Texto originalmente publicado a 24 de outubro de 2020, data do 39º aniversário.
Sábado, 24 de outubro de 1981. Foi neste dia, há 40 anos, que em França se disputou o primeiro jogo de sempre da seleção feminina de Portugal.
Num Portugal totalmente diferente daquele que temos hoje e com um panorama do futebol feminino praticamente inexistente em grande parte do território nacional, a FPF reuniu 16 jogadoras que já jogavam nos (poucos) campeonatos distritais que existiam e respondeu de forma positiva a um convite enviado pela Federação Francesa de Futebol.
Nesse sentido, e em dia de aniversário, o zerozero resolveu conversar com quem lá esteve e com quem tem recordações de um dia que entrou para a história do futebol nacional.
Alfredina Silva, atualmente com 56 anos e a desempenhar funções de coordenadora técnica na equipa feminina do Boavista, foi uma das 16 jogadoras chamadas para viajar para França.
Em conversa com o zerozero, Alfredina começou por dizer como surgiu a oportunidade de criar a seleção e de que forma reagiu quando percebeu que tinha sido convocada para representar a equipa das Quinas. Além disso, a antiga internacional portuguesa recordou ainda como todas as jogadoras viveram esses dias que antecederam o encontro e que implicaram uma viagem ao estrangeiro.
1ª convocatória: «Primeiro estavam a dizer que íamos ter um jogo por Portugal, mas nem toda a gente acreditava. E realmente só quando vi a convocatória na minha mão é que percebi que era verdade. Na altura, eu jogava no Leixões e até foi o clube que me entregou uma carta».
As recordações da viagem a França: «Encontrámos uma modalidade com condições completamente distintas de todas aquelas que tínhamos em Portugal… Tivemos a possibilidade de treinar sempre em relva, de ter um estágio em que estivessem todas as jogadoras, de estarmos nesse estágio só por causa do futebol e de termos também a possibilidade de sair do país para defrontar uma seleção forte, representar o nosso país e de ouvirmos o hino nacional…Na altura, vivemos aquilo com muita felicidade pelo facto de estarmos a fazer aquilo que gostamos, mas hoje olhamos para isto como um dia histórico».
Com 30 internacionalizações no currículo, Alfredina fez grande parte da sua carreira no Boavista, tendo também representado o Leixões, Merelinense, Lobão e o Gatões, equipa que mais tarde orientou na primeira participação de uma equipa portuguesa na Liga dos Campeões feminina. 39 anos volvidos, Alfredina fez o balanço de uma longa carreira.
40 anos de carreira: «É um balanço muito positivo…Primeiro, porque o futebol sempre foi uma paixão na minha vida e ter a oportunidade de praticar futebol numa altura em que havia poucas oportunidades para as mulheres o praticarem. E depois o facto de estarmos num desporto que nos obrigou a lutar para que fosse socialmente reconhecido como um desporto feminino e fazermos parte dessa luta que hoje faz com que o futebol feminino tenha mais visibilidade e mais oportunidades de prática para quem gosta e quer».
No mesmo sentido, a antiga internacional portuguesa realçou ainda todo o trabalho feito ao longo das últimas décadas para que hoje Portugal possa ter «quadros competitivos bem estruturados».
«A primeira seleção surgiu em 1981 e em 1983 aconteceu a primeira participação numa qualificação para um Europeu…E depois, para percebermos o contexto, houve um interregno de dez anos, apenas porque a FPF entendeu que não devia inscrever mais futebol feminino nos campeonatos da Europa…Isso seria impensável numa seleção masculina. Ainda assim, neste período houve todo um processo e um grupo de pessoas que não desistiram e continuaram a trabalhar para encontrar um espaço que hoje tem mais visibilidade, mais oportunidades e também mais qualidade. Hoje temos quadros competitivos bem estruturados, quer na formação, quer também no escalão sénior», concluiu.