* com Tiago Ramalho
Começa o fim de um ciclo: Mundial e Europeu. Caminhamos a passos largos para o Mundial da Lituânia e a qualificação para o Europeu da Holanda já está em andamento. Daqui a um ano terminamos este ciclo de competições e, portanto, fomos olhar para os números destes onze anos de Jorge Braz no comando da seleção e perceber como está a ser preparado o próximo ciclo através dos dados e dos números.
Jorge Braz Portugal [Futsal] Total |
Mas começamos por onde se deve: o início. Ou melhor, antes do início. Para o Euro Futsal 2010, na Hungria, Orlando Duarte convoca 14 jogadores: João Benedito, André Sousa e Bebé (os guarda-redes); Israel, Pedro Cary, Paulinho, Arnaldo, Gonçalo Alves, João Matos, Evandro, Pedro Costa, Joel Queirós, Cardinal e Leitão. Uma seleção com cerca de 28 anos de idade, em média, numa mescla entre a «geração Arnaldo» e a «geração Ricardinho» - à época com 24 anos, o ala falhava este europeu por uma lesão sofrida semanas antes do estágio para a competição.
Falámos em duas gerações – talvez injustamente assentes em dois jogadores -, mas a grande pergunta será: “e a próxima?”.
A primeira grande competição com Jorge Braz ao leme foi em Zagreb (Croácia), com uma estreia auspiciosa diante do Azerbaijão – um 4x1 com Cardinal, Marinho e Ricardinho a marcarem. Nos cinco iniciais lançados pelo técnico os jogadores de campo eram: Ricardinho, Pedro Cary, João Matos e Cardinal. Em Lodz, há menos de um mês, Braz repetia o quarteto na vitória 0x3 (a salvar a honra do condado, depois do empate na primeira jornada).
São nove anos (e um mês) que separam os dois jogos – mas os homens da confiança do mister mantêm-se. Durante os onze anos em que o recém-eleito melhor selecionador do mundo há nomes que nunca perderam o seu lugar. André Sousa e Vítor Hugo têm a baliza reservada – começa agora Edu a reclamar o seu espaço. João Matos é o favorito e marcou presença em praticamente todas as convocatórias neste período. Pedro Cary é o senhor que se segue, tal como Ricardinho, os capitães de equipa. Cardinal é o único pivot declarado com peso nesta lista – os outros pivots não ultrapassam as dez convocatórias, excetuando Fernando Leitão.
Todos estes juntam-se a Bruno Coelho, também ele um dos nomes recorrentes nas convocatórias. O ala estreou-se quando ainda jogava no Belenenses e, dos únicos três jogadores que Braz estreou na seleção entre a sua entrada e o Euro Futsal 2012, é o único que ainda hoje se mantém no núcleo duro da seleção, estando a jogar no campeonato francês. As únicas novidades das primeiras dez convocatórias – as tais até à primeira grande competição de Braz – foram Bruno Coelho (o primeiro), Paulinho Rocha e Davide Moura.
Mais recentemente, assoma-se a preponderância de Tiago Brito e Fábio Cecílio – e logo atrás, André Coelho, que entrou nas contas da seleção mais tarde -, figuras basilares nas convocatórias do selecionador português.
Quando é a doer é que conta, dizem. Pegámos então nas vinte convocatórias para Europeus, Mundiais e fases de qualificação que Jorge Braz desenhou para encontrar o passado e o futuro da seleção. João Matos, Pedro Cary e Ricardinho estão em todas. Cardinal e Bruno Coelho vêm a seguir. Os cinco são os nomes mais presentes e estarão, ao que tudo indica – à exceção de Cardinal, cuja lesão é mais grave e poderá não recuperar a tempo - no Mundial que se realizará em setembro/outubro e no Euro Futsal 2022.
Resumindo, Jorge Braz estreou 34 jogadores ao longo destes onze anos como timoneiro português. Destes, apenas onze atletas foram convocados pelo menos dez vezes e apenas sete apareceram em mais do que cinco convocatórias para jogos oficiais.
A espinha dorsal da seleção portuguesa não tem mudado, levando ao limite a máxima de núcleo duro defendida e praticada pela FPF e por Jorge Braz. Até 2015, o grupo manteve-se intacto, com uma ou outra mudança (com as entradas de Djô mais frequentes e uma curta passagem de Nandinho pela seleção, saindo Ricardo Fernandes de cena após presenças contínuas até 2012).
Em 2016 chegaria a geração do SC Braga/AAUM ladeada por Pany Varela e Miguel Ângelo – nessas primeiras convocatórias também Mário Freitas tinha secundado a geração. Tiago Brito, Fábio Cecílio, Pany Varela, André Coelho e Miguel Ângelo acabaram por sobressair para colmatar de uma assentada as saídas de Gonçalo Alves, Joel Queirós, Marinho, Pedro Costa (que Jorge Braz tinha recuperado do Japão em 2014), Leitão e, a breve trecho, de Arnaldo.
Repetimos a pergunta do subtítulo: e depois de 2022? Depois deste ciclo de Mundial e Europeu, Ricardinho terá 37 anos, Pedro Cary 38, Cardinal 37, André Sousa 36, Bruno Coelho e João Matos 35, e Vítor Hugo 40 anos. Mesmo da geração que chegou em 2016, Pany terá já 33 anos e Tiago Brito 31. Serão sub-30 André Coelho e Fábio Cecílio (29), Miguel Ângelo (28) ou Erick (27).
Em 2018, Jorge Braz garantia ao Diário de Notícias que «a renovação geracional está a ser garantida e dá garantias». Desde aí, estrearam-se quatro guarda-redes – mas apenas Edu parece ter continuidade, depois de quatro convocatórias - e cinco jogadores de campo - Erick, Tiago Cruz, Pauleta, Ludgero e Zicky. O primeiro é o único regular, somando já dez convocatórias em onze possíveis desde o título europeu conquistado na Eslovénia.
«O futsal português é dos melhores da Europa e dos melhores do Mundo e certamente continuará a ser, com as gerações que estão a aparecer e que estão ainda para vir», destacou José Luís Mendes em janeiro de 2020.
Tendo a seleção sub-21 como base de análise, dos eleitos em março de 2018 para representar a seleção sub-21, logo após a conquista do Euro Futsal, apenas três marcaram presença em convocatórias da seleção AA. Se recuarmos cinco anos, numa convocatória com dois embates diante da Rússia novamente três nomes, sendo que daqui Erick já mostrou ter agarrado o seu lugar.
Num exercício retórico, são mais as questões que as respostas, mas os dados mostram uma renovação a conta-gotas e repete-se a pergunta: e depois de 2022?