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    Regresso ao Passado com... Naty Silva

    2021/01/14 19:41
    E1

    Olhar para o passado é um exercício que tem deixado grandes testemunhos para a memória coletiva do futsal nacional. Hoje, começamos a completar o ‘almanaque’ ao fazermos esta viagem com uma convidada, pela primeira vez nesta rubrica.

    Naty Silva é um nome bem conhecido no futsal feminino nacional. A ex-atleta – agora treinadora – vestiu as cores nacionais 65 vezes, e defendeu (literalmente) as cores de importantes emblemas do nosso campeonato. No verão passado, Natalina Maria Leite Silva pôs termo à sua carreira como guarda-redes, e conversa agora com o zerozero sobre os 19 anos de carreira, anos que recorda com orgulho e sentimento de dever cumprido.

    Como nasce uma guarda-redes?

    Frontal. Este seria o melhor adjetivo para descrever Naty. Ao longo de toda a entrevista, a ex-guardiã fez o contrário do que costumava fazer, e não jogou à defesa, pautando o seu discurso pela descontração, assertividade, e pela análise crítica de quem está bem consigo própria.

    Aliás, a história de Naty começa exatamente dessa forma, descontraída. «Eu tinha um irmão que jogava futebol de salão num clube que tinha equipa feminina, e eu experimentei». Não foi «por nenhuma razão especial» que o futsal entra na sua vida, e também foi mais o acaso que outra coisa que ditou a sua posição. «Eu comecei a jogar à frente, só que faltava alguém para jogar à baliza. Então disseram “Quem quer ir à baliza?”  e eu disse “eu posso ir”. Disseram-me assim, “mas olha é para ficares” e eu disse “tá bem” [risos].» E ficou. «Nesse ano, apesar de sofrer muitos muitos golos, [a repetição enfática é de Naty] até defendi alguma coisa, e foi aí que tive o convite do Portugal Cultura e Recreio

    ©Zé Paulo Silva

    Será que é por ter começado à frente que era uma guarda-redes que marcava tantos golos? «Boa pergunta! [risos] Não há explicação para isso…» foi a primeira resposta. Mas afinal há, e é bem simples: trabalho. «Ao longo da minha carreira desportiva tentava sempre melhorar as coisas menos boas. Sendo guarda-redes, e também jogando bem com os pés, tentava sempre melhorar ou aperfeiçoar, [jogar com o ] pé esquerdo, o passe e a receção… às vezes não estamos muito em jogo mas quando a bola vem a nós se nós fazemos um alívio ou um passe para o sítio errado, se calhar é golo. E teve muito mais que ver com isso. Foi acontecendo e então olha, quero mais. Como é que eu posso fazer?» Melhorar foi sempre o objetivo de Naty, que atira: «o 5x4+GR ajudou um bocadinho a esse aperfeiçoamento de jogar com os pés.»

    Muito trabalho e poucos arrependimentos

    A Naty de 2002 estaria orgulhosa da Naty de 2021? «Ah, sem dúvida!». A resposta é pronta e sem falsas modéstias. «Eu trabalhei muito. Só tenho frustração de não ter ganho títulos pelo que trabalhei e abdiquei na vida». Os títulos foram alguns, não tantos quanto gostaria: «não ganhei. Não tive sorte, não sei. Mas eu trabalhei muito e abdiquei de muito para chegar onde cheguei.» «Não foi uma carreira de muitos títulos, mas sempre dei tudo de mim.»

    qEu trabalhei muito
    Naty Silva

    Conversamos com Naty por telefone, e a voz ilustra bem a confiança das palavras e a confiança de quem olha para trás com orgulho. E com arrependimentos? «Poucas coisas». A resposta estava mais que pronta, ainda que a entrevista nunca tenha tido um guião. Mas a retrospetiva já foi feita outras vezes, e Naty assume o bom e o menos bom da mesma forma.

    «Acho que fiquei um ano a mais no Sporting, não tenho nenhum problema de falar sobre isso porque não devo nada a ninguém. Só me arrependo disso.» Porquê? «Porque acho que não me acrescentou nada a nível pessoal na minha evolução enquanto pessoa e enquanto atleta.»

