Alvibranco 25-04-2024, 09:39
"Estamos aqui!"
Moncarapacho. A mais antiga freguesia do município de Olhão, com pouco mais de sete mil habitantes, muitos dos quais dedicados ao trabalho agrícola e pecuário, vive dias felizes à conta do futebol. Apesar de não ser o clube mais representativo da região algarvia, muito longe desse estatuto, o Lusitano Ginásio Clube Moncarapachense fintou os prognósticos iniciais, superou até as expectativas dos mais crentes e alcançou a subida inédita à Liga 3.
Ivo Soares Campeonato Portugal Ap. Subida Zona Sul 21/22 |
«Foi uma festa bonita. Queríamos ficar na história como a primeira equipa do Algarve a ascender à Liga 3 e conseguimos convencer os jogadores de que esse cenário era possível. Fomos para o último jogo a saber que dependíamos apenas de nós, tal como o Belenenses, e apostámos tudo. Sabíamos que não havia uma segunda oportunidade», conta o treinador, em conversa telefónica com o zerozero.
Segredos? Não há segredos. Trabalho. Muito trabalho. E os números não enganam, ora vejamos: apenas três derrotas em toda a temporada de Campeonato de Portugal, nenhuma delas na condição de visitado, e oito jogos consecutivos sem qualquer golo sofrido... na fase de promoção
«Depois de atingirmos a segunda fase, que já nos tinha assegurado a manutenção, tive uma conversa com os jogadores e perguntei-lhes se queriam ficar por ali e ser apenas só mais uma equipa que tinha ido à fase final ou se queriam mesmo fazer história e melhorar as suas vidas, pois era isso que estava em causa. Eles é que jogam, eles é que são talentosos e eles é que ainda têm a oportunidade de chegar lá cima. Eles escolheram a opção mais difícil», completa Ivo Soares.
O sorriso é contagiante. Do outro lado do telefone, está agora Pedro Caeiro, há duas épocas ao serviço do Moncarapachense, o «orgulhoso» responsável por envergar a braçadeira de capitão de uma equipa que sofreu uma autêntica revolução da última época para esta.
Aos 26 anos, este defesa nascido e criado em Faro conhece como poucos a realidade do futebol algarvio, a realidade do futebol em Moncarapacho, bem distante de alguns clubes «profissionais» do escalão. Em sentido inverso, poucos conhecem (ou conheciam) os jogadores do Moncarapachense.«É verdade, no início ninguém nos conhecia e, se calhar, ainda há uns quantos que ainda não nos conhecem, mas, felizmente, devido à época que fizemos, muitos mostraram a sua qualidade e deram-se a conhecer e isso acaba por ser muito importante. Só assim o nosso trabalho pode ser recompensado», justifica o defesa.
Um (des)conhecimento que se alastrava aos próprios habitantes de Moncarapacho: «É uma vila que vive basicamente do trabalho de campo e com poucas pessoas que prestam atenção ao futebol. Mas acho que nestes dois últimos anos, graças ao nosso percurso, as pessoas têm olhado para nós de forma diferente, pois também percebem que o Moncarapachense está a crescer.»
O cenário da subida não era o mais importante para o Moncarapachense. Ao zerozero, o presidente Nemésio Martins sublinha que «cimentar um lugar no Campeonato de Portugal para não andarmos no sobe e desce» era o grande objetivo na presente temporada. Há 23 anos ao serviço do clube algarvio, o dirigente lembra que há cinco o Moncarapachense jogava num «pelado» e que desde a criação do sintético esta foi a terceira subida de divisão.
Agora, a pergunta é simples: terá o Moncarapachense capacidade para cumprir as exigências da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e, assim, participar na Liga 3, em 2022/23? Apesar de reconhecer todas as dificuldades inerentes ao processo, que vai obrigar a equipa a jogar noutro estádio - Olhanense e Estádio do Algarve em equação -, a confiança é plena.
«Somos de uma terra pequena, com pouco tecido empresarial, mas não queremos deixar mal a região e vamos fazer de tudo para prestigiar o Algarve e o nosso clube na Liga 3. Quando estávamos nos distritais e subimos para o Campeonato de Portugal também ficámos um pouco apavorados, porque as despesas eram muito maiores, e agora acontece o mesmo... Estamos cientes da responsabilidade [...] O clube está a viver hoje a parte mais bonita da sua história», garante.
Ainda sem querer pensar no futuro a médio/longo prazo, até porque ainda tem uma final da Taça do Algarve para disputar no próximo fim de semana, o treinador Ivo Soares, que cumpriu a 3.ª época no Moncarapachense, não garante, para já, a continuidade.
«Só a partir de sábado é que começarei a pensar no meu futuro, que passará por um clube que me dê condições dignas para poder fazer o meu trabalho, seja num patamar superior, no Campeonato de Portugal ou até mesmo na distrital, onde não tenho qualquer problema em trabalhar», assegura, antes de deixar um alerta.
O que não falta é ambição. «A malta é toda ambiciosa. Ainda não pensamos muito nisso, até pelo jogo da Taça, mas claro que todos nós procuramos chegar aos patamares profissionais», remata o capitão Pedro Caeiro. Resta saber se em Moncarapacho, o novo ponto do mapa futebolístico nacional, ou noutro lugar.
0-1 | ||
Nuno Silva 64' |