A «frescura mental» de Helton Leite na base do melhor registo em seis anos

Com a estabilidade defensiva veio o «melhor» Benfica da temporada, pelo menos no que aos números diz respeito. Os encarnados somam cinco vitórias consecutivas na Liga NOS (repetindo a série conseguida logo no arranque) e seis jogos sem sofrer qualquer golo, esse sim o registo máximo em 2020/21.

Este facto ganha dimensão estatística quando enquadrado numa análise alargada no tempo: é que a última vez que as águias estiveram tanto tempo sem conceder golos na Liga foi na temporada de 2014/2015, na derradeira época de Jorge Jesus antes do adeus. Aí, entre o final de novembro de 2014 e meados de janeiro de 2015, Júlio César conseguiu manter a baliza trancada durante sete partidas consecutivas.

Agora, mais de seis anos depois, o Benfica repete a sequência. Desde o empate em Moreira de Cónegos (1x1), a 14 de fevereiro, que Helton Leite não voltou a ser batido em jogos para o campeonato nacional. E Helton Leite acaba por ser o ponto fulcral neste reforço defensivo do atual terceiro classificado da Liga. 

A troca inesperada, mas porquê?

©Rogério Ferreira / Kapta+

Quando, precisamente em Moreira de Cónegos, Jorge Jesus optou por manter o brasileiro na equipa, muitos questionaram a «despromoção» de Odysseas Vlachodimos, dono e senhor da baliza benfiquista desde a chegada à Luz em 2018/19. Faltava entender a decisão do técnico encarnado e os motivos que levaram a uma mudança numa posição sempre sensível.

«Creio que a mudança se deve mais num aspeto mental ou psicológico, ou seja, integrar alguém que venha motivado e não tanto afetado com o que era o momento da equipa ou alguém desgastado pelo acumular dos golos sofridos ou pontos não conquistados», conta Roberto Rivelino, fundador d'O Mundo dos Guarda-redes e cronista do jornal A Bola. 

Para o especialista, «Helton Leite surge como uma lufada de ar fresco e bastante motivado e com os pés bem assentes na terra», assinando exibições «pragmáticas». «Há momentos em que um coletivo precisa de um guarda-redes que não complique», diz Roberto Rivelino, para quem Odysseas Vlachodimos «vinha a mostrar um decrescendo de rendimento desde a primeira paragem provocada pela pandemia da Covid 19». 

A «frescura mental» como chave

©Kapta+

Se o grego, nas palavras de Roberto Rivelino, «parece ter alcançado o ponto alto das suas capacidades em rendimento», o brasileiro acaba por chegar à baliza do Benfica sem nada a provar. «O Helton está num estado forte da maturidade e não sente a necessidade de estar a mostrar mais do que é capaz, porque realmente é alguém cujo valor ou crescimento não previa estar a um nível como o do Benfica».

A verdade é que a troca operada por Jorge Jesus está a surtir efeito, refletida nos números. «Aliado à conjuntura, foi uma alteração que acabou por trazer resultados positivos precisamente pela frescura mental do Helton Leite», conclui Rivelino.