Em mais uma edição do Estórias de Balneário, convidamos Pli, ex-guarda-redes do SC Braga, a partilhar alguma história dos seus tempos de futsal.
Ficamos a saber da praxe que se fazia no Minho e que a vida sem GPS não era fácil. Quem nunca se enganou no pavilhão que atire a primeira pedra! Ou dê o primeiro tiro, se forem o Davide Moura...
Estava a pensar contar duas histórias e mais uma praxe que fazíamos sempre aos miúdos, no Braga.
Uma praxe que era habitual fazermos no Braga era que todos os miúdos que entravam, enquanto não vestissem a camisola da equipa sénior, não se podiam equipar no cabide. Às vezes tínhamos lá no balneário um monte de roupa, que eles tinham que pôr sempre a roupa no monte da roupa, enquanto não podiam usar o seu cabide. Quando iam treinar quatro ou cinco juniores aquilo parecia a feira da Vandoma, de tanta roupa que estava no meio do chão! Depois era uma alegria para eles quando vestiam pela primeira vez a camisola dos seniores - a de jogo, que não contavam os treinos - e já se podiam equipar no cabide, faziam uma festa!
Agora histórias tenho duas.
Uma, nos primórdios, quando comecei a jogar no São Lázaro – clube que depois deu nome ao Braga, depois de deixar de existir – em que um dos nossos melhores jogadores estava a trabalhar numa feira na Exponor, e nós precisávamos que ele viesse ao jogo, que era um jogo importante. Estávamos sempre a ligar a perguntar «Onde é que estás?». «Estou a sair agora da feira já vou aí ter com vocês. Onde é que é o pavilhão?». Nós íamos dando indicações, na altura não tínhamos GPS como temos agora, e ele «Ok, estou a chegar, já vi o pavilhão, estou a entrar». E nós «Porreiro, ele chegou!». Entramos para o aquecimento e ele nada. Começamos o jogo, e ele nada. Aparece-nos ao intervalo, e nós «Então?», e ele «Enganei-me no pavilhão»!
Chegou ao outro pavilhão, equipou-se num balneário que não era o nosso, que não era de ninguém, entrou para um jogo em que estava de um lado uma equipa vestida de amarelo, do outro uma equipa de verde, e ele equipado de vermelho, que era o que nós vestíamos. Depois lá teve que vir a correr para o nosso pavilhão.
A outra história é com o Davide, um rapaz muito porreiro. Ele jogou comigo no Braga, na altura também estava aqui o Chiquinho, que veio do Sporting, e eles viviam juntos.
Então eu e acho que era o Berto, antigo guarda-redes que também estava aqui comigo, fomos ao balneário mais cedo e pusemos a pomada Finalgon nas cuecas e nas meias. Aquilo arde mesmo muito, deve aquecer mesmo muito… então ele vestiu-se, foi embora, já estava eu em casa a jantar e liga-me o Chiquinho, a chorar a rir, a dizer que o Davide estava no chuveiro a insultar-nos a todos. Ouvia-se ele a insultar-nos: «Eu vou trazer uma caçadeira lá de cima e vós ides ver!». E o Chico a contar-nos que ele ia no carro a dizer «Ó Chiquinho, tu tens a chauffage [aquecimento] ligada? É que está aqui muito quente, estou com os pés a ferver, e aqui na zona do rabo estou a fever… o que é que se passa aqui?», e o Chiquinho também não sabia. Depois eu é que lhe mandei mensagem [ao Chiquinho] a avisar se acontecesse isso, já sabia do que tinha sido. Foi aí que ele me ligou, a chorar a rir, a dizer que o Davide estava na banheira, e passou lá cerca de uma hora, com água fria quer nos pés quer nas outras zonas, a ver se acalmava a dor que ele tinha.
Era muito engraçado, que ele falava muito à Trás-os-Montes, a dizer que nos ia dar um tiro… depois, claro, choramos a rir, e todos gozamos com ele no treino a seguir!