a Suíça. O final todos sabem e, por esta altura, é a única seleção a sagrar-se campeã mundial com uma derrota na jornada inaugural.
⌚️85' ESP 5-0 CRC
🇪🇸Pablo Gavi é o 3.º mais jovem de sempre a marcar num 🏆Campeonato do Mundo:
1958 🇧🇷Pelé (17 anos, 7 meses)
1930 🇲🇽Manuel Rosas (18 anos, 2 meses)
2022 🇪🇸Pablo Gavi (18 anos, 3 meses) pic.twitter.com/QA1x1qiAs4
— playmakerstats (@playmaker_PT) November 23, 2022
Esses tempos de Del Bosque e de um temível coletivo já lá vão e Luis Enrique, engenheiro de serviço, foi nomeado para reconstrui-lo e procurar um novo tesouro. Não é tão reluzente e toda e qualquer comparação com o passado é ingrata, mas o talento está lá. Longe de funcionar na perfeição, tal como em muitos outros casos - veja-se a Alemanha -, a máquina Roja vai afinando cada vez mais com o tempo.
E por falar em arranques, o do Catar 2022 vai ficar na memória. Porque foi um jogo de sentido único, onde a Espanha não deu a mínima hipótese a uma desorientada Costa Rica, com alguns bons momentos a fazer lembrar outros tempos. Tanto no facto de jogar sem um ponta-de-lança tradicional como no jogo associativo que faz sobressair a qualidade existente - o que dizer da jovem e histórica dupla Pedri-Gavi...
O colombiano Luis Fernando Suárez é um homem conhecido dos Mundiais pelo trabalho realizado com conjuntos menos sonantes (apurou Equador para o Mundial 2006 e as Honduras em 2014) e tornou a aparecer - com mestria - para colocar, novamente, a Costa Rica na maior competição de seleções do planeta. O problema é que o arranque não o deixou nada satisfeito, até porque Los Ticos não conseguiram rematar uma única vez à baliza, formular um bloco compacto capaz de travar o futebol do adversário ou muito menos explorar contra-ataques na velocidade de Bennette, deixando Keylor Navas desamparado na baliza.
Como uma faca quente na manteiga, a Espanha geriu a partida como quis, fez o que quis e como quis, pressionando alto e abafando por completo o rival. Na segunda parte, mais do mesmo e menos do mesmo. Com classe, Ferrán bisou, Gavi fez um golaço para a manita (dupla com Pedri começa a fazer lembrar dois velhos conhecidos) e Soler e Morata ainda deram um ar da sua graça.
... Uma seleção que vence por 7-0, independentemente do adversário, merece ser levada com toda a atenção. Pode ser o palco perfeito para a Espanha voltar a aproximar-se de uma conquista, esquecendo o atribulado Rússia 2018. Expetativas demasiado elevadas não são saudáveis, mas Luis Enrique tem um topo de gama em mãos.
Deste jogo depreendeu-se, desde logo, uma diferença gigante entre ambas as equipas. O Mundial tem sido pródigo em agradáveis surpresas, mas o domínio da Espanha foi tão grande que a Costa Rica acabou completamente engolida. Los Ticos mostraram ser um dos conjuntos mais débeis da prova.