A lesão de Lucas Veríssimo contra o SC Braga vai desfalcar a equipa para o que resta da temporada. O cenário foi o pior e, como tal, o defesa enfrenta um longo período de recuperação, pelo que Jorge Jesus vai precisar de novas soluções. Já se especula com a ida ao mercado de janeiro, de forma a encontrar um nome inquestionável (Rúben Semedo voltou ao radar), mas até lá há dois meses de competição, com momentos de enorme exigência - além da decisão da fase de grupos da Liga dos Campeões, também a receção ao Sporting e a ida ao Dragão, tudo em dezembro, implicam que o treinador trabalhe a equipa já em novembro para que não sinta essa lacuna.
O zerozero debruçou-se sobre o que o treinador tem em mãos para tentar antecipar as eventuais soluções para resolver este problema. Morato está na linha da frente, mas há outras equações a fazer.Tem sido, de forma natural, a alternativa para a defesa quando falha um dos três centrais. Em condições normais, vai ser ele o escolhido: já fez 12 jogos na equipa principal esta época, está familiarizado com as dinâmicas e com as funções da posição. A questão é que várias vezes atuou do lado esquerdo, o que, sendo canhoto, faz todo o sentido. Quando entrou contra o SC Braga, foi aí que se posicionou, o que fez com que Vertonghen passasse para o centro e Otamendi assumisse o lado direito. Ou seja, a solução Morato, nestes moldes, resultaria em três mudanças de posição no setor mais recuado.
Além disso, é muito mais curto na saída com bola, o que não é tão preocupante quando há Lucas Veríssimo ao lado, mas que se torna um problema para a equipa se o brasileiro não está. Pressionados, Vertonghen, Otamendi e Morato são elementos mais vulneráveis e as saídas de bola não terão a mesma qualidade.
O homem das sete vidas no Benfica é sempre alguém a ter em conta. Neste caso, diríamos que é o segundo na lista. Ao contrário de Morato, a sua utilização, até por ser destro e por ter características mais propícias à saída de bola, seria exatamente no lugar de Lucas Veríssimo, o que não seria propriamente uma grande surpresa - na impossibilidade de compra de mais um central no verão, Jorge Jesus ficou com André Almeida pensado para a posição, e já o disse.
O estado débil, em termos físicos, que tem apresentado depois da grave lesão é um aspeto negativo, e que tornaria a escolha mais suscetível de insucesso. Mais do que alguma inadaptação ou erros que possa cometer, esse é o ponto que tem contra si, pois poderia obrigar, a qualquer altura, a nova necessidade de outra solução.
Sendo Jorge Jesus alguém que, historicamente, aplicou o 4x1x3x2 nas equipas que treinou e que lutavam pelo título, não seria descabido olhar para esta solução como uma oportunidade, em contra-ciclo com a tendência crescente para o 3x4x3 e o 3x5x2. Tendo em conta a exibição recente de Everton, que assim pede continuidade no onze, seria uma forma de manter a dupla de ataque (Yaremchuk e Darwin), jogando Rafa pela direita. Para consumo interno, em jogos que se previssem de grande pendor ofensivo, faria todo o sentido.
Contudo, muitos dos jogos neste período serão repartidos, em termos de forças coletivas. Assim, e não esquecendo que não correu bem juntar Otamendi e Vertonghen a centrais numa linha a quatro (até porque os laterais, Gilberto e Grimaldo, têm claras dificuldades defensivas), essa opção iria expor em demasia a equipa. E, mesmo se Weigl baixasse para central, como chegou a acontecer na época passada, introduzindo-se outro médio defensivo, também seria arriscado, pelo que o meio-campo perderia sem o alemão.
Esteve perto de se estrear para a Taça de Portugal e é um elemento que tem trabalhado muitas vezes com a equipa principal, apesar de ser opção regular na equipa B (onde já entrou em duas equipas da semana do zerozero). Joga pelo lado direito e tem boa saída com bola, sendo capaz de transportar e passar primeiras linhas de pressão. Além disso, é um elemento da formação, em quem o clube confia, na mesma linha de Paulo Bernardo, o que seria um ponto muito favorável a Jorge Jesus, tantas vezes acusado de não fazer essa aposta.
Só que o salto de uma equipa B para uma equipa principal, com tantos jogos decisivos pelo meio, acarreta um claro risco, que Jorge Jesus dificilmente quererá correr. Se Tomás Araújo, apesar dos ótimos professores que teria ao lado, falhasse, o jogador quebraria numa fase importante da sua afirmação e o técnico também não se livraria do escrutínio. Tem tudo a ver com a forma como se vê o copo: meio vazio teria essa perspetiva, meio cheio indicaria que é em situações destas que os jogadores se revelam e agarrar oportunidades.
No último ano e meio, fez somente 11 jogos, muito pouco para um jovem que se pretende afirmar. No fundo, já o tinha conseguido numa primeira fase, com Bruno Lage, tanto que era visto como indiscutível no Benfica e hipótese para o futuro da seleção, só que a queda foi tão grande como a ascensão. Esta época, entrou na Trofa por necessidade, mas já depois de André Almeida, o que é significativo.
Nesta altura, parece claramente que não conta para Jorge Jesus, para além dos problemas físicos que tem tido, portanto não é descabido olhá-lo como a opção menos provável para esta missão.