Numa altura em que está quase a fazer o primeiro aniversário da sua saída do Benfica e ida para o Equador, Renato Paiva contou ao zerozero como tem sido a experiência no Independiente del Valle e o caminho rumo à possibilidade de fazer história. Além disso, o treinador português falou dos seus largos anos de ligação ao Benfica, de vários dos jovens que lhe passaram pelas mãos, e surgem agora no radar da equipa principal, e do momento da saída de Bruno Lage.
Um dos temas abordados por Renato Paiva centrou-se em Paulo Bernardo, um jovem com quem conviveu na equipa B e que fez recentemente a sua estreia na equipa principal do Benfica, e a quem deixou rasgados elogios, considerando que será uma grande fonte de rendimento financeiro e desportivo para os encarnados no futuro.
Nome habitual na equipa B desde a temporada passada, Paulo Bernardo começou a surgir na equipa principal do Benfica este ano. Fez a sua estreia absoluta na equipa principal num palco de respeito, a Allianz Arena - na derrota por 5x2 com o Bayern Munchen - e logo na Liga dos Campeões e mais recentemente estreou-se também na Primeira Liga, frente ao SC Braga (6x1).Jorge Jesus deixou-lhe rasgados elogios e os números do tempo que esteve em campo - entrou ao minuto 23 pelo lesionado João Mário - apoiam-no. O jovem de 19 anos teve uma exibição assertiva e procurou não errar. Tentou jogar sempre simples e fazer um pouco daquilo que João Mário estava a fazer e isso levou a que cometesse um reduzido número de erros, de tal modo que terminou com uma percentagem de acerto no passe de 90%. Além disso, apenas perdeu duas vezes a bola em todo o jogo e foi solidário na defesa, com dois cortes e seis duelos ganhos. Faltou-lhe apenas aventurar-se mais no ataque - apenas um remate -, algo que tem vindo a evoluir com os anos, como referiu Renato Paiva.
zerozero (ZZ): Recentemente o Paulo Bernardo fez a sua estreia absoluta na equipa principal, frente ao Bayern Munchen, e na liga, frente ao SC Braga. Viu esses dois jogos? O que achou da performance?
Renato Paiva (RP): O Paulo tem uma história bonita connosco. Ele estava identificado no Benfica como um médio de elite, mas eu disse-lhe que havia uma diferença entre um médio de elite e um médio de grande qualidade: fazer golos. Enquanto ele não fizesse golos ele nunca chegaria a um médio de elite. A verdade é que o Paulo, com o miúdo inteligente que é, soube escutar, esperar e trabalhar em função disso. Ainda estava eu na equipa B e ele começou a ter golos, a ter chegada à baliza. A tal exigência de ir e vir. Toda gente olhava para ele como um 10 e ele passou a ser um 8. Passou a ter sacrifício defensivo. Eu saí, ele continuou o seu percurso e continuou a fazer golos. Eu deliciava-me sempre que via golos do Paulo, porque me lembrava desta história e ele sabe que é verdade. O Paulo fez alguns jogos de equipa B. Se é o momento? A decisão será sempre de quem trabalha com ele. O Jorge Jesus sabe que para definirmos se é o momento, também temos que ver o contexto. Se o Paulo é melhor que as outras opções, é o treinador que tem que decidir. O que posso avaliar é o potencial do Paulo e esse não tem fim. E eu disse depois de sair, o Paulo é a futura maior venda do Benfica e o futuro da formação com mais rendimento desportivo no onze do Benfica. Vejo o Paulo, com respeito a todos os outros, mesmo que eles não gostem de ouvir e com todo o carinho que tenho por eles, desta forma. Disse no passado isto sobre o João Félix, e só me falta acertar na luta pela Bola de Ouro, e agora digo isto do Paulo. Sinto que é diferente dos outros em muitas coisas. Sinto que é um predestinado e que se tiver saúde, sem lesões graves, vai dar muito rendimento desportivo e financeiro ao Benfica. O timing só Jorge Jesus poderá dizer, mas pelo menos já demonstrou que está pronto para entrar a meio de jogos de grande exigência. Agora o Paulo tem que fazer o seu caminho como fez até aqui.
ZZ: Um dos aspetos fundamentais, além da qualidade, que ele tem, é o aspeto mental nesta fase. Como é que ele é nesse aspeto?
RP: O Paulo é um miúdo super reservado. Não se ouve a falar e já lhe disse que tem que falar mais alto e mais vezes, mas também acho que isso o ajuda. O foco, o estar ali. Dentro do campo ele muda e o futebol dele fala por ele. Torna-se líder. Mas fora é um miúdo reservado, humilde e muito calado, mas focado naquilo que quer. Tem tudo para ser um jogador de elite, não há cá extravagâncias nem desconcentrações. É muito inteligente, sabe o quer, sabe escutar, que é uma virtude muito grande. Foi assim que chegou onde chegou e onde acho que vai chegar onde vai chegar.