A chegada de Roger Schmidt ao comando técnico do Benfica pressupôs imensas mudanças. A nível de plantel, muitos entraram, outros saíram e o mercado promete ser agitado até ao dia 31 de agosto. O alemão, ciente dos jogadores que necessita para o seu modelo de jogo (4-3-3), apontou, na lista de desejos, vários nomes para a direção encarnada trabalhar. O mais recente, embora longe da mediatização de David Neres, vem dos Países Baixos e é internacional norueguês.
Fredrik Aursnes, médio de 26 anos, foi uma pedra basilar do Feyenoord 2021/22. Mas quem é? Como joga? De que forma é que pode encaixar neste sistema de Schmidt? O zerozero foi à procura dessas respostas. Por isso, João Pedro Cordeiro, jornalista, especialista em futebol nórdico e autor da revista MAL (pode ler aqui), aceitou o nosso convite e deu-nos uma preciosa ajuda para traçar o perfil do provável reforço das águias.«Fredrik Aursnes é um médio centro completo, capaz de fazer qualquer uma das posições do miolo do meio-campo tornando-o, por isso, um jogador perfeito para jogar num duo/duplo pivot como atualmente acontece no Benfica de Schmidt. Formado no modesto Hareid, cresceu em clubes de pequena dimensão antes de chegar ao Molde em 2016 então com 20 anos, mas não sem fazer história pelo IL Hødd em 2012 ao tornar-se no mais jovem vencedor da história da Taça da Noruega. Tinha 16 anos e era já um elemento regular da equipa do Hødd naquele que foi considerado por muitos um dos maiores feitos da história do futebol norueguês. Não é um jogador com um grande histórico nas camadas jovens da seleção, até por culpa desse passado jovem em clubes de menor dimensão, mas somou várias internacionalizações ao nível dos sub-21. Só aos 25 anos, e já estabelecido como um dos melhores médios da Eliteserien, acabou por dar o merecido salto para o Feyenoord numa altura em que era também um dos capitães do Molde», começou por dizer.
47 jogos, um golo e quatro assistências. Por este registo percebe-se, de imediato, que Aursnes veio para fazer a diferença no Feyenoord, tanto que acabou por ser o sétimo elemento com mais minutos às ordens de Arne Slot.
«O jogo da primeira jornada da Eredivisie frente ao Vitesse é bem elucidativo daquilo que foi a carreira de Aursnes desde que chegou aos Países Baixos: foi quem mais recuperou a bola e esteve envolvido diretamente em pelo menos dois dos cinco golos apontados pelo Feyenoord e ainda teve um remate muito perigoso perto do final. Ou seja, encheu o campo e foi fundamental para a organização ofensiva e transição rápida da equipa de Slot. Terminou a Eredivisie 21/22 no top-10 de jogadores com mais passes concretizados e entre os primeiros em matéria de recuperações de bola no meio-campo ofensivo e no geral, bem como interceções no último terço do campo.»
O que tem este médio de especial para que Roger Schmidt o queira tanto? Para João Pedro Cordeiro, Aursnes «tem todas as características ideais para o modelo» do alemão.
«É um médio centro que alia capacidade defensiva a qualidade ofensiva. Essa multiplicidade de argumentos torna-o o perfeito para jogar num meio-campo a dois cujo equilíbrio defensivo/ofensivo acaba por ficar repartido entre os dois homens do miolo num papel misto entre o 6 e o 8. É um médio de elevada intensidade, muito agressivo no ataque ao espaço e cobertura territorial, muito forte a defender alto no campo e a recuperar bolas por meio de interceções. É muito ofensivo a defender no sentido que é bastante proativo e tenta sempre antecipar o jogo adversário fruto de uma inteligência posicional muito acima da média e capacidade de leitura de jogo assinalável. Tem uma capacidade especial para se desdobrar e encher o campo, sendo muito forte em situações de pressão e contrapressão. Com bola, é um médio que tem criatividade, mas que acima de tudo é muito forte a dar ritmo à circulação da equipa. Tem capacidade para resolver a um/dois toques, mas é também bastante forte em condução e a resistir a momentos de pressão, oferece progressividade e faz a equipa avançar rápido no terreno», salientou.Florentino e Weigl ocupam as posições mais recuadas do meio-campo, libertando João Mário para terrenos mais adiantados. Olhando para o cenário atual, e fazendo uso da especulação, o português, que tem estado em evidência, pode ser o «sacrificado» no onze.
Weigl «não tem a multiplicidade de argumentos e intensidade de jogo ideais para um duplo pivot como é ideário de Roger Schmidt», pelo que «faz sentido o Benfica vender o alemão de forma a recuperar algum do investimento feito»: «Aursnes não contemporiza tanto como Weigl, nem é um reciclador da posse como o alemão, mas isso no modelo de Schmidt não é tão apreciado como é o ritmo e a dinâmica que o norueguês oferece à construção ofensiva da equipa. Além de ser muito forte na cobertura do terreno e um monstro de recuperação de bola, Aursnes imprime velocidade com bola e é fortíssimo em fases de transição. Tem um ritmo de jogo mais rápido e isso encaixa muito mais no estilo de jogo de Schmidt do que a maior contemporização e o jogo mais cerebral de Weigl, que é um brilhante pivot de construção para jogar sozinho em frente à linha defensiva».
«Esse histórico curto tem também muito a ver com a forte concorrência ao lugar. É preciso também ver que Fredrik Aursnes apenas saiu do Molde já com 25 anos. Apesar do rendimento demonstrado na Eliteserien, não faltavam opções mais rodadas em campeonatos de outra dimensão na posição. Na verdade, o miolo do meio-campo é uma das zonas do terreno mais apetrechadas da seleção norueguesa com nomes como Mathias Normann, Sander Berge, Morten Thorsby, ou Fredrik Midtsjø, à cabeça, mas também Kristian Thorstvedt, Patrick Berg e mesmo Martin Ødegaard que, apesar de não concorrer diretamente com a função de Aursnes, é opção no centro do terreno», finalizou.