    ©Arquivo Pessoal/Naty Silva

    No Sporting, Naty esteve perto de ganhar vários títulos, várias vezes. Ficou um amargo de boca? «Sem dúvida. Nós estivemos em quase todas as finais e não ganhamos.» Fazendo uma análise retrospetiva ainda é difícil tirar ilações concretas. «Tínhamos um excelente plantel, jogávamos muito bem futsal, mas depois, na hora H, não fomos felizes. Nunca consegui encontrar o que aconteceu, ou o que se poderia ter feito diferente, porque trabalhávamos, estávamos em todas as frentes, chegávamos ao fim e não ganhávamos contra o Benfica.»

    O reconhecimento nacional do talento e do trabalho: as chamadas à seleção

    Numa carreira de 19 anos cabem muitas memórias. Nas que Naty recorda com mais carinho incluem-se a vitória na Taça de Portugal, pela Quinta dos Lombos, e as chamadas à seleção nacional.

    A conquista da Taça «se calhar teve o impacto que teve por ter sido a história do último segundo», analisa a nossa convidada, mas, como faz questão de referir, «quando uma atleta recorda a sua carreira vai pelos títulos». Sem esquecer as pessoas – colegas e treinadores – é com títulos que se escrevem as histórias. «Também ganhamos a primeira taça nacional, quando era só a final four», recorda, mas o grande destaque vai para as chamadas à seleção. «É o culminar de um trabalho e do reconhecimento pelos treinadores. Acho que qualquer atleta quer ir à seleção.»

    ©Arquivo Pessoal/Naty Silva

    Naty também teve essa ambição, e concretizou-a em 2010. Lembras-te da tua primeira internacionalização? «Vagamente [risos]». Naty recorda o ano de 2010, em que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) reativou a seleção nacional feminina, que até então estava parada – lembrando que «foi em Espanha, e eu pouco tempo joguei, mas o facto de ter sido chamada foi um orgulho enorme, poder estar entre as melhores. Quer dizer, isso é um bocado discutível [risos]». Para as equipas técnicas nacionais não pareceu oferecer grande discussão, e Naty foi sendo presença assídua nas convocatórias, até 2019, ano em que ela mesma abdica disso. Já lá iremos.

    A maturidade e o autoconhecimento de saber quando chegou a altura de parar

    Antes, quisemos saber se em algum momento Naty pensou em colocar um ponto final na carreira, num momento anterior àquele em que efetivamente o fez. Mas Naty, sempre segura de si própria, explicou que «quem quer estar entre os melhores, quem quer ganhar títulos, não pode ir abaixo só por perder um título.» Reconhecendo que «é verdade que trabalhar sobre vitórias é mais fácil», adiantou que foi isso que sentiu que já lhe faltava, nos últimos 2/3 anos de carreira: a motivação. Nos últimos tempos «as coisas não estavam a correr assim tão bem» e «não é que eu me sinta velha, mas já não sou uma miúda de 20 anos. Não, acho que já trabalhei o suficiente para ter ganho coisas e não as ganhei e foi isso.»

    A pandemia não alterou a decisão. «Pelo contrário», garante. «Há 2 anos eu tinha decidido que ia sair da seleção. Porque o Europeu ia acontecer este ano, eu, não fazendo tenções de jogar mais que dois anos para estar no Europeu, decidi sair.» «Estou plenamente consciente da decisão que tomei, aquilo que eu queria fazer foi a meio da época pelos motivos que foram, mas chegava ao fim e ia acontecer o mesmo porque eu já tinha decidido que era só mais aquele ano.»

    ©Arquivo Pessoal/Naty Silva

    A paixão pelo futsal é inegável, mas quem corre por gosto, às vezes, também cansa. Em discurso direto: «O trabalho, tudo junto, chegar cansada… não sei porquê, mas o feminino treina às tantas da noite, então uma pessoa chega a casa à meia noite e tal/uma, no outro dia levanta-se às seis e meia da manhã… o corpo já se começa a ressentir. Senti que era altura e estou tranquila quanto à minha decisão, porque era mesmo isto que eu queria. Não queria que fosse uma lesão que “olha agora vais ter que parar ou deixar de jogar por esta lesão”. Foi uma decisão minha, consciente. Capacidades para continuar eu tinha, mas às vezes não é só a gente sentir que quer, é o físico e o psicológico que tem que estar 100% para as coisas correrem bem.»

