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    Avançado concedeu entrevista ao zerozero

    Zé Manuel, o melhor marcador de sempre do Santa Clara na I Liga: «Agora têm de me alcançar»

    2020/07/22 16:44
    E3

    *com José Pedro Gomes

    O Santa Clara, depois de igualar a melhor pontuação de sempre (42 pontos), pretende agora ultrapassar esse registo e tem mais um jogo para o fazer, frente ao Vitória SC. Zé Manuel, a representar a equipa açoriana desde a temporada passada, tem sido um dos jogadores mais importantes nesta caminhada. 

    O jogador natural de Nogueira (Braga) tornou-se, no jogo frente ao Aves, o melhor marcador de sempre na Primeira Liga ao serviço do Santa Clara, apontando o 11º golo pelo clube, ultrapassando assim Ceará e Guilherme Schettine, ambos com 10 golos marcados. 

     

    Esta jornada, voltou a marcar frente ao Rio Ave e leva cinco golos esta temporada. Para além dos bons registos, Zé Manuel tem apetência para marcar em jogos frente aos grandes. Após ser lançado por Jorge Jesus ao serviço do Braga (frente ao FC Porto, no Dragão), já leva 26 golos apontados na Primeira Liga, cinco dos quais aos ‘três grandes’ (dois ao Benfica, dois ao Sporting, um ao Porto), sendo que o último desses golos valeu mesmo a vitória ao Santa Clara, frente ao Benfica, na vitória por 3x4. E não foi a primeira vez que um golo seu garantia a vitória frente aos encarnados. Em 2016/17, ao serviço do Vitória FC (emprestado pelo FC Porto), foi da cabeça de Zé que saiu o único golo do jogo frente ao Benfica, que deu três pontos importantes aos sadinos.

    Em entrevista ao zerozero, Zé Manuel falou de tudo: do seu percurso, do agradecimento a Jorge Jesus, da transição do CNS para a Primeira Liga, da passagem pelo FC Porto, dos objetivos no Santa Clara, sobre o seu futuro, entre outras coisas. 

    zerozero: Comecemos pelo início. Fazes a tua estreia na Primeira Liga ao serviço do Braga, ainda júnior, com o mister Jorge Jesus em 2009, em pleno Dragão, frente a um FC Porto já campeão, que contava com jogadores como Hulk, Lisandro López, Bruno Alves, entre outros. Como é que um jogador com a tua idade se sente num momento desses? 

    Zé Manuel: É um momento para desfrutar, com a ansiedade normal de uma estreia, mas estar ali no meio contra uma equipa com jogadores tão bons é fantástico. Estrear-me na Primeira Liga numa equipa como o Braga, com uma equipa muito forte na altura, com grandes jogadores como João Pereira, César Peixoto, Mossoró, Vandinho, Alan, Meyong, entre outros, treinada por Jorge Jesus… é um momento que guardo a vida toda.

    ZZ: Depois dessa estreia, acabas por sair emprestado durante quatro temporadas: Merelinense, durante dois anos, Vizela e Cinfães. Alguma vez sentiste durante esse período de tempo que não ias conseguir voltar aos palcos da Primeira Liga? 

    Zé Manuel: Tinha um contrato de longa duração com o Braga. Antes de me estrear, já treinava quase sempre na equipa sénior e jogava pelos juniores. As indicações que tinha era que ia ficar como quinto avançado, uma vez que o Jorge Jesus jogava com dois e gostava de ter quatro avançados mais um miúdo para crescer, como na altura tinha o Orlando Sá, mas o Jorge Jesus acabou por sair para o Benfica e eu sai sempre por empréstimo. Na altura, sai para a Segunda Divisão B, que não era vista como é agora, uma montra para os mais jovens. No início senti algumas dificuldades ‘normais’, mas mantive sempre o sonho de chegar a Primeira Liga. No ano do Vizela fiz 15 golos e tive algumas abordagens de clubes da Primeira e Segunda Liga, mas optei por renovar com o Braga e fazer o primeiro ano da equipa B, mas as coisas não correram bem. Em janeiro, não me deixaram sair para o Tondela, que estava na altura na Segunda Liga, e no último dia do mercado, já a passar das 17h, chamaram-me ao estádio e disseram-me que não contavam comigo e apresentaram-me só clubes da Segunda B. Na altura, escolhi o Cinfães porque estava a lutar para subir. Fiquei chateado na altura e, se calhar, aí foi a única altura em que tive dúvidas que iria chegar à Primeira Liga, mas queria jogar e fez-me bem sair. Gostei muito de estar lá, conheci um grupo incrível, mas também me fez bem levar esse ‘murro no estômago’ para perceber também como é o futebol.

