Campeão europeu em sub-17, campeão europeu em sub-19 e sempre com papel de destaque, Jota é uma das maiores promessas do futebol português e insere-se num lote de gerações que fazem crer que o futuro pode ser ainda melhor.
Nesta segunda parte da entrevista, o jogador falou sobre essa realidade portuguesa, repleta de talento e a apetrechar constantemente uma seleção que já é, na ótica do avançado, a «melhor» que Portugal já teve. Ainda que se note que a tendência é, cada vez mais cedo, emigrar à procura de melhores campeonatos.
zerozero: Estás inserido num conjunto de novas gerações portuguesas muito talentosas, que deixam o povo a sonhar. Porque é que vocês estão a ir tão cedo lá para fora?
Jota: Acho que cada situação é diferente, tem muito a ver com o que és dentro de ti. Há quem não queira sair, que quer manter-se em Portugal. Mas, se te sentes bem a fazer algo, tens de fazer. Cada jogador tem a sua mentalidade. Se há várias pessoas a sair, é porque precisam disso no momento.
ZZ: Todo este novo cenário, da COVID-19, alguma vez te fez recear essa ida para fora?
J: Não, até porque nós somos muito controlados, fazemos testes regularmente e não creio que isso fosse motivo para adiar uma coisa que era necessário ser feita. Nem sequer isso veio à cabeça.
ZZ: Portanto, não tens saudades do futebol português?
J: São campeonatos diferentes, há coisas aqui que são excelentes, lidar com todas estas dinâmicas novas, jogar contra estes jogadores, perceber qual o patamar mais alto do futebol e o nível que tens de ter para estares lá em cima, o nível que tens de ter para te manteres lá... Mas também há coisas na liga portuguesa que são muito boas e que eu tenho saudades.
Jota 8 títulos oficiais |
ZZ: Sendo tu uma das figuras da nova geração, achas que este crescimento atual é algo pontual ou Portugal está em crescendo para ser, de forma reiterada, um dos países mais fortes em futebol?
J: Isso é uma excelente questão e que podíamos estar aqui horas a debater, em relação á formação. Acho que se tem trabalhado mesmo muito bem, porque todos os anos alguém sobressai, alguém sai. E acho que, a meu ver, a nossa seleção é a melhor, a nível nacional, de todos os tempos. Temos excelentes jogadores, duas ou três hipóteses para cada posição e isso advém do trabalho de formação. Obviamente, falo do caso que melhor conheço, que é o do Benfica, onde fazemos um trabalho espetacular, não nos falta nada. Entras no Seixal e é outro mundo, uma nova dinâmica, tens tudo para seres o melhor profissional possível. As ferramentas estão lá, depois a parte complicada depende de ti, que é o suor e o trabalho... ou queres, ou não queres. Para chegares lá, tens de trabalhar muito, porque o funil é demasiado apertado e tens de dar muito se queres mesmo isso.
ZZ: Foste uma das maiores figuras da formação nos últimos anos, mas ainda não conseguiste o salto para o patamar máximo. Como é que te auto-avalias?
J: Acho que cada um tem o seu caminho e cada um tem de estar preparado. O meu tempo não é o tempo de outro. Há uns que fazem uma carreira a pico, sempre a subir, outros que andam irregulares, outros que chegam e vão-se abaixo. Eu estou em paz com isso, porque se ainda não chegou o meu momento, é porque não tinha de chegar. Tenho de me manter tranquilo, dar o litro para aprender todos os dias e reinventar-me constantemente.
ZZ: E sonhas alto...
J: Olha, da mesma maneira que não tenho metas para esta época, também não tenho resposta para essa pergunta. Sei onde quero estar, sei onde não quero estar, o que também é importantíssimo, mas tudo será fruto do que eu fizer.
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