Depois de três tentativas falhadas, o Benfica conquistou a «Europa dos pequeninos», ao bater o RB Salzburg por 0-6 e conquistar, assim, a UEFA Youth League, conhecida como a «Champions dos mais novos», pela 1ª vez na história. Contudo, embora muito jovem, a equipa encarnada apresentou-se em Nyon (local da final) já muito rodada. Passamos a explicar.
De há uns anos para cá, o Benfica - assim como outros clubes, como o Sporting, FC Porto ou SC Braga, por exemplo - tem seguido uma política de aproveitamento dos jovens relativamente diferente, como, de resto, Renato Paiva explicou ao zerozero em entrevista. Ora, agora, a ideia passa pelos jogadores de maior potencial, independentemente da idade, crescerem nos escalões acima do seu - seja formação, sub-23 ou equipa B - e só descerem ao seu escalão na altura das grandes decisões, permitindo-lhes estar com um nível de preparação e intensidade maiores para esses jogos.
Esta política ficou bem patente na caminhada do Benfica até à final, e conquista desta edição da UEFA Youth League, uma vez que dos 24 jogadores utilizados pelas águias na prova, a larga maioria pouco jogou na equipa de juniores ao longo desta época. Será esta a prova de que esta nova política é a ideal? Passemos a analisar os números.
Comecemos pelos jogadores que mais foram utilizados na prova pelos encarnados. Os dois centrais António Silva e Tomás Araújo foram os únicos totalistas do Benfica na prova e praticamente apenas jogaram pelos juniores este ano na Youth League - António Silva ainda fez um jogo para o campeonato -, sendo que o primeiro tem dividido o seu tempo entre os sub-23 e a equipa B e o segundo entre a equipa B e a principal (com quem treina regularmente). Henrique Araújo, que foi chamado à última hora para a final e brilhou, foi dos menos utilizados na prova, mas é outro nome com muita experiência, incluindo na equipa principal.
Entre os nomes utilizados por Luís Castro ao longo da prova, Diego Moreira, que foi uma das estrelas desta Youth League, Zan Jevsenak, Martim Ferreira, Nuno Félix, Hugo Félix, Ricardo Marques, André Gomes ou Franculino Djú são dos nomes que, esta época, mais «experiência» têm na equipa de juniores extra-Youth League, mas, mesmo assim, todos eles são presença assídua na equipa de sub-23 e, alguns, até já jogaram pela equipa B.
Entre os vários utilizados - como Rodrigo Matos, João Neto, Diogo Spencer, João Resende ou João Neves - nota ainda para o nome de Ronaldo Camará, com vasta experiência na Liga Portugal SABSEG ao longo das últimas épocas e que chegou a jogar na prova antes de rumar aos italianos do Monza no mercado de inverno.
No pós-jogo, Luís Castro destacou a importância desta vitória e o atestado de qualidade que é para a formação encarnada, mas a mesma também pode significar um atestado de aprovação para esta mudança de paradigma na forma como se aposta no jogador da formação em Portugal. A mesma já tinha resultado em 2018/19, quando o FC Porto conquistou a prova e voltou a repetir-se.
«Temos muita qualidade na formação. Isto é otimo, porque demonstramos a todo o país o nível que temos aqui. Basta olhar para os jogadores da equipa principal e os que já saíram e estão ao mais alto nível, para saber que temos qualidade, mas ainda há muita qualidade a passar para equipa A. Não vamos conseguir mantê-los a todos. Portugal tem 10 milhões de habitantes, não tem capacidade financeira tão alta que permita reter a qualidade que fazemos. Fabricamos os melhores do mundo», explicou o técnico na altura da conquista.
Olhando, por exemplo, para a equipa do RB Salzburg, vista como uma das melhores formações e importadoras de talento da atualidade, a política utilizada foi um pouco diferente. Não tendo uma equipa sub-23, a formação austríaca utilizou a sua equipa «B», o Liefering, para dar experiência aos seus jovens e poucos dos que defrontaram o Benfica chegaram à final - há o caso de Roko Simic, por exemplo. Contudo, a verdade é que vários dos nomes que hoje estão na equipa principal, face à sua juventude, até podiam ter estado presentes na fase final da prova, como é o caso de Benjamin Sesko, Bryan Okoh ou Luka Sucic.
0-6 | ||
Martim Neto 2' Henrique Araújo 15' 57' 89' (g.p.) Cher Ndour 53' Luís Semedo 69' |