Dominador da competição no que toca a número de títulos, o Benfica tem perdido força na Taça de Portugal durante as duas últimas décadas e meia. Para além de terem levantado durante este século, particularmente, menos canecos do que os dois principais rivais, os encarnados não defrontam FC Porto ou Sporting no Jamor desde 2004. Coimbra, neste próximo sábado, marcará o regresso do duelo mais escaldante dos últimos anos à grande festa do futebol.
Também por isso é importante recordar aquilo que aconteceu na tarde de 16 de maio de 2004. É que a única decisão de Taça de Portugal nas últimas três décadas entre os dois clubes mais titulados do futebol português teve muito que se lhe diga. Pelas duas tragédias que marcaram o ano encarnado, pela emoção do próprio jogo, por um FC Porto que ia disputar um dos jogos mais importantes da sua história pouco depois.
Lembrar 2004 no Estádio da Luz é lembrar um dos anos mais tristes da história do Sport Lisboa e Benfica. É verdade que foi o ano do centenário, é verdade que foi o ano do regresso aos títulos, depois de um virar do milénio muito complicado, mas também foi ano do falecimento de dois jogadores: Fehér, em janeiro, e Bruno Baião, capitão da equipa de juniores, em maio.
Foi com uma carga emocional muito forte que a Águia enfrentou um adversário que, na altura, parecia quase invencível à escala do futebol português. O FC Porto de Mourinho procurava a segunda dobradinha consecutiva e o segundo título europeu em dois anos. A Taça UEFA tinha marcado o 2003, a Liga dos Campeões podia marcar de uma forma brutal o 2004 azul e branco.
Depois de um início fulgurante, em que encostou às cordas um rival da qualidade do FC Porto, atirando uma bola ao poste e criando mais um par de grandes oportunidades, o Benfica foi-se abaixo no próprio jogo, não conseguindo lidar com a consistência de um campeão nacional que chegou ao intervalo em vantagem, depois de mais um livre de Deco que criou muitos problemas a Moreira, incapaz de travar a recarga de Derlei.
A alma e a revolta do Benfica voltou a falar mais alto no início da segunda parte, quando o grego Fyssas acreditou mais do que qualquer colega ou adversário que o lance de insistência e o desequilíbrio criado da esquerda para o meio podia resultar no empate. Basta rever o festejo do lateral para se perceber que aquele era um Benfica ferido.
Quando o prolongamento começou, o FC Porto já jogava com menos um. Na verdade, este também foi um clássico e uma final para homens de barba rija, uma vez que foram muitas as entradas (especialmente do lado azul e branco) que roçaram o violento. A Águia aproveitou e o menino-bonito Simão Sabrosa deu, finalmente, uma alegria aos benfiquistas sedentos de vitórias. E se o pé direito do extremo fazia tantos estragos, especialmente naquele movimento da esquerda para o meio, o que dizer do cabeceamento da então estrela do futebol benfiquista. Nem a má saída de Nuno lhe retira brilho.
1-2 | ||
Carlos Vinícius 84' (g.p.) | Chancel Mbemba 47' 58' |