    Reapareceu no Boavista ©Carlos Alberto Costa

    «Agradeço muito ao mister Jorge Jesus»

    ZZ: Então, no fundo, agradeces muito ao mister Jorge Jesus pela oportunidade, mas guardas alguma mágoa do Braga? 

    Zé Manuel: Agradeço muito, claro. Aprendi muito naqueles dois meses a treinar. Já no Braga tinha muito essa competência e exigência que o levou ao Benfica. Percebia-se logo que era treinador para lutar por qualquer título, é um dos melhores treinadores portugueses. Quanto ao Braga, ficam coisas boas também, pessoas que ainda hoje falo, amigos que ficaram, não ficou nenhuma mágoa, apenas experiências que nos fazem crescer. Devemos aproveitar tudo. Claro que existiram situações anormais que me magoaram, mas prefiro ficar com as coisas boas e perceber que essas situações fizeram-me crescer.

    ZZ: E depois surge o Boavista, na altura a atuar no CNS… 

    Zé Manuel: Sim, surge o Boavista que, na altura, tinha uma pessoa muito importante para mim e para a minha carreira na altura, o Rui Borges. Tinha trabalhado comigo no Vizela e ajudou-me muito no treino, a melhorar algumas coisas, porque foi um grande jogador e, na altura, vai para o Boavista para diretor desportivo. Ligou-me para contar comigo, falou-me do projeto que passava por fazer uma equipa forte no CNS para aproveitar alguns jogadores para a Primeira Liga. A decisão do tribunal saia no início do ano e quando me falou em alguns jogadores que ia buscar, senti que era um projeto bom, com bons jogadores e que iríamos ser uma equipa forte, treinada pelo Petit que tinha acabado de se retirar. Senti que ia ser um grande projeto, nem hesitei. Sabia que se fizesse uma boa época tinha a possibilidade de ficar na Primeira Liga ou aproveitar também a projeção que um clube daquela grandeza dá mesmo no CNS. Acabou por ser um grande ano. Jogávamos bem, um futebol muito fluido, com muitos golos, dava prazer jogar lá. Em qualquer estádio tínhamos sempre mais adeptos. É incrível o que aqueles adeptos gostam do clube. No final da época, tive a proposta de renovação e alguns convites de clubes da Primeira Liga, mas acabei por preferir manter-me no Boavista.

    ZZ: Não estarei errado se disser que o Boavista foi o clube mais marcante para ti, até ao momento, sem desprimor pelos restantes…

    Zé Manuel: Sim, é o clube mais marcante para mim. É um clube em que cheguei para jogar no CNS e, por vezes, sentia que jogava na Primeira Liga. Tivemos jogos fora em que, às vezes, eu sentia que o estádio não tinha condições para receber os adeptos do Boavista. Eram tantos adeptos a acompanhar-nos nos jogos fora… faziam-nos sentir especiais. Era muito grande para estar no CNS. Na Primeira Liga igual, tivemos imensos jogos que vencemos graças à força dos adeptos. É um clube especial. Só quem lá passa é que sente isso. É um clube muito grande que, com a ajuda dos adeptos, a exigência que tem sempre, acredito que chegue ao patamar que foi noutros tempos, mas sim, sem dúvida, foi o clube mais marcante para mim porque também permitiu-me fazer a minha primeira época completa na Primeira Liga.

    ZZ: Como foi a passagem do CNS para a Primeira Liga?

    Zé Manuel: Não é fácil, ainda por cima nas circunstâncias que foram. Estar na Primeira Liga no Boavista, com tantos jogadores novos, a maior parte que nunca tinha jogado na Primeira liga, mas tivemos que nos adaptar rapidamente, a um jogo mais tático. As equipa da Primeira Liga, taticamente, são todas muito forte e organizadas. Muitos jogos são decididos numa bola parada ou num rasgo individual. No CNS já não há tanto isso, os jogos são mais abertos e partidos, há jogos mais físicos, mas a intensidade na Primeira Liga é muito alta, obriga-te a estar focado sempre porque também é uma das diferenças para o CNS, um erro quase sempre dá golo porque, naturalmente, a qualidade técnica é mais alta.

    ZZ: Três temporadas no Bessa e surge o FC Porto. Como é que encaraste esse salto na tua carreira?