    «Estou tranquila, a decisão já estava tomada, e só chegou mais cedo, mais nada.»

    Contribuir para o futuro da modalidade, agora a partir do banco

    Depois de terminar a carreira, Naty continuou ligada ao Quinta dos Lombos, assumindo o papel de treinadora-adjunta de Maria Martins das juniores do conjunto de Carcavelos. Esta transição de papéis ajudou a apurar o olhar analítico sobre a evolução da modalidade que, considera, vai «no sentido certo» - pese embora ainda de forma «lenta», situação que a pandemia ainda piorou. Por exemplo, estava previsto arrancar o campeonato nacional de juniores, que não está a acontecer porque a formação não pode competir.

    qAcho que já trabalhei o suficiente para ter ganho coisas e não as ganhei
    Naty Silva

    Reconhecendo que é necessário um equilíbrio de esforços entre todos os agentes, a conversa avançou com um debate sobre investimentos versus competitividade, o que nos fez voltar atrás, novamente aos tempos de Naty no Sporting.

    São 5 contra 5 e no final ganha o Benfica, ou a hegemonia encarnada poderá estar a aproximar-se do fim? A pergunta é difícil, sabemo-lo. Naty não tem, obviamente, a resposta. «A expetativa é essa…».

    Do princípio: Naty passou num clube grande, e reconhece que o que se espera são resultados imediatos. «E às vezes isso não dá.» A ex-atleta lembra que a equipa do Benfica tem um núcleo duro muito forte, e que trabalha há muitos anos juntas. Os títulos não caíram do céu, «é um trabalho contínuo». «Eu não posso criar uma equipa só para um ano e querer ser logo campeã. Quer dizer, posso, é legítimo, eu posso querer. Mas pode não acontecer. Acho que tem que ser um trabalho contínuo de 2/3 anos para conseguir ganhar alguma coisa, não é “vou juntar estas atletas e vou ganhar”» Nesse ponto, sublinha «acho que os Lombos têm feito um bom trabalho».

    ©Zé Paulo Silva

    Esse trabalho também depende de Naty e de Maria Martins, duas ex-atletas com currículo que são «um exemplo» para as atletas que agora orientam. Aliás, mais que um exemplo, são uma referência, e alguém que sabe perfeitamente pelo que as atletas passam. «Nem sempre uma atleta está bem, e sinto que sou uma pessoa que vê essa parte extra futsal que acho que por vezes nos ajuda a passar uma fase menos boa. Acho que sou uma mais valia nesse aspeto, e tento ensinar aquilo que sei, apesar de não ter o curso, acho que tenho muito para ensinar.» O curso é um objetivo futuro. «Não tirei o curso porque tinha seis treinos por semana e não tive tempo, e também era um bocado dispendioso, mas futuramente eu gostava de tirar o curso.»

    qEu não posso criar uma equipa só para um ano e querer ser logo campeã
    Naty Silva

    Com ou sem curso, Naty vai continuar ligada ao passado, presente, e futuro da modalidade. «Eu sou uma apaixonada pelo futsal.»

    «Hei de continuar por aí. [risos]» E nós cá estaremos para conversar mais vezes com Naty, até porque esta é uma versão encurtada de uma conversa muito rica sobre futsal.

     



    Portugal
    Naty Silva
    NomeNatalina Maria Leite Silva
    Nascimento/Idade1987-12-25(36 anos)
    Nacionalidade
    Portugal
    Portugal
    PosiçãoGuarda-Redes

    Fotografias(16)

    238984

    Comentários

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    motivo:
    SA
    Óptima entrevista
    2021-01-15 17h13m por santossantos
    Apenas gostava que estas atletas respondessem a perguntas especificas sobre a realidade do futsal.

    Há equipas a mais na 1ª divisão?
    Na selecção ganham o mesmo que a selecção masculina pelo mesmo trabalho?
    Há algum tipo de movimento no futsal feminino para exigir um mundial à FIFA e uma Champions à UEFA?
    Etc. etc.
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