Pedro Martins: «Não esperava treinar tão cedo no Médio Oriente»

A poucos metros do Mundial do Catar, Pedro Martins abre a porta de casa em Doha e recebe o zerozero. A tecnologia permite viajar mais de sete mil quilómetros em escassos segundos, a era digital cria a proximidade possível para uma conversa de revelações, desabafos, até algumas confissões. É um dos melhores treinadores portugueses da atualidade, um homem com provas dadas no Marítimo, no Vitória SC e, de forma muito especial, no Olympiacos. Segue-se o Al-Gharafa, ali a paredes meias com os jogos do Campeonato do Mundo. Uma boa coincidência.  
 

                                                                                                                                                             PARTE II

Na segunda parte da entrevista, Pedro Martins explica a opção pelo Catar e pelo projeto do Al-Gharafa, e fala ainda de duas figuras bem conhecidas em Portugal: Yacine Brahimi e Antero Henrique, atual responsável pela liga profissional de futebol catari.  

zerozero | Como está a reagir ao primeiro impacto de viver e trabalhar no Catar?

Pedro Martins | É uma realidade diferente, não há como não dizê-lo. O Al-Gharafa não foi campeão nos últimos dez anos, mas é um clube com ótimas condições e uma estrutura muito organizada. Portanto, o choque não foi tão grande quanto isso.

zz | Porquê a escolha pelo Al-Gharafa nesta fase da carreira? O que é que o atraiu nesse mercado nesta altura, além do reconhecido apelo financeiro?

PM | Eu sempre disse que gostaria de ter uma experiência no futebol árabe. Como se sabe, neste momento estava sem clube. Este tipo de escolhas costuma ser feito no final de uma época mas, depois de avaliar bem todos os prós e contras e de conversar com a minha família e com os meus assistentes, decidimos aceitar. O mercado neste momento é global e, portanto, há muitos treinadores que têm vindo para cá. Depois saem e vão para grandes clubes. Foi nessa perspetiva que eu vim para o mercado árabe. Até porque neste momento acredito que o treinador é escolhido pela sua competência e não por estar a trabalhar aqui ou ali. Foram esses os fatores que me fizeram vir mais cedo do que o esperado para cá. Não esperava treinar tão cedo aqui, vim mais cedo do que aquilo que eu realmente tinha em mente.

zz | A coincidência do Mundial se realizar também o atraiu, foi mais um pontinho a favor do Al-Gharafa?

PM | Sou sincero, atraiu-me o facto de o Catar ser o país organizador e de terem intenções e condições para dar um salto qualitativo no seu campeonato. Esse foi um dos fatores. E um fator também determinante foi o convite, além do Al-Gharafa que é um grande clube, do Antero Henrique. A liga é neste momento o grande impulsionador do futebol profissional no Catar. Portanto, foram vários fatores que me levaram a optar pelo Catar.

zz | Que função tem o Antero Henrique no futebol catari?

PM | Ele é o diretor desportivo da liga profissional e o responsável pela coordenação e evolução do futebol do Catar.

zz | Já tem um bom conhecimento do seu novo plantel? Há três jogadores do Al-Gharafa que vão disputar o Mundial pelo Catar.

PM | Conheço muito bem a equipa do Al-Gharafa. Aliás, esse foi outro dos fatores que me levaram a aceitar o convite. Achei que tínhamos um grupo de jogadores com muita qualidade, como é o caso do Belfodil ou do Boulaya [argelinos]. E, claro, outro atleta que conhecemos muito bem e que é o Brahimi [ex-FC Porto]. O grupo é muito interessante, temos três jogadores no Mundial e mais quatro jogadores que estão nos sub23 e que vão disputar uma final contra a Arábia Saudita, por exemplo. Os sub19 têm sido a base de construção do plantel, portanto, achei que neste período de ano e meio seria um ótimo grupo, com jogadores de qualidade, como os mais experientes internacionais, e esta juventude extremamente ambiciosa que está a dar os primeiros passos.

zz | O Brahimi foi um dos jogadores mais entusiasmantes a passar por Portugal nos últimos anos. Como está ele nesta fase da carreira?

PM | Continua muito bem, está muito bem. Mantém todas as qualidades que lhe reconhecemos, continua ambicioso e é um capitão de excelência. Acredito que vai fazer uma grande época.