«É muito difícil defender um penálti, quanto mais dois [risos]». É de forma bem disposta que começa a nossa conversa com Ricardo Ribeiro, guarda-redes português que, aos 30 anos e depois de mais de 200 jogos entre Primeira e Segunda Liga portuguesa, decidiu dar um novo ruma à carreira. Destino? Arábia Saudita.
«É uma sensação muito boa, sobretudo por ajudar a equipa a conquistar pontos. Como se explica? A família. O facto de ter a minha família agora comigo ajuda muito. Não quero dizer que as coisas estivessem a correr mal, até porque não estavam, mas senti um avanço muito grande a partir do momento em que eles chegaram. Estive quatro meses sozinho e ter agora a família comigo dá-me outra estabilidade», conta Ricardo Ribeiro, em conversa telefónica com o zerozero.
«Na altura, quando entrei no aeroporto, a minha vontade era vir logo para trás e ficar com eles. Mas na vida, por vezes, temos de fazer sacrifícios e este foi um deles», acrescenta.Depois de dois anos em Paços de Ferreira, o último já na Liga, sempre como dono da baliza dos castores, Ricardo não aceitou a proposta de renovação dos pacenses e ficou livre para decidir o futuro. A ideia era sair para o estrangeiro, embora a Arábia Saudita não estivesse, na altura, nos seus planos.
«Sempre tive essa vontade de querer sair e experimentar outros campeonatos. Não aceitei a proposta de renovação do Paços, tive outra proposta de um clube da Segunda Liga, mas não aceitei porque senti que estava na altura de ir para fora. Nunca pensei que fosse para Arábia, sinceramente, e quando surgiu a primeira abordagem não fiquei muito recetivo. Mas passado um mês as negociações foram retomadas e aqui estou», justifica.
Na chegada à Arábia, o primeiro impacto foi «muito grande». Não por falta de condições, pois essas estão ao nível de um Vitória SC ou SC Braga, mas por alguns pormenores bem diferentes da realidade a que estava habituado, como o simples facto de não se poder despir no balneário à frente dos companheiros de equipa ou ter de levar a roupa do treino para casa. Pormenores que «não devem» ser sobrevalorizados. E como é o futebol?
«É diferente, mais pausado... As equipas partem-se muito, não tens muita cultura tática. Nós é um pouco diferente porque o nosso treinador é português [Filipe Gouveia] e conseguimos ter um jogo mais fluído e a equipa mais compacta. Não é um campeonato ao qual as pessoas estejam atentas, mas está a ser uma experiencia fantástica. Estou a gostar de conhecer a cultura e até te posso contar uma história curiosa. Há uns dias fomos para as montanhas e comemos todos do mesmo sitio com as mãos [risos]. Temos um grupo muito unido, ao estilo dos grupos por onde passei e tive sucesso», defende.
«Em termos individuais, tem sido uma aprendizagem. Muitos dos meus colegas não falam inglês e alguns falam, mas não entendem muito bem. Agora já estamos mais habituados, mas ao início a comunicação foi um dos problemas. Tive de trabalhar muito essa comunicação nos treinos para que começassem a conhecer a minha voz», sustenta.
«Esta época levo 10 jogos sem sofrer golos. É muito bom. Claro que queria mais, mas criei um objetivo na minha cabeça e tenho de o conseguir… Vim para cá para fazer a diferença. Qual objetivo? Não sofrer mais do que 22 golos. Meti na minha cabeça e não posso passar dessa marca. [...] Queremos sempre algo melhor para a nossa vida e o objetivo é claro: subir de divisão», remata.
Com 30 anos - 31 feitos no passado mês de janeiro - e com o primeiro filho a dar os primeiros passos, Ricardo Ribeiro não teve dúvidas em aceitar um projeto muito mais atrativo do ponto de vista financeiro.
«Se trabalhares numa empresa que te pague 500€ e aparecer outra que te ofereça 1000€ ou 1500€ tu não vais pensar duas vezes. Há pessoas que criticam os jogadores por pensarem no dinheiro, mas não podemos ser hipócritas. Claro que foi pelo dinheiro, como é óbvio, mas também pela experiência que vou levar para a minha vida. Todos queremos melhorar a nossa vida e dar qualidade de vida aos nossos filhos. E cheguei a uma fase na minha carreira que tinha de dar este passo», explica.Sobre o futuro, ainda não há certezas, mas existe uma vontade. O guarda-redes quer continuar mais alguns anos na Arábia Saudita e só depois regressar a Portugal.
«Pretendo ficar mais 4-5 anos aqui e depois voltar para Portugal. Não quero com isto dizer que não pense ou analise uma proposta de Portugal, mas a minha ideia, neste momento, é essa. Financeiramente toda a gente sabe que é melhor. Não vou estar aqui com hipocrisias. Espero fazer um bom resto de campeonato para que surja uma proposta de renovação do Al-Jabalain ou apareça algo melhor», atira.