Não é Cristiano, é mesmo Ronaldo, o Fenómeno, de quem se fala neste título. Porque é ele o atual presidente do Valladolid, o destino que Jota escolheu para ter a sua primeira experiência no estrangeiro. Emprestado pelo Benfica, o jogador foi à procura de crescer num dos melhores campeonatos do Mundo e está a ganhar o seu espaço. E foi no meio dessa missão que aceitou conversar com o zerozero, numa entrevista que apresentamos neste dia de Natal, em três partes.
Nesta primeira, o extremo falou sobre a realidade que encontrou em Espanha. Ao transferir-se na reta final da janela de transferências, e com ida à seleção sub-21 pelo meio, chegou tarde e teve de, primeiro, esperar pela sua vez. Ela chegou, Jota aproveitou e o crescimento tem sido claro, como demonstram as titularidades contra Atlético de Madrid e Barcelona (esta semana).
A conversa decorreu na véspera do duelo contra Messi e Jota contou também como foi seduzido para um destino que não estava a ser dos mais falados para a sua carreira.
zerozero: Foste para o Valladolid, que está na liga espanhola, mas que luta para não descer. Porque é que tiveste essa escolha?
Jota: Pelo que me disseram do projeto, do que podia acontecer aqui, o que pretendiam de mim. Tanto o Ronaldo, que é o presidente, como o Miguel Angel, que é o diretor desportivo, já me conheciam e disseram que queriam contar comigo. Aceitei e embarquei nesta aventura. Sabia que não ia ser fácil, até porque estou num campeonato muito competitivo, com muita qualidade, mas jogar semana a semana nestes estádios e com estes jogadores tem sido fantástico para aprender imensa coisa e para evoluir enquanto jogador.
ZZ: Falaste do Ronaldo assim tão naturalmente... o Ronaldo! Como é essa relação? Foi ele que te convenceu?
J: Na altura também pensava: 'Hey, o Ronaldo'... Mas agora já é normal, ele tem estado muito connosco, vai aos treinos e aos jogos... habituas-te. É a figura máxima do clube, mas depois é muito terra-a-terra, fala contigo como se nada fosse. Ainda recentemente, num fim de jogo, ele veio ter comigo e disse: 'hey Jota, adorei, adorei o que fizeste, foste para cima deles sem medo, é mesmo isto que gosto de ver nos atletas, não tiveste medo de encarar e quero que faças sempre isto'. Quando ouves coisas assim de alguém que, para mim, está no top-5 da história do futebol, isso dá-te imensa confiança e coloca-te em patamares muito bons. Foi um pouco essa conversa que eles tiveram para comigo e foi isso que me fez vir.
ZZ: Em que patamar é que eles te colocam?
J: O que eles fizeram passar é que era para ajudar a equipa, num campeonato competitivo, onde ia ser preciso procurar o meu espaço, mas conseguindo naturalmente o espaço e o destaque que eles ambicionam para mim e para o grupo.
ZZ: Está a acontecer assim, porque tiveste um período em que não saías do banco, depois tiveste a oportunidade e passaste a jogar sempre, embora ainda não como um titular indiscutível...
J: Sim. Agora tem corrido bem. No início, foram alguns jogos sem ser opção, depois estreio-me e faço um golo, o que foi um momento felicíssimo para mim, e depois começo a ganhar mais minutos. Mas tenho de fazer o meu, passo a passo, tendo a humildade de reconhecer que tenho muito para correr, para trabalhar até conseguir os meus objetivos.
ZZ: Definiste metas?
J: Não. Defini o dia a dia, nada mais do que isso. Aprender ao máximo, divertir-me e ter prazer a fazer o que mais amo, que é jogar futebol.
ZZ: Aterraste em Valladolid... que sítio é esse? Imagino que não tenhas a azáfama do trânsito de Lisboa...
J: [risos] Não, nada disso, disso estou safo. Não tinha ideia do que era Valladolid e quando cheguei fiquei bastante impressionado. Estou no centro e tenho tudo ao meu lado, vou a pé para todo o sítio, incluindo para o centro de treinos, que é a 10 minutos. O que estou a comprovar é que, tal como me disseram, isto é frio... Bastante frio! [risos] Aida há uns dias fomos jogar a Sevilla, estavam uns 16, 17ºC, e quando chegámos estavam 4ºC. É alguma diferença. Mas estou a adaptar-me bem, o idioma não custou, até porque já sabia falar espanhol.
ZZ: Estás sozinho?
J: Acabo por não estar, porque a minha namorada vai e vem, os meus pais também, portanto tenho quase sempre cá pessoas. Mas, ao mesmo tempo, aproveito e conheço-me melhor a mim próprio, pois nunca tinha tido esta experiência de viver sozinho. Para o meu crescimento como pessoa, é muito bom, encarar outras dificuldades. Já tive sustos, que eles aqui têm uma brincadeira que eu não sabia. As pessoas andam na rua com petardos pequeninos, os miúdos, crianças de 5 anos, passam por nós e mandam o petardo para o chão. E 'Puuum!' Tu assustas-te, saltas. Nas primeiras vezes, até ia sorrateiro para a janela, porque pareciam tiros na rua, mas era aquilo. No clube entretanto explicaram que os miúdos têm essa brincadeira...
ZZ: Pelo que ouço, zero de arrependimentos.
J: Zero, claro que sim. E, mesmo que as coisas corressem mal, são as decisões que se tomam. A vida é feita de oportunidades e esta é uma oportunidade.
ZZ: Devias ter outros destinos nas hipóteses... Porque é que escolheste Espanha?
J: Espanha tem uma liga muito técnica e isso ia de encontro ao futebol que eu gosto de jogar. Acreditei que podia ser benéfico para mim, para esta primeira saída de Portugal. Foi um primeiro passo bem dado e agora é ter mais jogos, mais minutos.
ZZ: Estamos a falar na véspera do jogo contra o Barcelona. Vais realizar mais um sonho?
J: Era algo que já queria há muito. Sou uma pessoa que consome imenso futebol, desde sempre, e sempre vi muito as melhores equipas a jogar. Agora ter a oportunidade de ir para o campo jogar contra eles, ou, mais especificamente, contra o Messi... é muito bom. Quero divertir-me dentro de campo. Ainda agora tive um amigo que não sabia com quem eu ia jogar e que me perguntava se eu ia no Natal. E eu disse 'pá, ainda não sei, acho que só posso ir embora depois do 23, mas depende de muitos fatores, e vão ser dois jogos muito complicados'. E ele 'mas complicado... contra quem?'. Sevilla e Barcelona. 'Hey, já vais jogar com esses gajos? Eu acho que não conseguia, entrava em campo e tremia todo'. [risos] Obviamente que há o nervosismo antes de o jogo começar, mas depois rola a bola e tu queres é ir atrás deles e comê-los vivos [risos].
Ler também:
Parte I - «O Ronaldo veio ter comigo e disse: 'hey Jota, adorei, adorei o que fizeste, foste para cima deles sem medo»
Parte II - Jota e as novas fornadas do futebol português: «O funil é demasiado apertado»
Parte III - Jota: «Se o Bernardo quiser, um dia podemos ser os dois presidentes do Benfica»