Não há antídoto para este veneno brasileiro

Atrai defesas com o seu jeito de driblar, mas deixa-os para trás sem uma réstia de remorsos. Não pede desculpa. Aliás, fá-lo com um sorriso na cara, digno de um conde da travessura, que desorienta defesas por prazer próprio e e não pela satisfação coletiva da vitória. Já o tinha feito há três meses, em Alvalade, e desta vez voltou a repetir a façanha com mais uma exibição forte. Não foi o seu auge da temporada, mas deixou inúmeros pormenores, para além de um golo em que não descansou enquanto não visse toda a defesa leonina a seus pés. Craque absoluto.

Enquanto os olhos estavam na juventude, não que os 24 anos de Tabata sejam de descartar, foi o ex-Portimonense quem mais se destacou do lado do Sporting... de longe. Foi titular apenas pela segunda vez na temporada, somando os 90 pela primeira vez, mas aproveitou ao máximo e acabou o jogo com um golo e uma assistência. Primeiro, um passe divinal para o golo de Nuno Santos, e depois uma finalização carregada de emoção, digna de um jogador que passou o jogo inteiro a puxar a equipa para a frente. A ter em conta.

Não teve envolvimento nos golos, ao contrário do seu colega de setor, mas o defesa central argentino foi um dos elementos mais destacados do lado do Ajax. Imperial nos duelos, impedindo o Sporting de combinar no ataque com vários cortes e interceções inteligentes, mas foi também consistentemente fantástico no capítulo do passe, puxando a equipa para a frente dessa forma. Como se não bastasse, foi dele a maior ocasião que não deu golo: um fortíssimo pontapé ao poste.

Foi o médio mais consistente do lado neerlandês enquanto esteve pelo meio, revelando-se muito inteligente com a bola no pé, mas destacou-se ainda mais quando teve oportunidade de ir para o trio atacante depois da saída de Neres. Bastaram dois minutos a jogar à direita para aproveitar uma chance de cortar para dentro, deixando o defesa em contrapé, e finalizar com a canhota. Ainda deu trabalho ao jovem Nazinho até ao final. Já tinha marcado em Alvalade e agora repetiu a façanha...

Praticamente todos os golos do Ajax chegaram de um erro leonino. Foi esse o caso do pisão de Bragança na área, ou da escorregadela de Nuno Santos, mas nenhum foi tão doloroso (ou tão grave) como o deslize de Gonçalo Inácio na saída do Sporting. Tem apenas 20 anos, é claro, mas costuma ser uma presença composta e fiável, ao contrário do que mostrou naquele 43º minuto. Ganhou esse pontapé de baliza com classe, mas depois deslumbrou-se na construção e atirou o Sporting para a desvantagem. Nesta prova, erros custam caro.

Costuma destacar-se mais por ser trabalhador e agressivo na primeira linha de defesa do que propriamente como goleador, mas hoje deu menos ao Sporting do que se podia esperar. Cada bola que lhe chegou aos pés em momento de transição ofensiva, muitas vezes com espaço e em igualdade numérica, foi desperdiçada com maus passes ou tentativas de drible demasiado ambiciosas. Mostrou pouco entendimento com Tabata e Nuno Santos, e não teve oportunidade para mostrar as suas principais valências.

A viver aquele que é provavelmente o melhor momento desde que chegou ao Sporting, e talvez tenha sido por isso mesmo que Neto mostrou excesso de confiança em tantos lances. Não com bola, mas na forma como abordou quase todas as suas tentativas de desarme, com o tipo de agressividade que é bela quando resulta mas, quando não funciona, o deixa colado ao chão porque foi à queima. Não foi o pior (porque, lá está, ainda acumulou vários desarmes), mas ficou mal em vários lances de golo e pede-se mais compostura a um defesa tão experiente.