Gonçalo Ramos regressou à formação secundária do Benfica esta segunda-feira para defrontar o CD Mafra no Seixal, depois de ter continuado a somar poucos minutos às ordens de Jorge Jesus na equipa principal. O avançado voltou a jogar por uma equipa onde já foi protagonista e ainda assinalou o regresso com a subida de um patamar no registo goleador.
Mais de um mês depois do último jogo pela «B» e quase cinco meses depois do penúltimo - curiosamente também frente ao emblema mafrense (2x1) -, eis que este jovem voltou aos relvados da Liga Portugal SABSEG e fê-lo com um golo que também já há muito não aparecia, atraindo novamente a atenção dos adeptos do Benfica. O zerozero, naturalmente, esteve lá para ver.
«O que é isto? Estamos a jogar boxe?», perguntou Gonçalo Ramos ao 4º árbitro Nuno Pereira pouco antes do intervalo, imediatamente depois de um lance que ocorreu na área comandada por Svilar, a 50 metros de si. Foi a primeira intervenção (oral, neste caso) durante a partida, e logo depois do seu golo, quando se soltou por completo física e mentalmente.
Talvez fosse a falta de prática em situação de jogo, ou então, mais provavelmente, o que faltava era o golo.
Esse chegou aos 35 minutos de jogo, na conversão de uma grande penalidade que o próprio conquistou, e aí Gonçalo Ramos mudou. Fez a habitual celebração para as câmaras e levou o seu tempo a regressar ao meio campo, a caminhar lentamente enquanto conversava e ria com David Tavares. De repente deu a volta completa e já parecia demasiado relaxado, mas isso mudou assim que o jogo retomou. O apito do árbitro para o recomeço foi o tiro de partida para os 100 metros rasos, numa pressão desenfreada que não abrandou até ao intervalo. Estava ali o verdadeiro Gonçalo, rejuvenescido (na medida em que um miúdo de 19 anos o pode sequer ser), e como um peixe na água.
A não distinção entre «jogar» e «lutar» na tal frase que disse ao 4º árbitro, quando a segunda palavra seria mais adequada, diz muito sobre este jovem de 19 anos. Para Gonçalo Ramos lutar faz parte do jogo, como demonstra na maneira como disputa cada duelo contra os adversários, algo que não tem tido oportunidade de fazer com frequência. Esta é uma maneira potencialmente rebuscada de ver as coisas, claro, mas não estará muito longe da realidade.
Trata-se de um avançado muito completo no seu conjunto de habilidades. Sozinho na frente, Gonçalo Ramos situa-se maioritariamente no meio dos dois centrais fixando-os para abrir espaço aos colegas, mas a verdade é que o seu passado em posições mais recuadas nunca desaparecerá completamente... Mesmo com instruções para não baixar, o avançado coloca-se sempre em posição pra receber um passe frontal que o deixe envolvido no jogo a cada oportunidade, mesmo quando parece nunca chegar.
O jogo acabou por não ser perfeito, longe disso, mas por problemas alheios à exibição do jogador em questão. Seria provavelmente um bom dia para completar 90 minutos que há muito fugiam, mas esses planos foram riscados na marca de uma hora de jogo quando o avançado caiu queixoso e teve mesmo de ser substituído prematuramente por um técnico que o conhece melhor que a grande maioria.
Nélson Veríssimo, recorde-se, não era o treinador no momento em que o avançado ganhou maior destaque com sete golos nas primeiras três jornadas, e não quis individualizar na conferência de imprensa após o jogo desta segunda-feira. Ainda assim, o técnico já provou ser apreciador das qualidades do avançado em janeiro de 2019, quando deu ao Gonçalo de então 17 anos a oportunidade de se estrear como sénior, numa derrota caseira frente ao SC Braga B (2x3).Dois anos depois, Gonçalo Ramos já passou por muito, desde a estreia na equipa principal com um bis em cinco minutos (0x4), até à subida permanente em que os minutos foram escassos. É, por isso mesmo, importante relembrar a quem olha para o avançado como «talento desperdiçado», que este jogador ainda tem idade de júnior. Tempo para vingar não lhe falta.
2-0 | ||
Gonçalo Ramos 36' (g.p.) Diogo Mendes 51' |