Dupla jornada de Portugal: cinco motivos de interesse

Não existe sombra de dúvida de que Cristiano Ronaldo é, e sempre será, a principal referência do futebol português, uma vez que também é um embaixador da própria modalidade a nível Mundial. Ainda assim, é impossível negar o crescimento que Bruno Fernandes teve a nível de reconhecimento global desde que se tornou numa das figuras do Manchester United.

O camisola 18 dos red devils - por norma o 11 por Portugal - ainda deixa uma ligeira sensação que não consegue atingir no panorama internacional o nível exibicional a que habitualmente ostenta pelo seu clube. Já foi apontada a coexistência com Cristiano Ronaldo na seleção como um motivo para esta quebra, mas o mesmo não se tem revelado agora que são colegas de equipa a nível de clubes.

Será interessante perceber se, após um mês de trabalho no Manchester United, estes dois símbolos do futebol português estão mais próximos de se tornarem numa dupla de luxo para a equipa das quinas.

A conversa que aponta o centro da defesa como principal fraqueza já não é justificada, mas continua a ser relevante a reflexão acerca de quais os nomes que a vão integrar a longo prazo. Já apareceu Rúben Dias, que é um nome que dificilmente sairá do onze luso, mas Pepe e José Fonte, que têm respetivamente 38 e 37 anos, não vão durar para sempre...

Ora, se o capitão do FC Porto regressou recentemente de lesão e pode vir a ter minutos reduzidos nesta dupla jornada, o veterano do Lille nem sequer figurou entre os convocados iniciais pelo mesmo motivo, embora tenha sido chamado para substituir um Domingos Duarte que por sua vez também tem em mãos um problema clínico.

Há um mês Gonçalo Inácio foi esse olhar para o futuro, mas não se chegou a estrear devido a uma lesão que ainda o atormenta. Resta, na atual convocatória, a opção de recurso que é Danilo Pereira. Este volume de problemas físicos, num contexto de jogos relativamente fáceis, podia significar uma oportunidade para preparar o futuro, mas em vez disso é lenha para reacender o debate do costume.

Aos 27 anos, Bernardo Silva já tem no seu histórico uma carreira de enorme sucesso, com excelentes números por clube e seleção. No Manchester CIty, um dos melhores e mais exigentes emblemas do Mundo, fixou-se como uma das peças importantes no xadrez de Guardiola que tão rapidamente muda de meios e pessoal.

Quase sempre a partir da faixa direita para o meio, embora por vezes também comece no meio, mas sempre por terrenos ofensivos. Foi assim que ganhou o prémio de jogador do ano dos cityzens em 2019. Nas duas épocas desde aí arrefeceu ligeiramente em termos de produção e chegou a estar perto da saída neste verão, acabando por ficar no clube só para ganhar um lugar no onze numa posição diferente.

Tem sido médio centro. Um verdadeiro «oito», que ajuda a equipa a subir e que aparece na área para defender. Não é uma posição nova, mas nunca foi aquela em que atuou quase exclusivamente, até agora. Mesmo com números reduzidos de golos e assistências, como é natural, tem merecido elogios e agora regressa à seleção com rotinas novas. Com tanto poder de fogo na frente, fará sentido recuar Bernardo no terreno?

Este é um motivo que constantemente atrai o interesse dos adeptos para os jogos de Portugal. A constante mutação da seleção, que é construída pela voz de Fernando Santos, permite que a cada ocasião apareçam novos nomes. Desta vez, falamos mesmo de perfis entusiasmantes.

Matheus Nunes está entre os convocados depois de rejeitar a chamada à canarinha, e é o tipo de jogador que se pode fazer muito útil. Um médio diferenciado e com apetência especial para aparecer nos jogos grandes. As capacidades de Renato Sanches, por exemplo, costumam ser bastante úteis e o perfil do médio do Sporting é bastante semelhante. Drible, choque e muita progressão com bola pelo miolo.

Mais entusiasmante ainda á Rafael Leão, que finalmente aparece entre os convocados, para substituir Rafa. O atacante do AC Milan está a viver uma boa fase e merece a chamada, mas se quiser estar na próxima convocatória (e quiçá no Mundial) vai ter de aproveitar os minutos que tiver. Também Diogo Costa é um potencial estreante, mas Fernando Santos já admitiu que minutos agora «é difícil».

Numa fase de abundante talento nacional, cresce o debate acerca dos potenciais convocados para a seleção, naturalmente. Mas existe uma tendência para que isso aconteça apenas em convocatórias importantes - para fases finais, por exemplo - ou durante os jogos.

João Félix é a principal ausência, pelo menos em termos da dimensão do nome. Tem apenas 21 anos, mas já leva 18 jogos por Portugal e é mediático o suficiente para justificar uma inclusão que lhe tem fugido. Até foi dos melhores no Clássico frente ao Barcelona, mas mesmo assim ficou de fora do trio chamado para substituir Domingos Duarte e Rafa, o que dá a entender que a não convocatória é novo «puxão de orelhas».

A ausência não deixa de ser uma boa ocasião para perceber onde é que um jogador do seu perfil faz falta e o quê que pode trazer no futuro. Para além de Félix, as mesmas questões podem ser feitas acerca de outras ausências, embora as principais (Ricardo Pereira, Pedro Gonçalves, Otávio, Rafa e Gonçalo Inácio) o sejam devido a lesão.