    Zé Manuel: Surge numa altura em que eu acabo contrato com o Boavista, quando acabou a época no CNS. Renovei por dois anos e o presidente garantiu-me que, se eu estivesse a jogar, renovava por mais tempo. Começa a época, consegui impor-me, joguei sempre e até fui o melhor marcador do Boavista na Liga. Quando volto para a pré-época, o mister Petit chama-me a mim e ao Afonso Figueiredo para dizer que transmitiu à direção que queria que nós renovássemos. Tínhamos realmente esse feedback para renovar no início dessa terceira época, mas as coisas não aconteciam. Começa a época e nada. Em janeiro, ficamos a seis meses do final de contrato e não sei se foi por estamos numa zona perigosa da tabela, as coisas não se proporcionaram. No final da temporada, apareceu essa oportunidade do FC Porto, com quatro anos de contrato, em que era emprestado no primeiro ano, mas que me davam a oportunidade de lutar por um espaço num dos maiores clubes do mundo. Decidi arriscar.

     

    Assinou em 2016 pelo FC Porto ©Global Imagens / Ivan del Val

    «Nos empréstimos nunca fiz por merecer uma oportunidade no FC Porto»

    ZZ: Foste cedido ao Vitória FC no primeiro ano e ao Wisla e Feirense no segundo. O que é faltou para te teres imposto no plantel principal do FC Porto?

    Zé Manuel: Faltou fazer uma época como a que fiz no ano passado no Santa Clara, a jogar e a marcar, se calhar ajudava, mas não penso nisso. Cresci e segui em frente, nesses empréstimos nunca fiz por merecer uma oportunidade, é a realidade, não adianta pensar muito nisso.

    ZZ: No ano seguinte tens a tua primeira experiência fora do país, ao serviço do Wisla. Fala-nos da tua aventura na Polónia. 

    Zé Manuel: Foi um bocado estranho. Gostei da cidade, do clube, das pessoas, da equipa, mas chego lá em agosto, já estava o campeonato na 5º ou 6º jornada. O campeonato aqui tinha acabado a meio de maio, cheguei lá e pensei que ia passar por um período de adaptação para ganhar índices físicos. Chego lá, entro aos 60 minutos com quatro treinos apenas, contra o Cracóvia, que era o dérbi da cidade. Entro com 0x1 para eles, golo do Piatek, que na altura jogava lá, e correu-me bem, virámos para 2x1, então comecei a jogar logo a titular e apressaram as coisas. Não me sentia nada confortável fisicamente, tinha estado dois meses e tal de ferias, chegar já com o comboio em andamento, rasguei passado uns cinco ou seis jogos. Tive um mês a recuperar e, quando volto, o treinador que me levou para lá sai e entra um polaco, então decidi sair. Em janeiro, a minha filha ainda era bebé, como estava emprestado decidi voltar, mas gostei muito de estar lá, surpreendeu-me muito. Talvez se tivesse bem fisicamente e as coisas não fossem feitas todas a pressa, ainda estaria lá, porque gostei muito.

    ©Vítor Parente / Kapta+

    «No Santa Clara encontrei uma estabilidade e uma organização que todos os jogadores precisam»

    ZZ: No final da época, e ainda com dois de contrato com o FC Porto, decides rescindir e assinas pelo Santa Clara. O que é que te aliciou para rumares aos Açores?

    Zé Manuel: Decidi mudar. Tinha mais dois anos de contrato e não queria ser emprestado, então rescindi e assinei em definitivo pelo Santa Clara. Na altura, tive algumas propostas, mas aqui no Santa Clara foi onde mostraram mais interesse em contar comigo. Precisava de voltar a ter estabilidade e aqui encontrei isso. As pessoas confiaram em mim. Era aquilo que eu precisava depois de uma época que não correu da melhor maneira. O Santa Clara tinha acabado de subir, conhecia alguns jogadores, fui bem recebido e as coisas saíram naturalmente. Foi a melhor coisa que me podia ter acontecido, encontrei uma estabilidade e uma organização que todos jogadores precisam.

    ZZ: O Santa Clara fez 42 pontos na temporada passada, que é o melhor registo de sempre do clube. Este ano já leva os mesmos pontos e ainda falta um jogo para o fim. Estás confiante em bater o recorde no jogo frente ao Vitória SC? 

