«O Daniel Bragança tem tudo para ser o futuro capitão do Sporting»

A uma partida de atingir a marca de 50 jogos pelo Sporting, Daniel Bragança é cada vez mais um nome consolidado na equipa de Rúben Amorim. Apesar da concorrência apertada no meio-campo, o médio internacional sub-21 tem vindo a cumprir o sonho de infância, como revelou numa entrevista ao zerozero. No Sporting desde 2007, Bragança foi olhando para a equipa principal como um objetivo, mas depois de lá chegar há mais passos a dar.

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Com 15 anos de Sporting, Daniel Bragança teve vários treinadores que fizeram parte da sua caminhada até à equipa principal. Um dos mais importantes foi Tiago Fernandes, com quem se sagrou campeão nacional de juniores e que apostou no esquerdino quando assumiu o comando do Estoril Praia, depois de, apesar da idade, também lhe ter entregado a braçadeira de capitão quando nem o próprio Daniel esperaria.

O zerozero esteve a conversar com o técnico que trabalhou mais de cinco anos com Daniel Bragança e a ideia foi clara. Um exemplo para todos os jovens que querem atingir um dia a equipa principal do seu clube, a classe de Bragança não passa apenas pelo pé esquerdo.

Depois de entrar frente ao Aberdeen, estreou-se na Liga diante do Paços de Ferreira ©Kapta+

«Ele vai ser o futuro capitão do Sporting»

«O Daniel marcou-me em todos os aspetos. É como um filho para mim». Foi assim que acabou a chamada com Tiago Fernandes. Foram cinco anos e meio de formação, tanto do jogador como do treinador, e uma relação que, dúvidas houvesse, teve impacto na carreira de um e de outro: «Trabalhar com ele foi super fácil. É muito focado e sempre foi comprometido e responsável».

As palavras de Tiago Fernandes mostram a importância que desde cedo foi dada a Daniel Bragança. Com um grupo mais velho nos juniores, mais fechado e unido, o técnico começou logo por mostrar que o miúdo que tinha acabado de subir dos juvenis à equipa de juniores podia ser o futuro do Sporting. Como? Deu-lhe a braçadeira para a mão.

«Não sei se nos anos anteriores era capitão assiduamente. Começou a ser nos juniores. Senti que ele necessitava de se afirmar e ganhar a confiança do grupo. Sendo capitão, era uma forma mais fácil de o integrar». A situação apanhou todos desprevenidos, incluindo o próprio Daniel, mas para Tiago Fernandes a situação sempre foi muito clara.

Em 2017, Daniel Bragança e Tiago Fernandes foram campeões de juniores ©Global Imagens / Miguel Pereira

«O grupo de 98 tinha uma personalidade muito forte, eram muito unidos, então, para integrar os outros miúdos de forma mais fácil, entre eles o Daniel, dei-lhe a braçadeira de capitão para surpresa de todos. Sabia que ele ia ser titular na minha equipa e foi uma forma de o integrar mais rapidamente. Ele não estava à espera de ser o capitão da equipa de juniores no primeiro ano, mas foi uma mensagem que, para ser capitão, não é preciso idade, mas sim ter personalidade e caráter e ele, dentro e fora de campo, é um exemplo para todos».

Se o escalão de juniores é o último antes de chegar ao futebol sénior, seria essa uma preparação para o futuro de Daniel Bragança no Sporting? Tiago Fernandes não duvida que o esquerdino, que até já o foi na equipa principal, será uma referência do clube e o próximo capitão do emblema verde e branco.

«Ele vai ser o futuro capitão da equipa principal do Sporting, não tenho dúvidas». Palavras de um treinador que só tem elogios para o seu ex-jogador e que aconselha os mais novos a olhar para o percurso de Daniel Bragança: «Ele é o maior exemplo do que um jovem deve ser para os outros. Quem quiser ser jogador e saber o que é preciso fazer para lá chegar, que olhe e fale com o Daniel Bragança. Ele é isso tudo».

Jogou uma época no Farense ©Estoril Praia

«Era o melhor médio da Segunda Liga»

Apesar de ser há alguns anos uma das referências das equipas de formação do Sporting, também Bragança teve de passar por um processo de adaptação ao futebol profissional. Dos juniores, passou para a equipa de sub-23, mas a meio da época já dava para perceber que a Liga Revelação era demasiado curta para o talento do esquerdino, que foi para Faro à procura de novos desafios.

«Quando tomei a decisão de querer sair para evoluir e crescer como jogador foi essa a minha intenção, experimentar outro campeonato mais competitivo e acabou por ser positivo», disse, em entrevista ao zerozero, em 2020.

Daniel Bragança Estoril Praia Total

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Depois de uma primeira adaptação à Segunda Liga, Bragança até fez pré-época com Marcel Keizer, mas percebeu que, mesmo perante a possibilidade de se estrear pela equipa principal, havia necessidade de mais tempo de jogo a um nível exigente. E é aí que se volta a cruzar com Tiago Fernandes: «Tinha mais opções, mas senti que o Estoril era o espaço ideal para continuar a minha evolução como jogador», lembrou, na mesma entrevista ao nosso jornal.

