Ispeaksempolemicas 23-04-2024, 16:33
O universo portista foi surpreendido, esta quarta-feira, pela contratação do lateral direito português. Nunca fora um assunto tocado nos jornais e, no meio do rebuliço do mercado, a chegada do jogador de 27 anos provocou surpresa e curiosidade. Afinal, que reforço é este que chega para a equipa de Sérgio Conceição.
O zerozero pesquisou, pela sua base de dados, a evolução do jogador, que se formou no clube axadrezado e que, depois de dois empréstimos, regressou para ficar em 2016. Porém, como médio. Ser lateral só passou à realidade em 2017/2018, quando Jorge Simão apareceu no Bessa e, em pouco tempo, o trocou de posição.
Um momento recordado pelo treinador, atualmente ao serviço do Al-Fayha, e que acedeu a conversar connosco a propósito de um jogador que, notou-se no tom de voz e nas palavras, o deixou em plena satisfação pelo salto dado.
zerozero: Até por não se ter falado antes deste negócio, este acabou por ser um negócio surpreendente. Estamos a falar de que tipo de jogador?
Jorge Simão: Também estou nessa linha de que foi uma surpresa. Mas, para mim, foi uma surpresa muito, muito agradável, porque eu sou o tipo de treinador que tenta estabelecer um grande laço emocional com os jogadores, até porque acho que assim os jogadores se conseguem entregar mais e transcender... e o Carraça é um exemplo disso. Quando cheguei ao Boavista, ele era um médio centro...
ZZ: Foi consigo que ele passou a lateral...
JS: E acho que esse é o momento que pode transformar a carreira dele. Lembro-me de ter uma conversa com ele e dizer-lhe "pá, oh Carraça, muito frontalmente, se tu continuares a médio centro, podes fazer uma carreira de primeira Liga, mas não vais sair do nível em que estás. Acredito que, pelas características que vejo, como lateral direito poderás fazer uma carreira de nível diferente". Estaria a ser incorreto se dissesse que olhei para ele e vi nele logo um lateral direito, acabou por ser fruto das consequências momentâneas, por termos o Edu Machado e o Tiago Mesquita lesionado, mas tive poucas dúvidas em falar com ele e perguntar-lhe: "Carraça, estás disposto a experimentar isto?". E ele disse: "Míster, claro que estou disposto, vamos a isso!". Tenho a ideia de que o primeiro jogo que ele faz a lateral direito foi no Estoril, em que ganhamos 0x3, ele até faz um golo de livre direto e fez uma exibição que a mim dissipou qualquer dúvida. Fiquei com a certeza de que podia ter alguém para fazer a posição com grande qualidade. Ele não é um lateral de grandes correrias para cima e para baixo, mas é um lateral certinho, que tem qualidade para um jogo posicional, tem qualidade de passe, qualidade de cruzamento...
ZZ: E não é por acaso que ele bate as bolas paradas, certo?
JS: Exatamente. Não é um lateral vertical, mas envolve-se muito bem nas dinâmicas ofensivas do corredor, nas triangulações e nas tabelas. Depois, corrigindo algumas arestas próprias de quem não estava habituado à posição, evoluiu muito durante este tempo e não é fácil de bater no um-para-um, é um lateral que cumpre com muito rigor todas as missões táticas que tem pela frente, que não se atemoriza seja com quem for - tanto joga com o campeão nacional, como contra o último da tabela, sempre com a mesma seriedade. Acaba por ser para mim uma surpresa muito agradável.
ZZ: Falou que ele não é lateral vertical, mas sim mais posicional. Isto significará um estilo muito diferente do de Manafá e, portanto, duas soluções bem diferentes para Sérgio Conceição?
JS: Aquilo que conheço do Manafá é o que vejo nos jogos, não conheço a fundo, mas diria que sim. São dois laterais diferentes e que podem dar à equipa coisas diferentes. O Carraça não é seguramente um lateral de andar para cima e para baixo, é mais posicional, de triangulações, de rigor defensivo e, no último terço, que pode acrescentar qualidade, já que cruza bem e define muito bem os timings para saber quando vai ou não vai.
ZZ: Tendo em conta que foi um dos capitães do Boavista, imaginamos que possa ser alguém que, do ponto de vista de balneário, também preencha uma série de bons requisitos. É assim?
JS: Acredito que sim. Para ele, a mudança não será grande do ponto de vista social, já que vai viver na mesma cidade, no mesmo ambiente, com o mesmo suporte familiar. Por outro lado, o Carraça era um símbolo do Boavista, pois cumpriu a formação, chegou ao futebol sénior e, por via disso, era um dos capitães, mas foi crescendo e desenvolvendo essa responsabilidade de ser um dos capitães e um dos líderes de balneário. Entrando num clube como o FC Porto, onde é fundamental haver homens fortes, com uma mentalidade muito competitiva dentro do balneário, acredito que se vai adaptar rapidamente, pois isso já tem estado com ele.
ZZ: Estamos a falar de alguém como? Mais divertido? Mais recatado?
JS: Ele tem os seus momentos... [risos] Não é naturalmente um brincalhão, mas também tem os seus momentos. Não o ponho em nenhum desses extremos.
ZZ: Imagino que esta transferência também o deixe realizado...
JS: Enche-me de orgulho ver este momento. Admito que ajudei a dar alguma contribuição à sua evolução e estas também são medalhas que carregamos enquanto treinadores, sentir que, aqui ou ali, de uma forma ou de outra, aqueles com quem trabalhamos tiveram oportunidade para melhorar as suas condições de trabalho e de vida.