Terminou empatado o primeiro clássico da época 2020/21. Em Alvalade, Sporting e FC Porto igualaram-se a duas bolas, num jogo com emoção, nem sempre bem jogado, mas que termina com um sorriso leonino pelo ponto resgatado por Vietto perto do final, num jogo que ficou marcado por estreias, regressos e alguma polémica antes do intervalo.
Muitas vezes aguardado com ansiedade, o Clássico não é apenas um jogo, mas é inegável que perde encanto sem adeptos. Antes do encontro, os jogadores do Sporting ainda receberam o apoio de membros das claques e outros adeptos que se juntaram, numa recordação que este é um jogo especial, com história, a mais recente bem negativa para os leões. Há três épocas e meia sem vencer o FC Porto para a Liga, o Sporting procurava inverter uma tendência e mostrar que, apesar de ser apontado como estando num patamar abaixo dos dois principais candidatos ao título ainda é um dos grandes do nosso futebol.
Do outro lado estava o campeão nacional. O momento da equipa de Sérgio Conceição era delicado, pela derrota antes da paragem e pelas saídas de Danilo e de Alex Telles. Se Uribe foi um substituto natural para o internacional português, a aposta em Zaidu foi uma ligeira surpresa e o nigeriano deu muito que falar na primeira parte.
Se havia quem estivesse à espera de um início expectante de ambos os lados cedo isso foi contrariado. Na baliza do leão, Adán foi obrigado a uma grande defesa quando ainda nem estava completado o primeiro minuto de jogo. Do outro lado, Marchesín mostrou que a recuperação tinha sido um sucesso e impediu Matheus Nunes de abrir o marcador. Inícios equilibrados, com o primeiro erro a dar vantagem aos leões. Mbemba cortou para as suas costas a contar com o auxílio de um colega, mas foi Nuno Santos a encontrar a bola e a rematar de primeira. Desta vez o argentino Marchesín não conseguiu evitar o 1x0, mas ainda havia muito para jogar.
Em desvantagem, o FC Porto assumiu o jogo, algo que parecia agradar à formação leonina, que procurava sair com perigo em transição. Da subida de rendimento da equipa portista ao golo da igualdade não tardou muito e foi Uribe, que já tinha avisado com uma aproximação à baliza de Adán, a fazer o 1x1 de pé esquerdo, após excelente assistência de Zaidu. O nigeriano tinha tido um arranque algo nervoso, com uma falta perigosa sobre Porro, mas o passe para o golo do colombiano por momentos fez esquecer os cruzamentos teleguiados de Alex Telles.
Apesar de não estar a ser um jogo brilhante, a partida estava interessante. Pela ânsia de chegar ao golo, havia erros de parte a parte, mas à medida que o jogo foi passando a equipa portista estabilizou, enquanto o Sporting continuava a «dar casas» no setor mais recuado e isso viria a ser fatal, até porque lá na frente o acerto não estava a ser o desejado. Depois de um desperdício de Pedro Gonçalves, sempre muito encostado ao flanco direito, o talento de Luis Diaz e Corona foi diferenciador. O colombiano aproveitou um par de erros na transição leonina após um canto e o mexicano fez o que melhor sabe. Drible e finalização de classe a levar os dragões em vantagem para o intervalo. No entanto, tal não aconteceu sem a polémica pimenta que tempera qualquer clássico - Pedro Gonçalves caiu na área, Zaidu viu segundo amarelo e foi assinalado penálti a favor dos leões. O VAR interviu, a decisão de Luís Godinho foi duplamente revertida e quem acabou por sair de cena foi Rúben Amorim, expulso na sequência dos protestos. Um fechar do pano que deixava água na boca para a cena final, mas a verdade é que a segunda parte esteve sempre longe do nível da primeira.
Desde a bancada, Rúben Amorim era um espetador priveligiado, até por ser, juntamente com um adjunto, o único presente nas bancadas de Alvalade. Era daí que o técnico procurava intervir e mexer com o jogo, mas a verdade é que as alterações do treinador tardaram a resultar e em certos períodos pareceram até deixar os jogadores leoninos confusos. Do outro lado, Sérgio Conceição foi assistindo impávido e sereno a um jogo controlado por parte da sua equipa, sempre com Pepe pronto a suster qualquer ímpeto leonino.
Pelo tamanho da crónica facilmente percebe que a primeira parte teve muito mais para contar do que a segunda. É fácil de explicar. O Sporting continuou a cometer erros atrás, mas do outro lado o FC Porto também esteve longe de ser eficaz no aproveitamento. Em suma, eram duas equipas diferentes da postura da primeira parte e o jogo parecia mesmo arrastar-se para um final entediante, sem história para contar para lá das alterações - João Mário voltou a vestir a verde e branca, Toni Martínez, Nanu e Felipe Anderson estrearam-se nos dragões -, mas os últimos minutos fizeram-nos lembrar que isto era um Clássico e aqui as histórias duram até ao apito final.
Quando as alterações de Amorim pareciam estar longe de fazer efeito, Tiago Tomás apareceu solto na direita e colocou na grande área, onde desta vez apareceu alguém para mexer com o leão. Jovane tinha sido uma sombra de avançado durante os 56 minutos que esteve em campo. Sporar, pelo contrário, apareceu para um desvio de calcanhar que Marchesin defendeu para a frente, onde apareceu Vietto para um empate que poucos já esperavam. Conceição ainda reagiu com a entrada de Taremi, que quase marcava a seguir, mas a história do Clássico acabou minutos depois.
Sem adeptos, com muitos erros, mas com emoção até ao fim num resultado que, apesar de fora de casa, dói mais aos dragões do que aos leões. A equipa de Sérgio Conceição parecia ter o jogo controlado quando o Sporting chegou ao empate e, claro, tão cedo no campeonato, o FC Porto pode acabar a quarta jornada a cinco pontos do Benfica, algo que não estaria certamente nos planos azuis e brancos...
Dois lances polémicos na primeira parte, ambos a envolverem Zaidu. O nigeriano teve uma entrada sura sobre Pedro Porro que acabou por valer o amarelo e depois chegou a ver o segundo amarelo por penálti sobre Pedro Gonçalves. O lance foi revisto, o penálti anulado e o amarelo retirado, mas nem o VAR ajudou a tirar todas as dúvidas.
O pior está relacionado com o melhor. Os erros defensivos surgem também pela vontade de ambas as equipas de conquistar os três pontos. Os leões arriscaram muito e foram premiados no final do encontro, os dragões assumiram o jogo após estarem em desvantagem e conseguiram uma reviravolta que não durou até final.
O Sporting pecou mais neste aspeto, mas o FC Porto não esteve isento de também os cometer, sendo que Pepe ajudou a disfarçar as falhas da equipa de Conceição. Neto e Coates tiveram um jogo de baixo nível e na direita Porro não ajudou. Nuno Mendes, o mais certinho na defesa leonina, também facilitou uma vez e daí resultou o golo. Para ganhar é preciso errar o mínimo possível e esta noite houve demasiados erros que impediram o triunfo de leões ou dragões