Estávamos no final de janeiro de 2006 e Portugal preparava-se para participar em mais um Europeu, algo que se tinha tornado habitual nesta transição para o século XXI.
Num grupo com Rússia, Croácia e Noruega, a Seleção das Quinas terminou no último lugar e ficou fora da Main Round. Após esta presença, seguiu-se um grande hiato (por vários motivos, nomeadamente a cisão entre Federação e Liga) e um longo período sem a presença lusa nos grandes palcos.
No entanto, após quase uma década de discórdia, o andebol português acabou por reunificar-se e as bases para o sucesso começaram a ser assentes.
A 19 de setembro de 2014, numa decisão pouco consensual e que levantou alguma polémica, Alfredo Quintana fez a sua estreia de quinas ao peito, num amigável diante da Tunísia, que Portugal venceu por 31x29.
Esta decisão impulsionada pelo então selecionador Rolando Freitas abriu a porta a outros cubanos, que também vieram colmatar lacunas na Seleção. Depois de Alfredo Quintana, os pivôs Daymaro Salina, Alexis Borges e Victor Iturriza tornaram-se peças fulcrais na manobra defensiva e também no ataque, oferendo um grande poder de choque e envergadura.
No verão de 2018, Magnus Andersson chegou a Portugal para comandar o FC Porto. O técnico de 55 anos trouxe na bagagem uma carreira de jogador de respeito (fez parte da geração dourada do andebol sueco), provas dadas no leme de AG Kobenhavn e Goppingen e, acima de tudo, uma lufada de fresco.
Tudo somado, o FC Porto passou a ser a melhor equipa portuguesa (corroborada pelos títulos), um dos tubarões da EHF Champions League e o grande fornecedor de jogadores à Seleção portuguesa (11 portistas no Mundial 2021).
A 31 de julho de 2016, Paulo Pereira rendeu Rolando Freitas no cargo de selecionador. Já com o novo comandante no leme, Portugal acabou por falhar a EHF Euro 2018 e Mundial 2019, falhanços que impulsionaram um clique na mentalidade do andebol nacional: mentalidade vencedora...
Aproveitando os fatores acima mencionados e alindo-os ao trabalho realizado pelos clubes e Federação ao nível da formação de jogadores e da competitividade, Paulo Pereira cozinhou a maior onda de sucesso da história do andebol luso. O primeiro grande feito foi o apuramento para o EHF Euro 2020, com um triunfo sobre a França pelo meio, marcando o regresso de Portugal aos grandes palcos europeus depois de 14 anos de ausência.
Pouco depois, o falecimento de Alfredo Quintana abalou o mundo do andebol e, na antecâmara de mais dois compromissos importantes, os Heróis do Mar tiveram que encontrar forças para superar a dura ausência do seu 'Guerreiro Extraordinário'.
Mais unida que nunca, a turma de Paulo Pereira voltou a fazer história no andebol português: com uma performance categórica, garantiu a presença no EHF Euro 2022 e, graças a mais um triunfo (ainda mais) épico diante da França, selou a qualificação inédita para os Jogos Olímpicos de Tóquio.
Os resultados de anos de trabalho estão à vista, a exigência está mais alta que nunca e a questão que se impõe é: e agora, qual será o próximo feito desta Seleção extraordinária?