«Falámos muito antes de tomar uma decisão. Trabalhar com uma pessoa que já conhecia foi mais fácil para aceitar. Acho que foi por isso», conta Tiago Fernandes, na altura treinador do Estoril Praia e o grande responsável pela ida do médio para a Amoreira. 

Mais do que o facto de já terem trabalhado juntos, o motivo para a aposta no jovem do Sporting era evidente para o técnico: «Era o melhor médio da Segunda liga. Se o pudesse ter comigo, tínhamos mais qualidade no nosso jogo. Desempenha várias funções do meio-campo e, para jogar da forma como gosto - assumir o jogo e pressionar alto -, o Daniel era um jogador muito importante, dava qualidade na construção. Foi por isso que eu lutei muito para o ter no Estoril».

©Kapta+

«Vai ser a referência do Sporting»

Pelos anos que o treinou e por aquilo que tem visto, Tiago Fernandes não tem dúvidas quanto ao valor do médio do Sporting, que, na sua opinião, vai chegar à seleção nos próximos anos. A evolução do médio, fisica e psicologicamente, tem vindo a ser determinante para a sua afirmação. Cada vez mais como oito do que como um seis, ao contrário do que acontecia nos escalões de formação.

«Com duplo pivot, pode ser um dos médios. É muito versátil. Se for só com um médio defensivo, gosto mais dele como 8, para fazer a ligação entre o setor defensivo e ofensivo. É um jogador com muito critério e qualidade no passe. Para jogar a 10 só se for num sistema com dois médios interiores e ele ter mais liberdade porque finaliza muito bem e joga bem próximo dos avançados, a assistir».

«Percebe todos os momento de jogo e isso facilita. Como número 8 é melhor do que como 6 ou 10», na opinião de Tiago Fernandes.

O antigo treinador de Daniel Bragança acredita que o esquerdino, até pela sua evolução nos últimos anos, pode, de uma forma diferente da de Palhinha, jogar como médio com funções mais defensivas, mas, atendendo ao atual plantel, vê Matheus Nunes como o grande concorrente do esquerdino.

«Evoluiu muito e pode jogar como 6. No Sporting, jogando como 6, é um médio de equilíbrio, que tem muitos momentos defensivos, e ele é muito forte nisso. Pensa mais rápido do que os outros e antecipa-se a muitos lances. Aos 16 anos, em termos maturacionais, ainda não está totalmente desenvolvido, mas agora deu um salto muito grande. Esteve dois anos a crescer na Segunda Liga e isso foi muito bom. Já está num momento muito bom da sua carreira em termos de intensidade. Tudo o resto, ele tem acima dos outros».

 «O Daniel esperou pela oportunidade e, quando surge, ele está sempre pronto para dar uma resposta ao nível do seu talento e potencial».

Mas, afinal, o que precisa para se afirmar em pleno com Rúben Amorim?

«Precisa de tirar o lugar ao Matheus Nunes, que é o concorrente direto, e dar continuidade ao que fez neste último jogo [frente ao Vizela]. O Palhinha e o Ugarte são concorrentes diretos um do outro e o Daniel é o concorrente direto do Matheus Nunes».

Com mais anos de Sporting do que de tudo o resto, Daniel Bragança é um exemplo evidente do projeto atual do Sporting. Aos 22 anos, a um jogo de completar os 50 de leão ao peito e campeão nacional, o médio pode, na opinião de Tiago Fernandes, tornar-se uma referência para os próximos anos.

«Penso que o Daniel vai ser uma referência e um exemplo da formação. Veio debaixo, singrou a pulso e afirmou-se na equipa principal».

Só do Sporting? O momento complicado da seleção pode fazer com que a chegada à equipa principal, depois de passagens pelos escalões de sub-18, sub-20 e sub-21 portugueses, não aconteça para já, mas, para Tiago Fernandes, é uma inevitabilidade.

«Se for titular do Sporting, arrisca-se a ser chamado à seleção. Esta época tem tudo para se afirmar no onze. Depois quem sabe uma oportunidade na seleção principal, caso o Fernando Santos entenda, apesar de a seleção estar a passar uma situação de apuramento complicada, o contexto é difícil, mas no futuro próximo, dois três anos, poderá chegar à seleção A».

Como escrevemos no início do artigo, Daniel Bragança marcou a carreira de Tiago Fernandes como treinador. O técnico não arrisca dizer que o contrário também se verifica, mas admite que continua em contacto com o jovem em quem apostou a braçadeira de capitão e que levou para a passagem pelo Estoril Praia.

«Ele é que pode responder, eu fiz tudo para o ajudar diariamente, dentro e fora do campo. Falamos bastante, penso que evoluiu muito em todos os aspetos, é muito inteligente».