Passaram-se cerca de oito meses desde que Dynamo Kyiv e Benfica se defrontaram pela última vez, na altura a contar para a fase de grupos da Liga dos Campeões 2021/22. Agora, ucranianos e portugueses voltam a encontrar-se, no play-off de acesso à mesma fase da Liga Milionária, mas muito mudou do lado do Dynamo e tudo devido à invasão por parte da Rússia à Ucrânia.
Foi já há quase meio ano, em fevereiro de 2022, que o Mundo parou e chorou com a invasão militar da Rússia ao território da Ucrânia, acentuando um conflito histórico que se vinha agravando desde 2014. Esta invasão tem levado a conflitos centralizados em todo o território ucraniano, perdas de milhares de vidas e uma série de movimentações políticas um pouco por todo o mundo e acabou por influenciar, naturalmente, as mais variadas áreas da vida em sociedade europeia, mas especialmente dos ucranianos e dos países que rodeiam aquele território.
Ora, o desporto, e o futebol mais especificamente, embora uma área claramente menos relevante em tempos de guerra, também sofreu com esta invasão e os clubes daquele país viram-se obrigados a parar a sua atividade desde então. O Dynamo Kyiv, um dos grandes da Ucrânia, a par do Shakhtar Donetsk, foi dos clubes que mais sofreu a nível financeiro e desportivo e hoje reencontra um Benfica com um desenho da equipa muito diferente.
Com a invasão por parte da Rússia à Ucrânia, as competições desportivas naquele país foram prontamente suspensas, numa altura em que o recomeço do campeonato ucraniano até estava prestes a acontecer. Muita tinta correu nos dias e semanas seguintes e, a nível desportivo, uma das principais implicações desta guerra acabou por surgir na primeira semana de março.
Nessa altura, a FIFA anunciou que os jogadores a atuar na Liga ucraniana ou os estrangeiros que jogassem na Liga russa estavam livres para assinar por outro clube até ao final da época, com esses atletas a suspender unilateralmente os seus contratos até junho de 2022, sendo que aqueles que atuavam no campeonato da Ucrânia têm o seu contrato suspenso automaticamente.
O clube comandado pelo histórico Mircea Lucescu foi obrigado a uma grande revolução do seu plantel e perdeu a larga maioria dos seus jogadores estrangeiros ao longo dos últimos meses, nomeadamente Benjamin Verbič, Carlos de Peña, Vitinho ou Ilya Shkurin, além de uma série de jogadores ucranianos bem cotados do plantel, como o lateral Vitaliy Mykolenko.
O único estrangeiro que permaneceu no plantel do Dynamo foi o polaco Tomasz Kedziora, que é casado com uma ucraniana e acabou por decidir permanecer no país e no clube durante a invasão russa à Ucrânia. Apesar disso, o conjunto de Kyiv, capital da Ucrânia, ainda conseguiu manter alguns nomes importantes da equipa, como Viktor Tsygankov ou Mykola Shaparenko, duas das principais figuras da equipa, e hoje tem um plantel essencialmente composto por atletas formados no clube, com muita juventude à mistura.
São estas as contas do Dynamo Kyiv desde que o ano de 2022 começou e ganham ainda contornos mais relevantes se tivermos em conta que esses quatro jogos foram disputados no último mês. Antes da guerra, o último jogo oficial disputado pelo Dynamo Kyiv havia sido a 12 de dezembro, no empate (1-1) com o Zorya. Depois disso, o campeonato foi interrompido e acabou por ser suspenso um dia antes de recomeçar, devido à invasão russa, como já referimos.
Desde aí, tem-se vivido um natural clima de incerteza naquele país. A edição 2021/22 foi dada como concluída, sem a atribuição de um campeão, com os lugares europeus a ficarem decididos consoante a classificação geral aquando da paragem da prova. Mais tarde, foi o próprio Vadym Gutsait, Ministro do Desporto e da Juventude ucraniano, a revelar a intenção do regresso das provas desportivas naquele país ainda em agosto, estando este agendado para o final do mês.
«É duro, porque sentimos a falta de jogos oficiais mas também porque os jogadores não podem estar com as suas famílias, que estão atualmente na Ucrânia, Roménia e Polónia. Eles precisam de ver os filhos, de passar tempo com eles e não podem fazê-lo. Isso é o que custa mais. De qualquer forma, têm de jogar, é o trabalho deles. Treinamos num relvado com 200 crianças mas temos de sorrir, porque a vida continua», afirmou Mircea Lucescu, aquando da eliminatória com o Sturm Graz.
Com alguns jogos de preparação pelo meio, mas a verdade é que desde esse tal encontro disputado em dezembro, o Dynamo Kyiv apenas realizou quatro jogos oficiais, todos eles disputados já esta temporada e ao longo do último mês e todos eles a contar para a qualificação para a Liga dos Campeões, o que dá um ritmo competitivo bastante inferior à equipa.
Apesar de todas essas adversidades, o Dynamo conseguiu avançar já duas pré-eliminatórias, deixando pelo caminho o Fenerbahçe, comandado pelo antigo treinador do Benfica, Jorge Jesus - 0-0 e 1-2 -, e os austríacos do Sturm Graz - 1-0 e 1-2 -, precisando mesmo de ir a prolongamento em ambas as eliminatórias. Agora, a turma ucraniana tem mais um árduo teste, frente ao Benfica, para decidir quem avança para a fase de grupos da tão desejada Liga dos Campeões.
0-2 | ||
Gilberto 9' Gonçalo Ramos 37' |