Tomar um galão com um campeão do Mundo: «Falamos sempre do Cristiano, mas gosto muito, muito do Bruno Fernandes»

Parecia ele, na noite anterior, lá ao longe, numa mesa em que se falava francês. Tentámos perceber, mas estava escuro. Depois, já parecia Del Piero (são parecidos, são mesmo parecidos). Não, não era. No pequeno-almoço, pode ser que apareça novamente e aí veremos. Pois bem, à luz do sol, na esplanada do hotel, lá estava ele: Robert Pirès! «Robert? Robert! Viva. Já falámos anteriormente, certamente não te lembrarás. Podemos conversar outra vez?». Afável, com ótimo português, o luso-descendente aceitou sentar-se à mesa com o zerozero para lançar o jogo deste sábado.

Está cá, na Alemanha, para comentar o jogo para uma televisão francesa. É isso que tem feito e que vai continuar a fazer até à final de Londres. E, desta vez, calhou-lhe um jogo de uma equipa que lhe diz muito, ou não tivesse ele raízes, por causa do pai português, em Ponte de Lima. «Daqui a um mês, lá vou eu novamente, como acontece todos os anos».

Pois bem, vamos lá conversar...

zerozero: Grande rebuliço que vai para aí por causa do Euro, não é?
Robert Pirès: Sim, sim, viajamos muito. Para mim é bom, estou a trabalhar e a ver jogos muito bons. Além disso, estou contente, França e Portugal ganharam o primeiro jogo [risos].

Robert Pirès 12 títulos oficiais

1	Campeonato do Mundo
	1998
2	Taça das Confederações
	2001, 2003
1	Campeonato da Europa
	2000
1	Taça da Liga Francesa
	1995/96
2	Liga Inglesa
	2001/02, 2003/04
3	The FA Cup
	2001/02, 2002/03, 2004/05
2	FA Community Shield
	2002, 2004

zz: É a primeira vez que vais acompanhar Portugal. Confiante?
RP: Não sei porquê, mas sim. Penso que França e Portugal têm coletivamente muita força, e... como se diz em português... individualmente, acho que e igual. Fala-se de Mbappé, Griezmann, Benzema, mas penso que Portugal tem muito bons jogadores. Claro que se fala mais do Cristiano, que para mim é o melhor do Mundo com o Messi, mas há também o Jota, o Bruno Fernandes, o Renato... São jogadores com muita qualidade.

zz: Depois de perder com a França, a Alemanha está muito pressionada...
RP: Sim, muito, tem de ter uma reação. Já sabemos que o selecionador vai sair. Sinceramente, acho que Portugal tem mais qualidade, mais força. Vai ser um jogo muito bonito. Vamos ver, mas acho que Portugal é melhor que a Alemanha. No campo, logo se vê.

zz: Isso será a tua visão de comentador. As tuas muitas costelas portuguesas ainda acreditarão mais.
RP: [risos] Não sei como vou digerir isso, mas mais importante é ver um jogo com qualidade. Mas olha que não sei o que vai acontecer hoje, a França tem um jogo muito complicado, às 3 da tarde [em Budapeste, contra a Hungria], com muito calor, vocês sabem bem o que isso é, verdade? E a margem é muito curta, um mau resultado deixa-te quase fora e a pressão é muita. O Euro é muito difícil de ganhar. Lembras-te de 2016, não lembras? Portugal foi terceiro do grupo, sem ganhar nenhum jogo. Essa competição não é fácil. E em França já se anda a dizer que está ganho, que hoje vai ser fácil. Eu não gosto disso. Os jogadores entram em campo com muita pressão.

zz: Mesmo sendo uma prova muito difícil, há favoritos. Vês Portugal como um deles?
RP: Para mim sim, é campeão e tem muito boa equipa. Para mim é França, Portugal e Bélgica. Em França, fala-se dos três, Portugal também, mas a Bélgica com Lukaku, com De Bruyne, com Hazard... Ooh la la! Para mim, têm um dos melhores da Europa, o De Bruyne é... uffff, fantástico! Há pouco ia dizer: falamos sempre do Cristiano, mas gosto muito, muito do Bruno Fernandes. É um jogador que faz jogar a equipa, não joga para ele, entendes o que quero dizer? Então, quando tens um Bruno Fernandes, ou um De Bruyne... Estás mais tranquilo com este tipo de jogadores.

zz: Em Portugal, discute-se muito a questão do William, que fez poucos jogos e uma época má no Bétis, mas em quem Fernando Santos confia. O que achas disso?
RP: Dúvidas um treinador tem sempre. Tens de escolher os jogadores, isso não é fácil, depende também da equipa contra quem vais jogar. A Alemanha é diferente da Hungria, tens de meter os melhores e esse papel do treinador nunca é fácil.

©Luís Rocha Rodrigues

zz: Qual era a tua final de sonho? Aposto que não é um República Checa x Macedónia.
RP: [risos] Percebo a questão. Não sei, haver uma final como em 2016 é muito complicado. Claro que gostava de um França x Portugal. Eu sou francês, mas quando tens um pai português, família portuguesa... é muito complicado. Fiquei contente porque Portugal ganhou, mas é complicado. Sou francês, joguei muito e ganhei muito por França.

zz: Quantas saudades tens de ir lá para dentro, em vez de estares na bancada?
RP: Gosto muito de futebol. Se amanhã, o Deschamps me chamar para ir jogar, eu vou! [risos] Quarta-feira volta a haver um França x Portugal e vai ser difícil para mim. Olha, nos favoritos não falei da Inglaterra, porque ontem vi o jogo e... é o problema de sempre dos ingleses. Foram fracos, não sei se vão conseguir.