    Zé Manuel: Sim, temos essa oportunidade de, no último jogo, ultrapassar os 42 pontos e queremos aproveitar. Estamos focados nesse objetivo. Queremos acabar bem o campeonato, depois de dois meses aqui em estágio, o que não é fácil. O grupo esta confiante em atingir os 45 pontos e acabar bem a época.

    ZZ: Ainda assim, apesar da boa época, a Europa ficou um pouco longe. Consideras que o Santa Clara tem condições para, no futuro, construir um projeto com dimensão europeia? 

    Manuel: É sempre difícil, mas é possível. Se continuar assim, com boas equipas, ganhar mais estabilidade na Primeira Liga, com boas equipas, acredito, mas tem sempre equipas fortes a lutar por esse objetivo, basta ver que, este ano, o Vitória SC está fora e é uma equipa fortíssima, que tem esse objetivo. Não é fácil ter a regularidade de vitórias neste campeonato para atingir esse objetivo, mas quem sabe uma época consiga. Era bonito oferecer essa prenda à região dos Açores.

    ZZ: Para além da boa época a nível coletivo, com o Santa Clara a fazer um campeonato tranquilo e a cumprir rapidamente o objetivo da manutenção, tu também atingiste um bonito recorde: melhor marcador de sempre do clube na Primeira Liga. Era algo que tinhas como objetivo pessoal?  

    Manuel: Sinceramente, nem estava a par disso quando cheguei. Só o ano passado, quando fiz o oitavo golo para o campeonato, é que me falaram que estava a dois golos do melhor marcador de sempre do Santa Clara na Primeira Liga, que era o Ceará. A partir desse momento, claro que passou a ser um objetivo bonito de alcançar. É um marco bonito. Agora tenho 12 e têm de me alcançar a mim.

    ZZ: Um dos golos mais marcantes da tua carreira foi, certamente, quando marcaste em pleno estádio da Luz, na vitória frente ao Benfica, para lá do minuto 90. Podemos considerar-te um especialista a tirar pontos ao Benfica, visto que é a segunda vez que o fazes? 

    Zé Manuel: [risos] Especialista talvez não seja a palavra certa, mas nesses jogos contra os grandes, imagino-me antes dos jogos sempre a fazer golo. Tento criar o momento na minha cabeça e a verdade é que já marquei no Vitória FC e no Santa Clara, não só ao Benfica, mas também ao Porto, Sporting, Braga… Nesses jogos grandes, acredito sempre que posso marcar e tem acontecido, mas esse golo foi especial, por ser ao minuto 95 e por ter dado a vitória num jogo em que tivemos a vencer, depois a perder na segunda parte. Conseguir a reviravolta é uma sensação muito boa, ter feito história, porque vencer no estádio da Luz é muito difícil. Muitas épocas, o Benfica fica sem perder em casa, ou quando perde é outro grande que ganha lá, porque para as equipas que tem objetivos mais baixos, é muito difícil ganhar lá. Fizemos história e foi o jogo mais marcante que tive aqui no Santa Clara, sem dúvida.

    ZZ: Em relação ao teu contrato, está a terminar. Podes adiantar algo sobre o futuro? Se há a hipótese de continuar, ou se irás sair? Se sim, tens algum tipo de preferência, seja continuar em Portugal, ou tencionas experimentar uma nova liga?

    Zé Manuel: Ainda não esta nada definido. Vou esperar agora no final do campeonato. Não sei se renovo aqui no Santa Clara, se espero alguma proposta ca em Portugal… Na minha idade, se aparecesse uma oportunidade fora daqui vou ter de analisar, porque a sair é agora com 29 anos, mas vou pensar bem no próximo passo. Foi um ano atípico, muito longo, agora acabando o campeonato, vou me reunir com a minha família e com o meu agente para ver o próximo passo com calma, mas a verdade é que ainda não decidi nada.

    Portugal
    Zé Manuel
    NomeJosé Manuel Silva Oliveira
    Nascimento/Idade1990-10-23(33 anos)
    Nacionalidade
    Portugal
    Portugal
    PosiçãoAvançado (Extremo Direito) / Avançado (2.º avançado)

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    Liga Portugal Betclic: Chaves x Rio Ave
    Liga Portugal Betclic: Rio Ave x Portimonense

    Comentários

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    motivo:
    GS
    Zé Manuel
    2020-07-23 15h45m por GSCGrandeamor
    É sem dúvida um jogador de I Liga.
    Zé Manuel
    2020-07-22 17h41m por JustaCausa
    Ao menos mostra ser realista ao dizer que não fez nada nos empréstimos
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