A noite foi de confronto entre «vizinhos» na parte baixa da classificação e o Boavista acabou agarrado à botija de oxigénio que permite respirar melhor na luta pela salvação. Um triunfo por 3x0 sobre o FC Famalicão, num jogo em que as duas equipas provaram ter mais qualidade do que a situação aflitiva que vivem.
No lançamento do encontro, Silas tinha refutado a ideia de um jogo mais especulativo; e estava certo. Indiferentes ao sufoco classificativo, Boavista e Famalicão «atiraram-se» ao jogo com a coragem de quem precisa mais dos três pontos do que da «segurança» do nulo. A consequência foi um espetáculo com qualidade entre duas equipas que a têm, mas que nem sempre a evidenciam.
Entrou (bem) melhor o conjunto axadrezado, que só não ficou com a vantagem no marcador do seu lado logo no minuto inaugural porque o tiro de Angel Gomes foi colocado demais; a bola bateu no poste direito da baliza de Luiz Júnior e fez depois aquela travessia angustiante junto à linha de golo, sem entrar. Era o tónico para 45 minutos prazerosos, do ponto de vista do espectador.
Enquanto o Boavista parecia mais homogéneo, a equipa de Silas apoiava-se sobretudo na qualidade individual. Gil Dias foi um dos casos, com um remate forte à malha lateral (6'). Respondeu a pantera, com Elis a usar a visão de jogo para encontrar Nuno Santos em posição frontal; o remate do médio boavisteiro encontrou Luiz Júnior como obstáculo.
Mais Boavista no jogo, um dado coroado com o golo logo a seguir. Canto batido, Chidozie ganha o primeiro duelo pelo o ar e Ricardo Mangas foi quem tirou o proveito, ao segundo poste, desviando também com a cabeça. Depois de ter marcado em Guimarães, o lateral voltou a ser eficaz neste tipo de lance. E justo, porque os do Bessa eram por esta altura a melhor equipa em campo.
Exigia-se resposta por parte do Fama. E foi dada por Rúben Vinagre, que apesar de ter estado na origem do golo axadrezado (perdeu a bola que lançou o ataque rápido) se afirmou como a unidade em destaque nos visitantes. À meia hora de jogo teve no pé a bola do empate, mas o remate bem gizado teve a mesma pontaria que a tentativa de Angel Gomes no primeiro minuto: bola no ferro.
Intenso e com vários momentos de qualidade técnica. Ainda antes do descanso, nova aproximação «venenoso» do Boavista, com Ricardo Mangas a sacar um daqueles cruzamentos à flor da relva que tiram a bola a qualquer defesa; mas Luiz Júnior teve comprimento suficiente nos dedos para atrapalhar a ação de Elis, que acabou por não conseguir a emenda feliz.
O jogo nunca desiludiu. É esse o marco maior do duelo do Bessa. O Famalicão fez pela vida, e muito, mas a falta de rotinas ofensivas - e de confiança - voltou a atraiçoar o conjunto de Silas. Guedes acertou na trave aos 50 minutos (mas estaria em posição irregular) e Kraev chegou um segundo atrasado para ser feliz (64'); o castigo foi duro, no minuto seguinte.
Paulinho. Palavra para ele, o melhor da noite sem contestação. Primeiro em zonas mais centrais, a meio da segunda parte na direita no reformulado 4x4x2 do Boavista. E como quem chama a si a coroa do jogo, arrancou imparável e deixou para trás quem tentou pará-lo; fuzilou, depois, sem piedade para Luiz Júnior. A boa noite coletiva da pantera premiada pelo talento do brasileiro.
Com o 2x0, o fim de história podia começar a escrever-se com letras de convicção. E quando Ugarte foi expulso, aos 75 minutos, por uma entrada duríssima sobre Nuno Santos, até o mais resistente dos adeptos famalicenses percebeu que a busca por pontos não seria bem conseguida na cidade do Porto. O 3x0, apontado por Sebástian Pérez (que tinha acabado de entrar), só confirmou o cenário.
Jogo completo e pleno de qualidade do médio brasileiro do Boavista. Começou no meio e foi a partir daí que pautou o ritmo (quase sempre alto) do jogo axadrezado; a meio da segunda parte passou para o lado direito, acabando por fazer o segundo golo do Boavista, numa arrancada impossível de parar.
Ao minuto 75, Ugarte, na tentativa de jogar a bola, acaba por ter uma entrada muito dura sobre Nuno Santos. Após recurso ao VAR, André Narciso decidiu-se pela expulsão do médio do Famalicão. Nuno Santos, esse, teve de ser substituído. Um momento sempre «arrepiante».
O jogo foi intenso e disputado, mas só aos 75 minutos é que a equipa de arbitragem teve um momento de maior dúvida. No lance entre Ugarte e Nuno Santos, André Narciso deixou jogar, mas após consulta ao VAR mudou de opinião e exibiu bem o cartão vermelho ao médio do Famalicão.