Depois de uma boa apresentação na jornada inaugural deste Euro 2020, a Itália voltou a mostrar que é uma seleção a ter em conta nesta edição da prova e venceu a Suíça por 3x0, tornando-se na primeira equipa a qualificar-se para os oitavos de final do torneio. A equipa comandada por Roberto Mancini não só demonstrou uma grande dinâmica ofensiva, como também um alto nível tático. Temos candidato.
A Itália tinha vencido a Turquia (0x3) no jogo inaugural deste Euro 2020 e sabia, à entrada para a partida, que uma nova vitória, desta vez frente à Suíça, lhe garantia desde já uma vaga nos oitavos de final da prova - País de Gales bateu a Turquia por 0x2 e isolou-se em 2º com quatro pontos. Do outro lado, os suíços estavam mais pressionados e sabiam que, após o empate (1x1) no primeiro jogo, precisavam agora de vencer para deixar as contas do grupo em aberto.
Em relação à jornada inaugural, a Suíça não fez qualquer alteração no onze, que voltou a contar com Haris Seferovic, avançado do Benfica, enquanto a seleção italiana, comandada por Roberto Mancini fez apenas uma alteração, com a saída do lesionado Alessandro Florenzi, na lateral direita, para a entrada de Di Lorenzo.
Depois de ter sido uma das seleções em maior destaque na 1º jornada, a Itália partia para este jogo com o favoritismo do seu lado, mas a Suíça entrou mais agressiva na disputa da bola, mais pressionante e os italianos limitaram-se a procurar (sem sucesso) a velocidade dos seus extremos nas costas da defensiva helvética.
Golo made in Sassuolo: 🅰assistência de Berardi, ⚽golo de Locatelli
⚠2.º golo de Locatelli pela 🇮🇹: tinha marcado em março deste ano, frente à Bulgária pic.twitter.com/ggC73ro0Bd
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A nível ofensivo, a Itália contava com dois médios com bastante liberdade - Locatelli e Barella, em muito devido ao trabalho exímio de Jorginho - assim como Insigne a surgir em posições centrais para criar desequilíbrio. Apesar de estar melhor com bola, o primeiro grande aviso italiano surgiu de bola parada, mas o lance foi anulado por mão na bola do capitão Chiellini (que saiu lesionado pouco depois).
Contudo, numa das poucas vezes que a Suíça se desmontou a nível posicional, a Itália aplicou um contra-ataque mortífero todo ele "made in Sassuolo". A jogada foi iniciada por Locatelli, que abriu tudo na direita para o irrequieto Berardi. O extremo transalpino trabalhou sobre o defesa e foi até à linha de fundo para cruzar rasteiro para o mesmo Locatelli finalizar - livre de marcação devido ao seu movimento de rotura de trás para a frente - e inaugurar, de vez, o marcador. O médio de 23 anos iniciou a jogada, percorreu metade do campo e fez o seu segundo golo ao serviço da seleção.
O golo italiano obrigou a Suíça a abdicar do bloco baixo e a subir as suas linhas, com especial ênfase para os alas Ricardo Rodríguez e Mbabu, que finalmente tiveram «autorização» para subir no terreno. No entanto, a defesa italiana mostrou estar num nível acima taticamente e não permitiu qualquer ocasião para os comandados de Vladimir Petkovic, que demonstraram uma grande dificuldade em construir no último terço, em muito devido à ausência de movimentos de rotura da parte dos seus médios e de um pouco de mais velocidade dos seus atacantes (incluindo Shaqiri). Isso permitiu à Itália gerir o ritmo de jogo, que baixou consideravelmente e permitiu à Squadra Azzurra ir para o intervalo a vencer.
Com o regresso dos balneários, Petkovic optou por deixar Seferovic no banho mais cedo e colocou em campo Gavranovic, avançado do Dínamo Zagreb, tentando, assim, ter um avançado mais posicional entre os centrais italianos para dar maior espaço de criação aos seus criativos. Assim como no arranque da 1ª parte, a Suíça voltou a entrar mais pressionante e por pouco não surpreendeu Itália, mas os transalpinos foram mortíferos e no seu primeiro lance de perigo (novamente de contra-ataque), o mesmo Locatelli rematou colocado, de pé esquerdo, para gelar os suíços e ampliar a vantagem logo a abrir.
Immobile é o 1.º jogador a marcar em 2 jogos neste Euro 2020
⚠15.º golo de Immobile pela 🇮🇹Itália, ele que marca pela seleção há 4 jogos pic.twitter.com/A9EIchqRvT
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Vendo a Suíça a crescer na partida e cada vez com maior perigo e espaço no ataque, Mancini acabou por fazer mudanças «drásticas» a nível tático e colocou o central Rafael Tolói, retirando de campo Domenico Berardi, um dos melhores em campo até então. Esta substituição permitiu à Itália assumir um género de 3x5x2 dinâmico, que não só lhe permitiu encaixar melhor na Suíça, como «experimentar» um novo sistema para outro tipo de jogos que surjam mais à frente.
Essa mudança tática recolocou a «ordem natural» do jogo, embora com algumas diferenças. A Suíça continuava a assumir a posse de bola, embora apenas conseguisse criar perigo através da médio e longa distância, enquanto a Itália estava focada na sua consistência defensiva. Isso permitiu aos italianos criarem perigo através da velocidade dos seus homens mais adiantados e foi colecionando oportunidades, até que, nos minutos finais, Ciro Immobile aproveitou uma má abordagem de Sommer para, com um remate de fora da área, fechar o resultado em 3x0. A Itália é, assim, a primeira seleção a qualificar-se para os oitavos de final do Euro 2020, com selo de qualidade e de candidato. Por sua vez, a Suíça vai jogar o tudo ou nada na última jornada, frente à Turquia.
O momento que definiu o jogo acabou por ser o primeiro golo de Locatelli, uma vez que obrigou a Suíça a abdicar da filosofia que tinha até então e isso apenas beneficiou a Itália. Além de ficar com mais espaço no ataque, a squadra azzurra geriu a seu belo prazer o ritmo do jogo devido à falta de originalidade helvética no último terço.
A chave deste jogo (e do esquema tático italiano) é, sem dúvida, o meio campo. Jorginho fecha todos os caminhos adversários e dá todo o espaço necessário a que a dupla Barella-Locatelli possa construir e criar desequilíbrios no último terço. Além disso, Insige junta-se várias vezes a esse trio e funciona quase como um médio ofensivo. Um autêntico quebra-cabeças para qualquer equipa.
Se a Itália dominou e controlou a larga maioria do jogo, em boa parte se deveu à 1ª parte paupérrima helvética. Durante os primeiros 45 minutos, os comandados de Petkovic mostraram não ser capazes de seguir o plano e bater-se com alguém com argumentos superiores, limitando-se a baixar a sua linha e sem conseguir ter jogadores suficientes para criar perigo no ataque. Na 2ª parte, as substituições mudaram um pouco a dinâmica.