*com Ricardo Miguel Gonçalves
Há poucos avançados tão impressionantes como Harry Kane no mundo do futebol. Dentro da área é letal, fora dela é mágico. Tem força, inteligência, mas também um toque de bola digno de um artista de meio campo já de outros tempos. Golos? Muitos. Mais de 250, até. Com títulos de melhor marcador na Premier League e no Campeonato do Mundo pelo meio, mas também um olho para as assistências como não é comum num ponta de lança.
Passou a correr, mas já la vão 10 anos desde que Harry Kane entrou em campo pela primeira vez no mundo do futebol profissional. Desde aí fixou-se como um dos melhores jogadores da atualidade, bem como o líder e capitão de uma seleção de Inglaterra que tem vindo a tentar agigantar-se novamente. É uma figura enorme no panorama mundial do futebol, mas em tempos foi pequeno o suficiente para sentar no banco de uma equipa do terceiro escalão.
É difícil imaginar Harry Kane a jogar no terceiro escalão do futebol inglês, mas foi isso que aconteceu quando tinha apenas 17 anos. Tinha dado uma amostra da sua capacidade ao marcar 18 golos em 22 jogos pela equipa sub-18 do Tottenham, o que motivou o empréstimo em janeiro, para que pudesse jogar por uma equipa sénior.
Foi no dia 15 de janeiro de 2011, à frente de pouco mais de 2 500 adeptos, que Kane fez a sua estreia no futebol profissional. Estava no banco quando foi chamado a entrar, aos 73 minutos, para o lugar do avançado Scott McGleish, e teve o seu primeiro gosto do futebol profissional, na League One. O jogo acabou empatado (1x1), no terreno do Rochdale.
Não marcou no dia de estreia, esse foi um marco que deixou para a sua primeira titularidade, uma semana depois, na receção ao Sheffield Wednesday (4x0). Ainda assim, impressionou o suficiente para continuar a ter minutos no orient, apesar da tenra idade, e marcar cinco golos no terceiro escalão antes de regressar a casa para a estreia pelos spurs, no playoff da Liga Europa, frente ao Hearts (0x0).
Não seria ainda o ano de afirmação de Kane, que ainda passou pelo Millwall, Norwich e Leicester por empréstimo antes de voltar a ter nova oportunidade no Tottenham. Essa, como sabemos, o avançado não desperdiçou.
Se há marca na carreira de Harry Kane que vale a pena celebrar é a dos 10 anos. Não só por ser uma década, um número redondo, mas pelo facto de ser o número que o «furacão» usa nas costas no Tottenham.
Podia ter escolhido a 9 ou a 10, que pertenciam aos recém-partidos Soldado e Adebayor, respetivamente, mas optou pela segunda e não voltou a olhar para trás.
Na verdade o número pouco importa e são os profissionais do futebol os primeiros a admitir isso, mas o consenso é que a camisola 10 é geralmente associada ao criativo da equipa, àquele que faz as coisas acontecer, seja onde for no comprimento do campo. Quem o vê hoje não tem dúvida, a camisola serve a Kane.
Em 20/21 já leva 11 assistências só na Premier League, o que o coloca no topo da lista no que toca a criadores. Recua no terreno e espalha passes precisos para companheiros em qualquer zona do campo, tal e qual um quarterback. Ainda assim não perde a capacidade goleadora: leva 18 golos na atual temporada.
Os 10 anos de carreira de Kane são muito preenchidos no que toca a golos, assistências e prémios individuais, mas há uma coisa que está claramente em falta: títulos.
O avançado de 27 anos nunca celebrou a conquista de nenhuma competição, não pelo Tottenham nem por Inglaterra, e quererá certamente resolver isso se quer deixar algum legado de maior relevo depois da reforma.
Ainda tem tempo. Parece ter deixado os problemas de lesões para trás das costas e, pelo seu estilo de jogo, não é descabido assumir que pode jogar mais uma década inteira a um nível muito alto.
Para já, joga sob o comando de José Mourinho, um especialista em troféus que ganhou em todo o lado onde esteve. Está também na final da Taça da Liga, de maneira que pode começar a resolver este problema já a curto prazo.
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