Nada pode continuar na mesma

«Bruno Lage podia continuar». «Em quatro dias não há muito para mudar». Duas das frases mais fortes da primeira aparição de Nélson Veríssimo como treinador principal do Benfica. Duas frases que se compreendem tendo em conta todo o contexto e todas as indefinições que o Benfica vive por estes dias, mas duas frases que não afastam uma ideia que só pode ser encarada como obrigatória na cabeça do campeão nacional: há muito, mesmo muito, para alterar no Estádio da Luz. 

E se o novo timoneiro das Águias não pode estar obrigado a dar já à equipa um outro conforto e uma outra qualidade, com e sem bola, há uma vertente em que Veríssimo deverá trabalhar e materializar o mais rápido possível. O Benfica precisa urgentemente de assentar do ponto de vista emocional, de deixar o erro para trás e de ganhar com regularidade, como um candidato ao título normal, porque o que tem acontecido nos últimos meses vai contra esse propósito e essa teórica vantagem. 

Isto porque, do ponto de vista tático, não há mesmo muita coisa que um treinador possa fazer em menos de uma semana. Por muita que seja a competência, Veríssimo deverá seguir o caminho do seu antecessor, fazendo regressar ao onze o indiscutível Rúben Dias, que tanta falta fez nos Barreiros, devido ao pouco fulgor de Jardel e ao momento negativo que vive Ferro, Gabriel, mais criativo do que Samaris, e Rafa, que não vive o melhor dos momentos mas que não tem tido em Cervi um substituto propriamente à altura. 

Ferro, desinspirado, deve regressar ao banco ©ASPRESS

Em relação ao jogo dos Barreiros, e esquecendo um possível regresso às grandes exibições que marcaram os primeiros meses de Bruno Lage, há duas coisas que têm obrigatoriamente de mudar e que poderão deixar o favorito Benfica mais perto do triunfo: a eficácia, vertente que não implica uma mudança de protagonistas, antes um outro chip emocional na abordagem aos lances, e a transição defensiva, momento que tem deixado o campeão nacional exposto e fragilizado como poucas vezes se viu na história recente. 

E, no meio desta crise profunda de um dos maiores clubes portugueses, o que é que pode fazer o Boavista de Daniel Ramos? Desde já, o triunfo contra o Santa Clara poderá ter aqui um papel importante. Os três pontos amealhados deixaram as Panteras ainda mais confortáveis e a ausência de pressão pode ser um trunfo importante no Estádio da Luz, especialmente porque do outro lado o estado de espírito é totalmente oposto. 

Em relação ao passado recente, no que a visitar grandes diz respeito, há também variantes que devem mudar no jogo axadrezado. O segredo poderá passar pela primeira parte do Estádio do Dragão, onde o Boavista foi uma equipa organizada sem bola e capaz de travar o poderio e o favoritismo do rival da cidade. Na Luz espera-se que essa fiabilidade dure os 90 minutos, se possível com outra capacidade para a transição e com outro protagonismo para Bueno, o mais criativo de todo o plantel. 

O novo técnico fazia parte da equipa técnica anterior. As ideias eram partilhadas por aquele que saiu e por aquele que agora assume o lugar. Não há reforços, nem revoluções à vista. Mas, para o ainda campeão nacional em título, tem mesmo tudo de mudar. Até para a luta pela Champions, que não está matematicamente fechada.