Em dia de draft, Diogo Brito recorda Neemias: «Ficámos estupefactos no primeiro treino...»

Esta madrugada, de quinta para sexta-feira, pode ser um dos dias mais importantes na história do basquetebol português. Neemias Queta tem tudo para ser escolhido no draft e tornar-se no primeiro português a chegar à NBA, a melhor competição de basquetebol do Mundo. No zerozero, já recordámos o seu percurso, já analisámos as suas possibilidades e já falámos com quem o treinou no início da carreira, mas ainda temos mais para si.

Em dia de draft, fomos falar com Diogo Brito, base de 24 anos que partilhou duas temporadas com Neemias Queta nos Estados Unidos, ao serviço dos Utah State Aggies, nas quais atingiram a March Madness, o torneio final do basquetebol universitário norte-americano. O jovem luso recordou os dois anos com Neemias e foi desde o primeiro treino, que deixou todos estupefactos, até à decisão de se juntar à NBA, que acredita ser possível, mesmo na primeira ronda, e onde acha que o poste pode causar impacto.

Não demorou a impressionar

©Elsa / Getty Images

Diogo Brito começou por nos contar que só conheceu Neemias Queta quando este chegou à Universidade de Utah, mas o jovem poste não demorou muito a impressionar Diogo, os restantes companheiros de equipa e mesmo o treinador. Bastou um treino para os deixar a todos «estupefactos».

«Sinceramente, quando ele fez o primeiro treino, ficámos todos estupefactos com as capacidades dele. Era uma equipa muito boa técnica e taticamente, mas faltava essa força interior no nosso jogo. Ele é um poste dominante e o impacto que teve no primeiro treino defensivamente foi surreal. Nós vimos logo que íamos ser muito melhores com ele e que podia ter um futuro bastante risonho.», contou.

A partir daí, mesmo não vivendo juntos no primeiro ano, algo que passou a acontecer no segundo, Diogo foi muito importante para a adaptação de Neemias, ainda que, segundo o jovem base, o poste já estivesse surpreendentemente preparado para a nova realidade.

«Eu sempre tentei ajudar e ele já disse em entrevistas passadas que eu fui quase como um irmão mais velho. Sem querer meter-me nas palavras dele, foi o que eu tentei sempre. (...) A adaptação dele foi muito fácil. Quando chegou, o inglês dele já era muito bom e mesmo os maneirismos já eram muito americanizados. Não sei como é que era possível. Notava-se que estava bastante à vontade com a cultura e com as pessoas, por isso adaptou-se muito facilmente.», explicou.

Forte na defesa, mas não só

©Utah State Aggies

Neemias Queta causou impacto logo no primeiro treino e muito desse impacto deveu-se às suas capacidades defensivas, que Diogo considera «muito acima da média». No entanto, não é só nesse aspeto que o jovem poste se destaca, mas também no treino e no lado mental.

«A capacidade defensiva e a maneira como contestava lançamentos e estava em todo o lado... Nós até podíamos pressionar um pouco mais a bola porque sabíamos que tínhamos o Neemias a proteger o pintado e o cesto. Sem dúvida que as capacidades defensivas dele estão muito acima da média.», referiu.

«A nível de treino - e eu aprendi bastante com ele -, é um atleta que se foca muito no detalhe, sem ter pressa. Ou seja, ele prefere aprender um movimento bem e partir o movimento em partes diferentes e ter a certeza que as faz todas bem e não à pressa. Ele é um atleta que toma o seu tempo a aprender as coisas e acaba sempre por conseguir dar aquele passo em frente.», continuou.

«É um atleta que por vezes se deixa levar pelas emoções, mas também é isso que o torna a ele e a outros atletas bons. Conseguem alimentar-se dessas emoções. Ele gosta de se picar com os outros jogadores, mas fora do campo é uma pessoa muito tranquila. Sabe que tem que ouvir quando erra e ouve e aprende muito facilmente.», acrescentou ainda.

O grande dia para Neemias e Portugal

Esta é a segunda vez que Neemias Queta tenta entrar na NBA, se bem que na primeira não chegou ao draft, tendo retirado o seu nome antes o evento acontecer. Na altura, chegou a participar no draft combine, mas a experiência não foi a melhor e acabou por voltar atrás. Agora, dois anos, um Europeu e uma lesão depois, o poste está de volta e tem tudo para entrar na prova norte-americana.

«Acho que foi uma boa decisão retirar o nome do draft na altura. Sinceramente, até foi uma surpresa para mim, quando se inscreveu, mas acabou por ir ao Coimbine e disseram-lhe que precisava de evoluir fisicamente e noutros aspetos do jogo. Ele ouviu isso e, na minha opinião, tomou uma decisão que mostra a sua maturidade e inteligência de perceber que se calhar não era a altura certa. Foi pelo instinto dele e acabou por retirar o nome. Nesse verão há a lesão e isso ainda atrasou mais o processo, mas agora vai, felizmente, e acho que está mais preparado.», contou.

«Estou bastante confiante e bastante nervoso. Quero muito ouvir o nome dele. Vai ser um passo muito importante para o futuro dele e para o basquetebol português. (...) Acredito que a é possível [ser escolhido na primeira ronda]. Devido às características dele, muito específicas, pode haver uma equipa que precisa de um jogador assim e o escolha ainda na primeira ronda.», continuou.

©Utah State Aggies

Seja onde for, o importante é que chegue à NBA e tenho espaço para crescer. Foi esta a ideia que Diogo Brito nos passou, confessando que nem o próprio Neemias tem bem noção da equipa que prefere. Independentemente da equipa, Diogo acredita que o jovem poste pode vir a causar impacto naquela que é a melhor liga de basquetebol do Mundo.

«Falei sobre isso com ele, mas acho que nem ele tem bem noção. Gostava de o ver numa equipa onde tivesse espaço para evoluir e para se adaptar bem àquilo que é a NBA e não necessariamente uma equipa em específico. Prefiro que vá para uma equipa e para uma cidade onde se sinta bem, seja bem acolhido e tenha espaço para evoluir.», confessou.

«Inicialmente, acho que vai passar muito pelas características defensivas, mas ele também tem vindo a trabalhar e a melhorar bastante o seu jogo ofensivo. Seja nos lançamentos próximos do cesto, na meia distância, agora tem começado a lançar um pouco da linha de três pontos… E depois uma parte muito subvalorizada no jogo dele, que é a forma como passa e como decide com a bola na mão. Acho que é por aí que vai conseguir dar os passos seguintes se conseguir ganhar o seu espaço na NBA.», concluiu.

O draft é já esta madrugada, à 1h e, tal como Diogo Brito, todos os que acompanham e mesmo muitos dos que não acompanham a NBA e o basquetebol em geral vão estar de olhos postos num momento que será decisivo para o futuro de Neemias Quetas, mas também do basquetebol português. Voa, Neemias!