Pertence ao SL Benfica, está emprestado por duas temporadas ao PSV Eindhoven e o zerozero voltou a conversar com ele, desta feita no centro de treinos do clube neerlandês. Desde 2018, altura em que falou pela primeira vez com o nosso jornal, a carreira de Carlos Vinícius sofreu imensas mudanças.
Saiu do Rio Ave para o SL Benfica, onde se sagrou um dos melhores marcadores do campeonato em 2019/20, depois para o Tottenham de José Mourinho (e Harry Kane!) e, agora, vive um novo desafio num clube que aposta «no futebol ofensivo», algo que, segundo o próprio, encaixa na perfeição com as suas características.Do título que fugiu, passando por Bruno Lage, Jorge Jesus, José Mourinho e outros temas atuais, Carlos Vinícius abriu o livro em exclusivo ao zerozero [ver vídeo acima].
zerozero: Da última vez que conversámos contigo foi em 2018… Desde aí tiveste no Rio Ave, passaste pelo AS Monaco, SL Benfica, Tottenham e agora, nos Países Baixos, no novo projeto do PSV. Esperavas que, num curto espaço de tempo, a tua vida mudasse tanto e que tivesses tantas experiências diferentes?
Carlos Vinícius: É verdade. É sempre um prazer falar com vocês. A primeira vez foi em 2018… Não é um tempo longo, mas passaram-se muitas coisas e graças a Deus foi sempre a subir, a crescer e mais, uma vez, fico feliz por estar a falar novamente com vocês.
zz: Depois do Rio Ave e do AS Monaco chegaste ao Benfica, um clube de grande dimensão. Como é que te sentiste na primeira época, já que correu muito bem para ti a nível individual – um dos melhores marcadores do campeonato? Estavas preparado para o impacto de jogar por um clube com grande dimensão nacional e internacional?
CV: Desde a minha chegada a Portugal, na primeira passagem pelo Real SC, já via a grandeza do Benfica não só em Portugal, mas também no resto do mundo. Sabia do desafio de representar um grande clube e, como disseste, a nível individual foi perfeito. Muito bom para mim. Pena que não tenhamos sido campeões nacionais. É uma das grandes tristezas que trago comigo até aos dias de hoje, mas acredito que este ano, com os meus colegas que ficaram, que vai dar. É um grande clube, que todos os anos tem que ser campeão. Tem uma estrutura fantástica, dos adeptos nem se fala… Tem que estar lá em cima e à frente de tudo.
CV: Sim, teve… Mas não foi só isso. Foram vários fatores que levaram a que não fossemos campeões. Demos tudo. É verdade que tivemos sete pontos de avanço e acabámos por perde-los. Se não me engano, foi depois de janeiro… É muito ponto e nós tínhamos que segurar a distância pontual. Mas depois aconteceu a pandemia, entre outras coisas, e não conseguimos segurar essa vantagem. Como já disse, com os meus colegas lá, acredito que este ano vai dar.
zz: Nesse ano trabalhaste com o mister Bruno Lage, um treinador conhecido por prezar a relação com os jogadores. Quão importante foi para a tua carreira? Agora que o vês na Premier League, ao serviço do Wolverhampton, acreditas que vai ter sucesso?
CV: É engraçado… Eu lembro-me que a estreia do Bruno Lage na equipa principal do Benfica foi contra o Rio Ave, quando estava lá. Eles venceram por 4x2. Depois do jogo vi uma entrevista do Bruno Lage e gostei: pessoa humilde e focada, que trabalhou muito para chegar onde chegou. Comecei a ver e a perguntar a amigos meus, que na altura estavam lá, como é que ele era e todos falaram muito bem dele, da humildade e do facto de ser uma pessoa trabalhadora. Fiquei sempre com isso na cabeça. Mais tarde, surgiu a oportunidade para ir para o Benfica e trabalhar com ele. Foi muito importante para a minha ida para o Benfica, para a minha carreira, a paciência que ele teve comigo até eu ter o meu lugar na equipa... Tenho uma história engraçada que me marcou muito e levo comigo até aos dias de hoje. Quando cheguei ao Benfica, ele perguntou-me se eu estava preparado para ser suplente porque primeiro tenho de estar preparado para ser suplente para depois ser titular. Isso marcou-me porque foi diferente. Foi um ato de humildade. Teve paciência. Colocou-me a titular, assumi o lugar e estive bem. É uma pessoa que levo comigo e que tem um perfil que me agrada muito no futebol. É humilde e batalhador. O passado preza a história e é uma pessoa que gosto muito, torço muito por ele. Vai ter sucesso porque, para além do profissional, é um grande homem. No futebol, para seres um grande atleta, um grande profissional, primeiro tens de ser um grande homem. E ele é isso mesmo.zz: No verão da época seguinte entra o Jorge Jesus e o Benfica ataca muito o mercado, com chegadas, por exemplo, de Darwin e Waldschimdt, pelo que acabaste por sair no final desse defeso. Sentiste que a tua saída se deveu ao facto de seres um ativo importante ou foi uma opção do treinador que preferiu ficar com outros jogadores no plantel?
CV: A pandemia afetou muito os clubes e o Benfica é muito grande, por isso precisa que todos os anos entre dinheiro. A verdade é que, como disseste, eu era um ativo. Se não estou em erro, eu e o Rúben Dias eramos os que tínhamos mais mercado. O mister Jorge Jesus voltou para dar muito novamente ao Benfica. É um treinador campeão. Estava no Flamengo, onde foi campeão, e decidiu regressar ao Benfica. Isso mostra que é grande e o carinho que ele tem pelo clube. No fim, o clube, juntamente connosco, decidiu que ia sair. Fiquei feliz porque era uma oportunidade irrecusável, de ir para o Tottenham. Essa experiência ajudou muito a minha carreira. Hoje sou um jogador mais experiente por ter jogado em grandes clubes como Benfica e Tottenham. Fico tranquilo com isso.
zz: Falando agora do Tottenham… Como foi a experiência na Premier League, um dos melhores campeonatos do mundo, e de trabalhar com José Mourinho, um treinador muito carismático e um dos mais bem-sucedidos da história do futebol?
