Chegou a parecer que Portugal ia trocar as voltas ao destino, chegou-se a temer uma goleada daquelas, acabou-se com um amargo de boca. Portugal marcou quatro na Alemanha, só que dois foram auto-golos, e perdeu o balão de oxigénio no grupo F, tendo agora de pontuar contra a França para tentar garantir o apuramento. Perder também pode dar, mas... as contas ficam para os próximos dias.
Cristiano marcou mais um, e que susto pregou aos alemães, que puderam respirar de alívio com uma exibição convincente e em que a superioridade tática foi evidente durante uma hora. Depois, Löw poupou alguns jogadores, a equipa recuou e quase permitiu a Portugal reentrar no jogo.
Ora bem, e aquela primeira parte? Claro que sim, arriscámo-nos a escrever que a estratégia tinha resultado na perfeição, mas desafiar a lógica tem limites. Portugal começou expectante, como se previa, e não podia ser de outra forma, que a Alemanha levou ao extremo a necessidade de uma outra postura e conseguiu-o. Mesmo com alguns contratempos (ora num golo anulado a abrir, ora no contra-ataque sofrido que deu em golo da vantagem para Portugal), naturais de quem se expõe tanto ao querer sempre a bola, a Alemanha conseguiria acabar o primeiro tempo na frente.
Desta teia já estaria Fernando Santos precavido. O que não adivinharia era a pouquíssima capacidade para manter a bola algum tempo e, porque não dizê-lo, de criar mais do que duas oportunidades em 45 minutos - numa bola parada e no golo, além de um contra-ataque em que teve mesmo de ser Pepe a tentar finalizar, coisas de miúdos de 20 anos.
No resto, só deu Alemanha. E, quem vir o onze, pensará: então mas Portugal tinha quatro defesas e dois trincos, certamente conseguiu jogar em estilo ferrolho, certo? Nada mais errado. Para responder à Alemanha, Portugal apenas baixou o bloco, pois a isso foi obrigado, embora não parecendo ajustar-se a um pormenor muito relevante, e que a época que terminou demonstrou: a encarar um 3x4x3, é fundamental que um elemento do meio-campo defenda junto aos centrais (um contra um) ou, se for para ter superioridade, que os extremos acompanhem os laterais adversários. Já que Portugal não conseguiu impor o seu jogo, impunha-se uma dessas opções. Mas não.
E até se pensou que a segunda parte seria diferente. No fundo, até foi, porque Portugal entrou a mandar e a Alemanha marcou na sua primeira ação ofensiva. Só que não houve o reverso da medalha. Os alemães, atacando menos, não atacaram pior e continuaram a expor as debilidades portuguesas, numa equipa que, corrija-nos senhor Engenheiro, não estava nada preparada para os dois formatos possíveis da Alemanha, mas sim apenas para uma equipa em 4x3x3.
Jogou-se melhor, sem dúvida. Cristiano passou a ir mais vezes à direita, Renato Sanches entrou muito bem outra vez (que bomba ao poste!), só que a espiral negativa já era praticamente impossível de contrariar. A Alemanha fez o 4x1 à hora de jogo e o fantasma de mais uma goleada portuguesa na Allianz Arena era cada vez mais real.
Saiu-se de Alemanha com a clara sensação de que podia ter sido diferente. Podia ter sido uma goleada histórica, mas podia também ter sido um excelente resultado português. Saiu-se, isso sim, a precisar da mais-que-tudo nestas alturas... venha de lá essa calculadora, pois claro.
Claro que a Alemanha já tinha tirado algumas pedras importantes, claro que era um momento de descompressão germânica, mas a última meia hora voltou a demonstrar que Portugal, se quiser, consegue ombrear e condicionar seriamente as equipas mais poderosas do Mundo. Que sirva de lição antes da França.
Impressionante a incapacidade portuguesa para anular as ações ofensivas contrárias. A equipa recuou e tentou jogar em contra-ataque, mas para isso era preciso ter bola, e quase sempre andou a vê-la de pé para pé, do outro lado. Má abordagem que apenas foi disfarçada pelo golo inaugural.