Muita intensidade, duas colheres cheias de entrega, uma pitada de magia escocesa e uma oferta das grandes. Foi esta a receita do dérbi algarvio, que culminou com o empate a uma bola entre o Farense e o Portimonense e que apenas pecou pela ausência de adeptos (que mesmo assim se fizeram ouvir fora do estádio) nas bancadas do São Luís.
De olhos postos em fugir à zona de despromoção, Jorge Costa mexeu em apenas uma peça em relação ao onze inicial que venceu o Paços de Ferreira (0x2) na jornada passada, colocando Fabrício Isidoro no lugar de Licá. Do outro lado, Paulo Sérgio implementou também duas mexidas em relação à equipa que perdeu frente ao Benfica na última jornada (1x5), fazendo entrar Fabrício e Anzai para os lugares de Jafar Salmani e Moufi, respetivamente.
Recebidas com um espetáculo de fogo de artifício, várias buzinadelas e gritos vindos de fora do estádio, Farense e Portimonense entraram muito intensos no jogo e mostraram o porquê de um dérbi ter uma importância redobrada. O Portimonense procurou jogar mais direto, apostando na procura pelos seus homens mais rápidos e fortes nas alas - Beto e Boa Morte -, descurando várias vezes a posse de bola e um jogo mais pensado.
Apesar dessa maior insistência no jogo apoiado, o golo inaugural do Farense chegou através de uma bola parada estudada. Ryan Gauld assumiu a cobrança do canto à direita, mas jogou curto para Amine e este devolveu rapidamente. Esse movimento desbloqueou a defesa à zona do Portimonense e permitiu ao criativo escocês fazer um delicioso cruzamento em arco para o poste mais distante, onde surgiu Pedro Henrique a cabecear para o fundo da baliza, completamente solto de marcação.
A este golo seguiu-se uma grande defesa de Samuel Portugal a Mansilla, após uma boa combinação de Gauld e Tomás Tavares na direita, mas as dinâmicas do jogo mudaram bastante pouco depois. O Portimonense procurou assumir mais as rédeas do jogo e da posse de bola, desfazendo um pouco da estratégia do jogo direto nas alas e procurando mais o jogo apoiado entre setores, com Willyan Rocha a assumir esse papel de ligação, enquanto o Farense acabou por reagir baixando as suas linhas. Contudo, e apesar da muita entrega, batalha e intensidade em todas as disputas de bola, faltaram as oportunidades de golo.
Paulo Sérgio regressou dos balneários decidido em que a sua equipa vira-se o resultado e fez sair o pivot defensivo, Willyan Rocha, para a entrada de Anderson Oliveira, um avançado, o que fez com o que o Portimonense passasse a jogar num 4x4x2 e colocasse mais gente no ataque. Essa mudança, aliada a uma pressão cada vez mais alta, dificultou o processo de construção do Farense, que, com o passar dos minutos, apostou cada vez mais em contra-ataques rápidos impulsionados pela superioridade numérica no miolo, fechando bem a sua grande área.
À entrada para o último quarto de hora, o Portimonense já jogava com mais coração que cabeça e o Farense beneficiava disso para gerir o jogo, mas uma péssima abordagem do central Eduardo Mancha a uma bola longa da defensiva contrária estragou a pintura dos Leões e permitiu o empate. Beto ainda defendeu o primeiro remate de Beto, mas Boa Morte não falhou a emenda com a baliza adversária completamente escancarada.
Até ao final, as duas equipas batalharam com unhas e dentes por todas as bolas divididas em busca de chegarem à vantagem no marcador. Ryan Gauld teve nos pés a oportunidade sentenciar a partida a cinco minutos do fim, mas Fali Candé foi fundamental e tirou o pão da boca ao escocês, ditando o empate entre as duas equipas. Com este resultado, o Farense falhou a conquista de três importantes pontosna luta pela manutenção e continua em 17º lugar, com 26 pontos, enquanto o Portimonense está em 11º, com 33 pontos, e respira ligeiramente melhor os ares da Liga NOS.
Ryan Gauld continua a ser a principal figura do Farense e foi ele quem alimentou novamente a equipa e as suas ambições neste jogo. Embora tenha desaparecido um pouco na segunda parte, em parte devido ao maior caudal ofensivo adversário, o escocês esteve em grande no primeiro tempo. A sua assistência é mais que meio golo.
O Portimonense apostou forte na 1ª parte no jogo direto para os seus homens mais rápidos das alas, Beto e Aylton Boa Morte, mas a aposta saiu furada devido ao bom controlo da profundidade da parte do Farense. A equipa viu-se demasiado dependente de Beto, que está a atravessar um grande momento de forma, e não conseguir construir nos primeiros 45 minutos. Na 2ª parte, com a mudança tática, a história foi outra.
Luís Godinho teve uma exibição sóbria e tranquila, mantendo o critério e ajuizando corretamente os lances que lhe foram colocados para análise.