CV: Só tive a ganhar com essa passagem. Costumo dizer que existe o futebol, que é o que nós jogamos, e depois existe a Premier League [risos]. É um grande campeonato. Só tenho pena de não ter apanhado os estádios completamente cheios. Aquilo que vivemos dentro do campo é algo sensacional. Uma experiência incrível, tal como foi ter trabalhado com o mister Mourinho. Para além de ter sido treinado por ele, tenho a sua amizade. Isso é o que levo. Sou um privilegiado por ter trabalho com o Mourinho e com o Jorge Jesus, que são dois treinadores conceituados no mundo do futebol.
zz: Lá tiveste um protagonismo interessante, mesmo lutando com o Harry Kane, e o José Mourinho chegou a elogiar-te bastante em conferências de imprensa. Sabendo que o Tottenham tinha de exercer a opção de compra [45 milhões de euros], sentiste que houve vontade do clube em contratar-te?CV: Sim, em alguns momentos o Tottenham quis, mas acabou por não conseguir. Em relação ao Kane, dispensa qualquer comentário. É um grande avançado. Para mim está entre os três melhores avançados da atualidade. Fico feliz de ter aprendido tanto mesmo tendo sido suplente dele. Nessa situação, só tens duas opções: ou largas, ou aprendes e, nos minutos que te dão, provas o teu valor. Foi essa que escolhi. Aproveitei, dei o meu máximo, provei o meu valor e acredito que o pessoal do Tottenham, incluindo os adeptos, gostaram. Não foi fácil para mim porque, na minha posição, estava um dos melhores avançados do mundo. Tentei desfrutar o máximo dos treinos, dos jogos e de tudo que envolvia a Premier League.
zz: Regressaste ao Benfica este verão, fizeste a pré-época com a equipa, mas não tiveste muitas oportunidades de jogar. Esperavas ter continuado no plantel? Ficaste com alguma mágoa?
CV: Na minha carreira e na minha vida tento, independente da situação, desfrutar e aprender o máximo possível. Muitas pessoas pensam que eu não gosto do Jorge Jesus ou algo do género. Não. Eu aprendi muito com ele. É um treinador, um professor do futebol que te ensina muito. Hoje sei mais sobre a minha posição graças a ele. Conhece muito o jogo. A única tristeza que eu tenho é não ter sido campeão pelo Benfica. De resto, muito contente. A minha família gosta muito do Benfica, eu gosto muito do Benfica e acompanho o clube com regularidade. Tenho colegas lá que me marcaram, não só dentro de campo, mas também fora dele. É um clube que tenho no meu coração. Os adeptos acolheram-me e ainda hoje o fazem, têm um carinho enorme por mim. A minha única tristeza é não ter conquistado o título e ter dado aos benfiquistas que tanto merecem. Mas deste ano não passa e estou aqui a torcer por eles.
zz: Na posição de avançado, o Benfica tem várias opções de qualidade: Darwin, Seferovic, Yaremchuck, Gonçalo Ramos… Achas que está bem servido?
CV: Muito bem servido, sim. Isso mostra a grandeza do Benfica. Ter vários avançados e poder jogar qualquer um. Neste momento, é necessário. O clube está na Liga dos Campeões e tem várias competições para disputar. Tirar um e colocar outro, o nível fica sempre bem alto. São grandes avançados, grandes colegas de profissão. Aprendi com eles e fico muito feliz por ter partilhado balneário e o campo com eles.
zz: Acredito que tenhas tido vários interessados nos teus serviços neste defeso. Porque escolheste o PSV e o futebol dos Países Baixos?CV: O PSV é um grande clube. Já tem uma história com jogadores brasileiros, inclusive de avançados. Tem uma ideia de jogo ofensiva e por isso encaixou naquilo que procurava. O PSV também quis que eu viesse e fez muitos esforços. Por isso, tinha que retribuir e aceitei vir para cá. Desde que cá cheguei, todos me receberam de braços abertos. É um ‘clube-família’. A cidade é acolhedora, tranquila. Estou muito feliz aqui com a minha família e acredito que vêm aí grandes coisas
zz: O campeonato neerlandês é conhecido pelos muitos golos e futebol de ataque. Foi um aspeto importante para a tua escolha pelo facto de poder ajudar na tua valorização?
CV: Sim, até pela minha posição é importante estar num campeonato de futebol ofensivo e numa equipa que preza esse tipo de jogo. Isso é bom para mim e para o clube, pelo que dá uma relação perfeita. Os próprios amantes gostam de um futebol ofensivo e as coisas, hoje em dia, estão a caminhar cada vez mais para isso. Está a dar certo.
CV: Procuro estar sempre focado onde me encontro. Neste momento, estou feliz muito contente pela forma como o clube, os adeptos e o treinador me receberam. Estão a deixar-me muito à vontade. O estádio é uma coisa espetacular, os adeptos são muito fortes. Estou focado aqui e quero fazer história aqui. É um clube que luta por títulos e queremos ser campeões porque, na verdade, é isso que fica e eu vou ser mais um para ajudar.
zz: És um jogador de origens humildes e já tiveste um percurso recheado de diferentes experiências e de muito sucesso. O que ainda almejas conquistar?
CV: Passa muito pelos títulos. Nós vamos e o que fica é a história, os títulos. Estou num clube que quer ser campeão e o pensamento tem que ser esse.
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