Era urgente a reação. Deixar fugir todos os pontos na Sérvia e deixar fugir a vitória nos Açores foram sintomas de um SC Braga a viver um arranque de época tremido, em processo de redescoberta de si mesmo. Não, não está tudo bem de um dia para o outro, mas três pontos em casa contra o Midtjylland permitem encarar de outra forma o que resta da fase de grupos da Liga Europa.
A equipa de Carlos Carvalhal voltou a ameaçar desiludir, passou por 45 minutos que terminaram com desvantagem no marcador e com nova demonstração de falta de imaginação ofensiva, além de um penálti desperdiçado, mas a reação para lá do intervalo, tanto do banco como dentro das quatro linhas, deu aos minhotos a reviravolta com três golos, dois de Galeno e um de Ricardo Horta.
O bom de ser inconstante nos resultados... é que para o ser também há que ganhar (bem), como aconteceu esta noite.
Duas equipas com identidades táticas semelhantes, início de um construção a três de um lado e do outro, um SC Braga que quis levar ainda mais longe a inovação: arrancou sem ponta-de-lança, porque já não havia Abel Ruiz entre os disponíveis e Mario González não foi chamado a jogo para o primeiro tempo. Chiquinho, Ricardo Horta e Lucas Piazón formavam a frente de ataque móvel, com trocas de posição constantes, a profundidade flanco fora estava a cargo de Galeno e Yan Couto.
Em certos aspetos, o SC Braga começava por repetir pecados recentes, em particular no ataque, onde a imaginação começou por faltar. E também na defesa, porque tal como na Sérvia um penálti por inteiro desnecessário complicou a vida aos minhotos. Diogo Leite esticou a perna e derrubou Isaksen, apitou para a marca de grande penalidade a francesa Stéphanie Frappart (os tabus do futebol masculino vão-se esfumando passo a passo). Com o número 10 estampado nas costas, ilustrativo da importância que tem neste Midtjylland, Evander bateu Matheus com toda a calma do mundo.
Menos calma poderá ter tido Ricardo Horta... ou foi mérito total de Ólafsson? O guardião dos dinamarqueses travou Galeno em falta para penálti, mas travou o remate do capitão arsenalista e permitiu aos visitantes segurarem a vantagem até ao intervalo, baixando as linhas no momento de maior ímpeto ofensivo do SC Braga e expondo por algum tempo as recentes dificuldades minhotas em descobrir soluções contra um bloco recuado.
Nos onze que estavam em campo mudaram dois nomes. Francisco Moura e Mario González saltaram para o terreno de imediato, saíram Sequeira e André Castro. Carvalhal não escondia a vontade de dar mais soluções atacantes colocando um lateral de clara propensão ofensiva e a tal referência do ataque que não havia de início.
A mensagem passou à equipa, a reação foi veloz. E tão veloz é Galeno... seria a figura do jogo, começando por converter uma grande penalidade depois de falta sobre Mario González. Se Ricardo Horta tinha falhado, Galeno não tremeu na hora da verdade. Quanto a Horta, teria oportunidade de redenção, bem aproveitada: numa jogada com muita intensidade nos passes, Mario González fez uma assistência de forma aparentemente acidental e o capitão consumou a reviravolta.
Ainda houve um outro susto, até porque Evander é mesmo jogador... mas mostrou-se Matheus, os minhotos lidaram com as ameaças e, depois de verem o Midtjylland ficar reduzido a dez por expulsão de Juninho ainda conseguiram a machadada final nos lobos. Galeno, claro, a estrela da noite.
Que grande jogo do brasileiro... o flanco esquerdo foi todo dele, colocando constantemente os defesas em sentido. Mostrou personalidade na forma como assumiu o segundo penálti depois de Ricardo Horta ter falhado o primeiro e ainda marcou mais um golo a fechar. O homem da noite.
Sabemos o quão cruel é colocar algo referente ao SC Braga neste espaço depois de uma segunda parte tão afirmativa, mas o jogo contou com mais um alerta: jogar sem referência no centro de ataque não foi solução para os problemas ofensivos, pelo menos desta vez. E Mario González, mesmo sem marcar, teve papel importante.