Há em Coimbra muitas atrações turísticas, quase todas elas académicas. Uma delas são as escadas Monumentais. Grandes, infindáveis, 125 degraus que fazem suar, de baixo para cima. E foi quase como as subir, para o FC Porto. Durante a época e durante este jogo. Muitos obstáculos, muito desgaste, alguns momentos de dúvida própria, mas a firmeza final a chegar ao topo. Numa época em crescendo, a cereja no topo do bolo viria a abrir agosto, sem público no estádio para ver nova vitória sobre um Benfica em falência futebolística.
Num jogo com muitas peripécias, o FC Porto até parecia estar em apuros quando Luis Díaz foi expulso e quando Sérgio Conceição foi mandado para a bancada, só que, como tantas vezes esta época, as bolas paradas decidiram e a enorme vontade confirmou, perante um Benfica sem confiança e que só despertou no fim.
Rápidos, sólidos e muito confiantes, os dragões rapidamente galgavam metros e colocavam-se em zona de finalização. Não havia Tiquinho e, por isso, Marega sacrificou-se um pouco mais entre os centrais encarnados, abrindo flanco para Otávio e Corona fazerem, em condução, os movimentos da direita para dentro. E foram várias as vezes em que, assim, se viram capazes de criar perigo: umas vezes deu, outras não.
Contudo, foi um FC Porto globalmente melhor na primeira meia hora. As águias, além da tal tendência para esticar o jogo com bolas diretas, tentavam a construção entre Chiquinho e Pizzi de forma apoiada, mas quase nunca a surtir efeito - a aposta de Conceição nos três médios foi fundamental para aí ter superioridade, com e sem bola.
Num ápice, tudo parecia mudar. Luis Díaz foi imprudente e viu segundo amarelo. Logo depois, Conceição foi expulso num acumulado de protestos do banco de suplentes. E eis que o tabuleiro mudava. Sem muito fazer por isso, o Benfica tinha uma soberana oportunidade de ter supremacia na final.
Pois tudo voltou a virar em 15 minutos. O final da primeira parte foi muito quente e era necessário, sobretudo do lado portista, reagrupar e serenar. E que melhor forma de o conseguir do que com um golo? Bola parada, pois claro, e Mbemba a dar uma preciosa vantagem.
Com Rafa em campo, a equipa de Veríssimo tentou reagir sem sucesso. E, antes de dupla mexida do treinador (Vinícius e o regressado Taarabt), outro golo de Mbemba, em nova bola parada, num FC Porto que só não tinha mais homens... porque em vontade, em atitude, em raça e a meter o pé, a equipa de Sérgio Conceição foi sempre superior. Se o descontrolo emocional se viu nos portistas a fechar a primeira parte, o descontrolo de jogo numa situação de superioridade numérica viu-se também de forma inexplicável a abrir a segunda. Uma fatalidade...
Na última meia hora, naturalmente foi um Benfica instalado no meio-campo contrário, muito do tempo no último terço. Já sem tanta frescura física, e porque o jogo convidava a não ter riscos, o FC Porto deixou de atacar e manteve-se compacto, respirando quando alguém conseguia ganhar falta.
E chegou, pois do Benfica quase nada se viu durante boa parte desse derradeiro período, para além de posse e de inúmeros cruzamentos. Dois encontraram Vinícius, que num deles falhou de forma incrível. Os outros deram de frente com o muro montado e reforçado pelos portistas, quase sempre eficazes.
Só não o foram num penálti escusado, que animou os últimos 10 minutos e que deu um palpitar fortíssimo ao jogo. Finalmente crente, o Benfica tornou-se perigoso e afirmativo, tanto que atirou ao poste por Jota e falhou de forma incrível o empate mesmo ao cair do pano.
E, depois do campeonato, o FC Porto ganha a Taça, numa época espetacular!
Pode ser criticada por nem sempre jogar o futebol mais vistoso, mas é impossível alguém dizer que outros querem mais do que este FC Porto. Chame-se «azia», «mau perder» ou o que quer que seja, este FC Porto é de uma alma inegotável, de uma atitude impressionante e de um sentido de solidariedade fantástico. A forma como a equipa se reagrupou para ganhar um jogo que tão difícil ficou com a expulsão é digna do maior elogio. Que se faça a festa!
Provavelmente, nem ganhando alguém no Benfica se atreveria a dizer que a época estaria salva, mas... só isto? A uma equipa que tão bem já esteve esta época é difícil encontrar justificação para tamanho apagão. A desconcentração nos golos não justifica tudo, pois só se viu real convicção em discutir a final depois de um penálti caído do céu, que relançou o jogo. Muito pouco para tão grande (teórica) dimensão.